Sexta feira da Oitava do Natal. Sextou pela última vez no ano. Em clima ainda de Natal do Senhor, dezembro vai aos poucos, se despedindo de nós. Imbuídos do esperançar do sonho de Deus, este é o momento para avaliarmos os dias que se passaram até aqui, e projetarmos novas perspectivas para o novo ano que vem ao nosso encontro. Ver o que de bom fomos capazes de edificar, para que possamos fazer mais e melhor, com vistas ao novo mundo que queremos para nós. A luta continua, e os desafios também. Ser a melhor versão que podemos dar de nós mesmos, eis um dos desafios que apontam no horizonte do campo visual de nosso coração.
Uma sexta feira de festa. Celebramos nesta data, o Dia de São João, Apóstolo e evangelista. João, foi um dos apóstolos de Jesus, que o acompanhou fielmente nos vários momentos, desde o batismo à prisão e crucificação. É, segundo os estudiosos exegetas, o apóstolo preferido de Jesus, encarregando-o de tomar conta de Maria, sua Mãe, antes de morrer. É considerado o mais novo dos doze apóstolos. Irmão de Tiago, trabalhou como pescador até ser batizado por São João Batista e de seguir os passos de Jesus.
João viajou muito, levando adiante a mensagem da Boa Nova do Evangelho. É atribuído à ele a escrita de três cartas, um Evangelho e o livro do Apocalipse. Teria falecido em Éfeso, de causas naturais, com aproximadamente 94 anos, por volta do ano 103 d.C. O Evangelho escrito por ele não faz parte dos Evangelhos Sinóticos, mas carrega em si uma densidade teológica ímpar. Ali, encontramos apenas sete “milagres”, que são chamados “sinais”, e alguns discursos que se desenvolvem, repetindo sempre os mesmos temas-chave.
Rezei nesta manhã neste clima joanino, refletindo a proximidade deste amigo de Jesus, e sua lealdade ao projeto do Reino. Meu coração já está no ritmo de despedida. Depois de uma semana, ardentemente celebrada com meus manos queridos, sobrinhos/as, amigos/as em geral, já é hora de enfrentar as estradas, rumo ao Curso de Verão, em São Paulo. Reacender a esperança e as utopias da caminhada, para continuar pisando no chão de terra batida da estrada. Em situações assim, anos atrás, ouvia de Pedro, “nunca se esqueça das quatro palavras fundamentais: fé, esperança de quem vai e faz, resistência teimosa e as utopias do Reino “. Nosso bispo, com seu jeito poético/profético, ao falar das causas do Reino.
Em clima de Natal, alguém até poderia estranhar que a liturgia de hoje proponha um texto relacionado à Ressurreição de Jesus. A ideia primeira, é fazer-nos refletir sobre a vida do “discípulo amado”. Ele, que não mediu esforços para estar ao lado de seu Mestre, seja nas horas alegres, seja nos momentos de dor no calvário: “vendo ali sua mãe, e o discípulo a quem ele amava, disse a sua mãe: Mulher, eis aí o teu filho. Depois disse ao discípulo: Eis aí tua mãe. E desde aquela hora o discípulo a recebeu em sua casa”. (Jo 19,26-27) Nesta relação mãe-filho, o texto nos mostra a unidade e continuação do povo de Deus, fiel à promessa e herdeiro da sua realização.
O contexto deste evangelho joanino, nos coloca frente a frente com as testemunhas-chaves da Ressurreição de Jesus. Lembrando mais uma vez que, são as mulheres que tomam a iniciativa. Num clima de temor, morte e perseguição, são elas que se revestem de coragem, se tornando protagonistas do primeiro encontro com o Ressuscitado. Não é à toa que Jesus faz questão de promover a sua primeira aparição à uma delas.
“Ele viu, e acreditou” (Jo 20,8). A conclusão do texto de hoje faz referência ao evangelista São João. Ele não titubeou, viu e acreditou que, de fato, Jesus havia ressuscitado, como dissera. É importante salientar que, a fé na Ressurreição tem dois aspectos. O primeiro é negativo para aqueles que o mataram: Jesus está vivo! Ele não está morto! Isto significa que a morte não tem a última palavra, mas a vida que está em Deus, como Senhor da história. O sepulcro vazio mostra que Jesus não ficou prisioneiro da morte. O segundo aspecto e mais importante, como fator positivo é o da Ressurreição: Jesus está vivo, e o discípulo que o ama intui essa realidade acreditando e preenchendo o seu coração de esperança. Ver e acreditar que a morte não tem a última palavra, pois Deus nos criou para a plenitude da vida. Você crê nisso? “Não se pode acreditar que é possível ser feliz procurando a infelicidade alheia”. (Sêneca)
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