Sexta feira da Vigésima Primeira Semana do Tempo Comum. O mês de agosto indo embora sextando. Amanhã nos despedimos dele. Por aqui, a natureza se vestindo de amarelo, roxo e rosa, com os Ipês, dando o tom da próxima estação. Difícil saber qual deles é o mais bonito. Uma vivacidade em formato de cores naturais, mostrando-nos o bom gosto de Deus, com as suas multicores variadas. Dizem que eles, os ipês, só liberam as suas flores, depois de livrarem-se de todas as suas folhas. Desnudos de folhas, mas revestidos com as cores do arco íris, com as abelhas saboreando o néctar das flores, na feitura do doce mel que produzem. A natureza provando-nos que tudo está interligado.
30 de agosto. Dia Nacional do Perdão. Embora o ato de perdoar seja uma tarefa para todos os dias, certo governo brasileiro, achou no dever de sancionar em 2017 um Projeto de Lei, aprovado pela Câmara dos Deputados no ano anterior. Para quem sabe amar, o dia para se perdoar é todo dia! Prefiro ficar com as palavras ditas pelo Papa Francisco, na Praça de São Pedro, no dia 21 de setembro de 2016: “perdoar é o primeiro pilar que sustenta a comunidade cristã. O segundo é doar-se. Estar disposto a doar-se obedece a uma lógica coerente: na medida em que se recebe de Deus, se doa ao irmão, e na medida em que se doa ao irmão, se recebe de Deus”. É perdoando que se é perdoado!
O pedagogo Pernambucano e maior educador brasileiro, que no dia 19 próximo, estaria completando 103 anos, nos ensinou a arte de esperançar com vivacidade. Esperançando não como alguém que, pacientemente, aguarda o momento para sair do casulo, em busca de uma esperança que se acredita distante, mas no esperançar de quem vai à luta, e faz acontecer os momentos de esperançamento, no aqui e agora da história. Ser educador de verdade é trazer na mente e no coração este esperançar, fazendo acontecer o processo do educar consciente e libertador entre “aprendentes” e “ensinantes”. Como o mestre mesmo nos dizia: “Esperançar é se levantar, esperançar é ir atrás, esperançar é construir, esperançar é não desistir! Esperançar é levar adiante, esperançar é juntar-se com outros para fazer de outro modo”.
Vigilância no esperançamento! São estas duas palavras-chave que nos ajudam a entender o texto litúrgico proposto para a nossa reflexão nesta sexta feira. Jesus, através da narrativa do evangelista Mateus, mostrando-nos qual deve ser a conduta daquele e daquela que se põem a caminhar com Ele, na perspectiva do Reino de Deus.
O texto mateano de hoje, se ocupa com Jesus fazendo o seu “discurso escatológico”, tratando o tema da segunda vinda de Cristo, cujo momento todos desconhecemos, por isso nos chama a tenção para o estar vigilantes e prontos: “Vigiai, porque não sabeis o dia nem a hora” (Mt 25,13).
A escatologia é um ramo da teologia que estuda o futuro do ser humano, seja individualmente, com a morte de todos nós, ou mesmo coletivamente, quando “ocorrerá o fim dos tempos”. Aqui me recordo dos bons tempos de estudos de teologia, sobretudo lendo o teólogo alemão Jürgen Moltmann (1926-2024), falecido em junho passado que, ao tratar da escatologia dizia: “ela engloba acontecimentos sobre o mundo, a história e a humanidade, que irromperiam no fim dos tempos. Entre esses acontecimentos, estão a segunda vinda de Cristo em glória, o juízo final e o estado final de todas as coisas. No aspecto individual, o foco são os seres humanos. Os temas correlatos são: morte física, imortalidade da alma, estado intermediário e ressurreição do corpo”.
Como vemos, uma temática complexa, mas sumamente importante, quando Jesus, por meio de uma parábola, nos descreve quais devem ser as atitudes e as condutas de todos nós que esperamos por esta feliz hora do encontro pessoal com o Senhor. Em sã consciência, nenhum de nós deseja morrer, mas todos ansiamos pelo encontro com o Deus que nos criou. Na parábola contada por Jesus, Ele nos faz entender que o noivo, no caso, é Ele, que virá no fim da história. As virgens representam todas as comunidades cristãs, que devem sempre estar vigilantes e preparadas, para o encontro com o Senhor, mediante a prática da justiça (o óleo). Vigilância embasada no esperançamento de quem faz a hora e não espera acontecer. Como as “virgens prudentes” da parábola, devemos estar todos e todas preparados/as, à espera do noivo (o Cristo Ressuscitado). “No meio da noite, ouviu-se um grito: O noivo está chegando. Ide ao seu encontro!” (Mt 25,6) Certamente, os que tiverem apagado o amor de seus corações, e afastados da prática da justiça, serão pegos de surpresa e perderão a chance de com Ele entrar para a gloria definitiva. Amor, justiça e paz esperançando com o sonho de Deus. O contrário disto é aquilo que nos alerta o escritor e teólogo Caio Fábio: “O caminho mais curto para o inferno é a paixão pelos dogmas”.
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