«Contou ainda a seguinte parábola para alguns que presumiam ser justos e desprezavam os outros: “Dois homens subiram ao templo para rezar: um era fariseu e o outro cobrador de impostos. O fariseu, de pé, rezava interiormente desta maneira: ‘Meu Deus, eu te dou graças por não ser como os demais homens, ladrões, injustos, adúlteros; nem como este cobrador de impostos. Jejuo duas vezes por semana e pago o dízimo de todas as minhas rendas’. Mas o cobrador de impostos mantinha-se longe e nem se atrevia a levantar os olhos para o céu, mas batia no peito dizendo: ‘Meu Deus, sejas benigno para comigo, pois que sou pecador!’. Eu vos digo: este desceu para casa justificado, ao contrário do outro. Porque quem se exalta será humilhado e quem se humilha será exaltado”». (Lc. 18, 9-14)
A parábola reflete sobre a dimensão de oração. É bem possível que Jesus tenha assistido à cena narrada.
A ORAÇÃO é essencial para a vida de fé porque é uma relação dialogada, amorosa, confiante e renovada a cada momento que o homem busca Deus. A oração É UM REFLEXO da nossa relação com Deus. Quando não há oração, a fé não passa de uma crença, de uma ideologia, de um sistema espiritualista, social ou moralista onde a religião é tudo menos que relação com DEUS. Em quantas MOMENTOS DA VIDA vimos a religião ser usada por motivações disfarçadas com a palavra “fé”! Quantas atrocidades se dizem sobre Deus!
É claro que muitos sabem falar sobre Deus mas, até´ que ponto é somente a projeção do nosso “eu”? Somente uma relação que brota de uma oração autêntica, pode garantir que as palavras sejam carregadas de graça que produz em nós e nos outros um encontro com Deus.
Falar de Deus aos outros não significa nada se nós mesmos não falarmos com Deus. Existe uma grande diferença entre dizer palavras encantadoras sobre Deus e palavras impregnadas de Deus! Umas alcançam apenas a mente. As outras o coração.
O Templo era o símbolo de Israel, mas também recinto de encontro de pessoas. A narração de Lucas começa assim: «Dois homens subiram ao templo para rezar »; é sugestivo também recordar o profeta Isaías que preconiza as promessas messiânicas como uma “subida rumo à casa do Senhor”: «Muitas nações dirão: “Vinde, subamos ao monte do Senhor e à casa do Deus de Jacó, para que nos ensine os seus caminhos”» (Is. 2,3). O Templo, então é lugar do encontro do homem à procura de Deus.
Na nossa leitura de Lucas, dois homens de diferente camada social e com diferente caminho espiritual “subiram para rezar”: a meta dos dois era a mesma: rezar para o encontro pessoal dom DEUS. Isso talvez nos indique que não podemos limitar o nosso relacionamento com Deus apenas em participar das celebrações públicas, aos ritos que não preenchem mais a nossa necessidade de encontro autêntico Com Deus.
A atitude dos dois personagens nos sugere mais um aspecto da oração. Trata-se de uma atitude que é anterior às palavras, as precede: oração é, antes de tudo, estar na presença de Deus. Deixando-se penetrar pela verdade. A decisão de colocar-se diante de Deus, é já o primeiro ato de oração.
O fariseu e o publicano, ambos, deram o passo certo, mas algo separou os dois caminhos e, consequentemente o julgamento de Deus. O fariseu não podia admitir que todos os seus esforços para ser conforme ao desejo de Deus fossem menosprezados; não podia admitir que tudo o que tinha feito, dia após dia, fielmente, pudesse valer diante de Deus tanto quanto a vida de um publicano que não havia seguido as coisas de Deus em sua vida. Sua certeza de fidelidade o fez “recordar” a Deus que era “justo”. Deste modo, ao invés de apresentar-se diante de Deus com a alegria, o fariseu se apresentou com a sua certeza.
E dessa forma não podia sentir o que se passa no coração de um homem humilde que sequer consegue «olhar para Deus» num momento de oração. O fariseu não podia entender o que se passa dentro de alguém dolorido pelo pecado que só lhe resta dizer a Deus: «Meu Deus, seja benigno para comigo».
Como nós, em tantos momentos de nossa vida, quando percebemos que todos os recursos estão esgotados, os esforços foram inúteis, quando não há mais nada a fazer a não ser pedir: «Meu Deus, olha para mim…».
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