Sexta feira da Décima Quarta Semana do Tempo Comum. Estamos chegando a mais um final de semana deste segundo semestre. A vida pede passagem e este é o nosso maior desafio: viver na intensidade e totalidade para a qual Deus nos criou. Viver de forma feliz, como nos aconselha o Livro do Eclesiastes: “Aconselho que desfrute o melhor que a vida pode proporcionar, pois debaixo do sol não existe nada mais feliz para o ser humano do que simplesmente: comer, beber e alegrar-se. Essa é a felicidade que nos ajudará a superar os dias difíceis de trabalho durante todo o tempo de vida que Deus nos conceder debaixo do sol!” (Ecle 6,15)
Ser feliz é tudo o que se quer! Este é o desejo do ser humano, na convivência com os seus. A vida é o dom maior que Deus nos concedeu. Ela é um presente de Deus. É Ele quem dá sentido para os seres humanos e todos os demais seres vivos. Em toda a criação, há um pouco de Deus e Ele está presente em todos. A criação inteira possui o selo originário de Deus. O ponto mais alto da criação é a humanidade: homem e mulher, ambos criados à imagem e semelhança de Deus: “E Deus criou o homem à sua imagem; à imagem de Deus Ele o criou; e os criou homem e mulher”. (Gn 1,7) Assim, a humanidade é chamada a construir e a transformar o universo, participando da obra da criação como co-criadores que devemos ser.
Rezei nesta manhã, ainda na penumbra da noite se fazendo dia, às margens do Araguaia. Fiquei de prontidão aguardando a chegada dos primeiros raios solares. Contemplei Deus em mais uma de suas obras, através da belíssima imagem, vendo o Sol nascer no Tocantins. Privilegio de poucos, morar no Mato Grosso e ver o Astro Rei brotar de dentro da Ilha do Bananal. Todo amanhecer é um recomeço. O Sol engravidando o dia, trazendo-nos novos desafios e enfrentamentos. Muitas oportunidades para fazer diferente o que ontem não fizemos. Escrever mais uma página de nossa história com as nossas letras e de próprio punho. Conclui a minha estada oracional naquele êxtase de um amanhecer apocalíptico, relembrando a estrofe de um dos poemas de nosso bispo Pedro: “A fé, que é noite escura; a pequena esperança, tão tenaz; e ele, o Amor, que é o maior. Um dia, para sempre, para lá da noite e da espera, será só o Amor”. (“Hino ao Amor”, de Pedro Casaldáliga – Parte 2)
Relembrando que estamos nestes dias refletindo com o Evangelho de Mateus, que no dia de hoje, nos traz mais uma parte do “Discurso da Missão”, ou o “sermão da Missão”. Jesus que institui os apóstolos e os envia em missão. O trecho de hoje acontece logo após Jesus ter se compadecido ao ver a multidão cansada e abatida como ovelhas sem pastor. Ao enviar os seus, Jesus lhes dá autoridade para curar as enfermidades, purificar leprosos, expulsar demônios. Estes eram sinais da concretização do Reino que Ele anunciava e que seus discípulos devem dar continuidade.
Vocação: missão, vida! Jesus adverte os seus discípulos de que a missão não será nada fácil, já que eles encontrarão resistência. Também os profetas do Antigo Testamento encontraram resistência e adversidades na sua missão de falar em nome de Deus. Isaías, um destes profetas se colocou nas mãos de Deus para que se cumprisse a vontade d’Ele: “Ouvi, então, a voz do Senhor que dizia: ‘Quem é que vou enviar? Quem irá de nossa parte?’ Eu respondi: ‘Aqui estou. Envia-me!’» (Is 6,8) O relato da vocação de Isaías mostra que o centro de toda e qualquer vocação profética está no experimentar a transcendência de Deus e interpretar o sinais da história. A segurança com que o profeta se sente porta-voz de Deus provém do reconhecimento de que o Senhor é o único Absoluto.
“Eis que eu vos envio como ovelhas no meio de lobos”. (Mt 10,16) Os discípulos terão o mesmo destino de Jesus: sofrer as consequências da missão que liberta e dá vida nova. Essa missão atingirá os interesses de muitos, contrários à proposta do Reino e, por isso, provocará a perseguição, a divisão e o ódio, até mesmo dentro das famílias. Muitas vezes poderá levar para a condenação nos tribunais. A missão, porém, é dirigida pelo Espírito de Deus. Por isso, os discípulos perseveram até o fim, sem temor nem aflição, seguros da plena manifestação de Jesus, Senhor da história. Se somos discípulos/as de Jesus, é nossa missão anunciar o Reino e denunciar todas as formas de anti-Reino, fazendo nossas as palavras de Santo Oscar Romero: “Em um país de injustiças, se a Igreja não é perseguida, é porque é conivente com a injustiça”.
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