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Voz e vez da profecia (Chico Machado)

Quinta feira da Vigésima Primeira Semana do Tempo Comum. Agosto vai se despedindo. Setembro já se apresenta no horizonte de nossas perspectivas. Se no dia de ontem nos lembramos e fizemos a memória do bispo de Hipona, hoje é a vez de celebramos a Solenidade de João Batista. Este santo é festejado pelo menos duas vezes na liturgia católica: dia 24 de junho, Festa da Natividade e no dia 29 de agosto, dia de seu martírio. Importante lembrar que João é tido como o primeiro mártir da História da Igreja. Segundo os Evangelhos, o profeta denunciou a vida adúltera do Tetrarca Herodes Antipas. O monarca havia se envolvido com sua ex-cunhada, Herodíades. Desta forma, Herodes, então, ordenou a prisão de João, que morreu decapitado na cela, no dia 29 de agosto.

Etimologicamente, o nome João é de origem hebraica e possui um significado bastante simbólico, sendo traduzido como: “Deus é gracioso”, “agraciado por Deus” ou “Deus tem piedade”. Depois de Jesus, João é a pessoa de quem mais se escreveu ao longo de todo o Novo Testamento. Segundo a tradição cristã, João é associado a João Batista, o profeta que teve a missão de batizar Jesus de Nazaré. Ele é o precursor, ou seja, aquele que vem na frente, preparando e anunciando a vinda, a chegada do Messias, o Verbo de Deus Encarnado na pessoa do Filho de Deus. João é o último profeta, vindo assim fechar o ciclo do Antigo Testamento, abrindo as portas com Jesus, cumprindo as promessas de Deus, com a Nova Aliança: Deus que se faz um de nós conosco. “Dentre os nascidos de mulher não há um ser humano maior do que João. Todavia, o menor no Reino de Deus é maior do que ele”. (Lc 7,28)”

Primo de Jesus, João Batista nasceu 6 meses antes do Galileu. Foi escolhido por Deus para ser profeta, antes de nascer, nos fazendo recordar do profeta Jeremias: “Antes de formar você no ventre de sua mãe, eu o conheci; antes que você fosse dado à luz, eu o consagrei, para fazer de você profeta das nações”. (Jr 1,5) João é um “dom de Deus”. Nasce no seio de uma família de pais envelhecidos, cuja mãe era tida como estéril. Mas, “para Deus nada é impossível!” (Lc 1,37) O nascimento do profeta é obra da intervenção de Deus na vida do casal Isabel e Zacarias. João tinha a consciência clara de que ele não era “a salvação”. Ele veio, apenas, dirigir o olhar da humanidade para Jesus de Nazaré, preparando assim o coração das pessoas para acolher “a salvação” que estava para chegar.

João levava uma vida radicalmente austera, como um eremita no deserto. Viveu a sua missão profética de forma radical. Seu despojamento, sua entrega total à missão, sua coragem ao enfrentar os poderosos, e sua capacidade de dar a vida para defender a verdade, fez deste profeta uma das pessoas mais admiradas de toda a história do cristianismo. Não foi à toa que ele foi decapitado, e sua cabeça oferecida em uma bandeja, no banquete dos poderosos, satisfazendo os caprichos e desejos narcisistas da elite burguesa da época. Sua importância é tamanha que João foi o único profeta que conheceu Jesus em seu tempo terreno, convivendo com Ele, batizando-o, inclusive, nas águas do rio Jordão. Todavia, em momento algum ele quis assumir para si o lugar do Messias. Ao contrário, colocou-se no lugar devido: “Depois de mim, vai chegar alguém mais forte do que eu. E eu não sou digno sequer de me abaixar para desamarrar as suas sandálias”. (Mc 1,7) Ele anuncia a vinda do Messias, que vai provocar uma grande transformação.

João Batista é o maior dos profetas de toda a história do povo de Israel, porque reconheceu e preparou os caminhos do Messias. Toda sua vida foi dedicada a esta missão. Permaneceu fiel até a morte. Não calou a sua voz diante das injustiças. Aceitando a sua missão, João nada reivindicou para si. Viveu numa total humildade, sabendo-se cumpridor da vontade de Deus. “Ninguém tem maior amor do que aquele que dá a sua vida pelos seus amigos”. (Jo 15,13) Viveu intensamente este amor que tem a sua fonte em Deus. Seu jeito simples de viver tornou-se, assim, para nós, um exemplo para a nossa caminhada de fé, no seguimento de Jesus, para que deixemo-nos, também, Jesus crescer em nós. Que essa seja também a nossa alegria. Que possamos também viver pensando nas palavras ditas por Josué: “Seja forte e corajoso! Não tenha medo nem desanime, pois o Senhor, seu Deus, estará com você por onde você andar”. (Jos 1,9) Os que não aceitam a transformação da realidade injusta e desigual, matam os profetas. Nós matamos os nossos sonhos e esperanças, quando não permitimos que voz da profecia fale através de nós e das nossas ações.

O nome “João”, como vimos, quer dizer “Deus tem piedade”. Todos os nomes bíblicos tinham um significado e estavam intimamente ligados à missão que exerceria e ao tronco familiar. Os pais de João sabiam que, ao escolherem este nome para o menino, ele traria em si a proteção divina de Deus e que Deus agiria nele e através dele. Tudo isto define um quadro de intervenção e de presença de Deus, mostrando que toda a existência de João se compreende à luz da iniciativa divina. Diante deste contexto, poderíamos nos perguntar: de quem partiu a iniciativa do nosso nome? Qual é o significado do meu nome, e qual é a missão que ele indica? Tendo clara esta compreensão, fazemos por merecer o nome que carregamos ao longo da nossa vida? Nosso nome está escrito no livro da vida de Deus. Deixemo-nos ser levados pela graça divina d’Ele, que nos criou e pensou em nós, muito antes de pulsar o nosso coração no ventre de nossa mãe. “Guardemos firmes a confissão da esperança, sem vacilar, pois quem fez a promessa é fiel”. (Heb 10,23) Viva São João Batista! Viva o precursor! Viva a voz da profecia que não se cala!

Luiz Cassio

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