Dia Nacional da

Consciência Negra.

Francisco (Chico) Machado. Escritor e Missionário.

Este dia é celebrado no Brasil desde 2003, quando foi criado o “Dia Nacional da Consciência Negra”, que é celebrado, no dia 20 de novembro. Este dia foi criado em 2003, e introduzido em âmbito nacional a partir da lei nº 12 519, de 10 de novembro de 2011, tornando assim um feriado em muitas das cidades brasileiras. Muitas daquelas cidades que não aderiram, fazendo acontecer este dia como um feriado, demonstram claramente o racismo que ainda está presente em muitos do nosso povo, inclusive em alguns governantes.

No dia de hoje há 40 anos, foi celebrada em Recife (PE), em 1981, a primeira “Missa dos Quilombos”. Cerca de 8 mil pessoas se reuniram para celebrar este momento histórico, tendo como principais celebrantes os bispos Dom Hélder Câmara, Dom José Maria Pires e o nosso bispo Pedro, dentre muitos outros sacerdotes brancos e negros. Um marco histórico significativo para a história do povo negro, pois foi um grito de denúncia profética, às mazelas sofridas pelo povo negro ao longo da história. Uma denúncia feita também à própria Igreja Católica, como fez questão de frisar a fala de Dom Jose Maria Pires: “No passado, ela (a Igreja) não se mostrou suficientemente solidária com as causas dos escravos. Não condenou a escravidão do negro. Não denunciou as torturas de escravos. Não amaldiçoou o Pelourinho. Não abençoou os Quilombos. A igreja não estava com os negros”.

https://www.youtube.com/watch?v=m54XU3v9MjI

A “Missa dos Quilombos”, foi uma proposta idealizada por Dom Helder Câmara com a criação artística efetivamente escrita e produzida por Pedro Casaldáliga, e pelo poeta Pedro Tierra, com a participação decisiva do cantor e compositor mineiro Milton Nascimento, que compôs a melodia. Assim que a mesma foi editada no formato fonográfico Long Play (LP), o Vaticano, na pessoa do Papa João Paulo II, tratou de proibi-la, no intuito de segundo ele, impedir a politização das cerimônias religiosas, em um momento em que a Igreja latino-americana, vivia no auge da Teologia da Libertação. Se bem que o próprio Dom Hélder Câmara, já havia previsto no trecho que recita a sua Invocação à Mariama: “Claro que dirão, Mariama, que é política, que é subversão, que é comunismo. É Evangelho de Cristo, Mariama”.

A Igreja tem uma dívida histórica para com os povos negros e também com os povos indígenas. Esta foi uma das constatações a que chegou, por ocasião dos “500 anos de Descobrimento”, comemorado no ano 2000. Uma história de conivência com o massacre de negros e indígenas em nossas terras. Uma história mal contada e que ainda faz parte de nossa herança colonial perversa, pois continuamos ainda reproduzindo nos dias atuais, a forma de pensar do colonizador, introjetada em muitas de nossas consciências. Uma falha que ainda não foi corrigida pelos nossos Livros Didáticos, ajudando ainda mais a manter os nossos alunos, numa visão elitista e eurocêntrica do processo de escravização do povo negro.

Dom José Maria Pires, o nosso Dom Zumbi, como gostava de ser chamado, foi muito enfático em uma de suas falas, por ocasião da celebração da Missa dos Quilombos. Dizia ele: “No passado, ela (a Igreja Católica) não se mostrou suficientemente solidária com as causas dos escravos. Não condenou a escravidão do negro. Não denunciou as torturas de escravos. Não amaldiçoou o Pelourinho. Não abençoou os Quilombos. A igreja não estava com os negros”. É esta a constatação a que chegaram as consciências mais lúcidas e comprometidas com o processo de libertação do povo negro e dos indígenas em nosso Continente. Pedro nos dizia que haveria a necessidade de “se fazer a descolonização e a desevangelização do Brasil”.

Uma história que ainda se faz presente nos mesmos moldes da escravização dos negros como no Período Colonial. Mudaram-se os formatos, mas o estigma e o preconceito são os mesmos. O grande historiador e teólogo Eduardo Hoornaert, em um de seus artigos sobre a Missa dos Quilombos, dizia em 1982: “Quilombo no Brasil é atualidade, não passado. Pois os bairros populares das grandes metrópoles brasileiras são, na verdade, quilombos, onde os negros se sentem em casa (quilombo ou mocambo significa casa). O mundo do trabalho é adverso ao trabalhador, o mundo do bairro lhe é familiar”. No seu “mea-culpa”, ou seja, na sua confissão da própria culpa, a Igreja deveria assumir para si aquilo que fora dito por Dom Zumbi: “Se a Igreja da época houvesse marcado presença mais nas Senzalas que na Casa Grande; mais nos Quilombos do que nas Cortes, outros teriam sido os rumos da História do Brasil nos seus primórdios; outras teriam sido a contribuição do negro ao nosso desenvolvimento”. Viva a Nação Zumbi! Axé! Que os Orixás nos libertem de tanto preconceito e discriminação.