Uma nova chance, por Chico Machado.

Sábado da vigésima nona semana do tempo comum.

Francisco (Chico) Machado. Missionário e escritor.

Felizmente um sábado diferente aqui pelas bandas da Prelazia de São Félix do Araguaia. O céu tratou de regar a terra com a chuva farta, mansa e intermitente que caiu por boa parte da noite, propiciando um clima de frescor neste amanhecer. Acordei cedo, mas deixei os meus visitantes tomarem conta do meu quintal sem a minha presença, já que fui rezar na companhia de Pedro, no descanso eterno de seu corpo frágil a beira do Araguaia. Sentado ali num daqueles tocos de mangueira, salmodiei o dia cantarolando Lenine (Paciência), com a ajuda do celular: “Mesmo quando tudo pede um pouco mais de calma. Até quando o corpo pede um pouco mais de alma. Eu sei, a vida não para. A vida não para …
[09:53, 23/10/2022] Francisco Machado: A oração que agrada a Deus
(Chico Machado)

Trigésimo domingo do tempo comum. Estando findando o mês missionário, a Igreja Católica reserva este domingo para o Dia Mundial das Missões. É de praxe acontecer que no penúltimo domingo de outubro, se comemora como o Dia das Missões. Um domingo de oração e de evangelização dos povos, no intuito de incentivar a cooperação missionária pelo mundo e agradecer a grande contribuição dos missionários e missionárias, espalhados pelo mundo na construção de outro mundo possível, mais justo, fraterno, digno e gratificante, onde todos tenham aquilo que precisam para viver com dignidade de filhos e filhas de Deus. Lembrando que esta data foi criada pelo Papa Pio XI, em 1926.

Todo dia é dia de oração! Toda hora é hora de rezar! O dia de hoje é especial. Oração que é o encontro pessoal e comunitário com Deus. Momento para estar a sós com Ele e dialogar de maneira direta, franca e sincera, numa relação de comunhão: Pai e filho. Ele que nos conhece profundamente, sabe de tudo o que necessitamos, mas quer que nos apresentemos a Ele em forma de oração. Nosso maior modelo e referência de oração é o próprio Jesus. Ele rezava sempre, sobretudo nos momentos de suas maiores decisões. Na oração não há espaço para a falsidade, hipocrisia e soberba. Deus exige do ser orante, humildade, sinceridade, consciência do ser limitado que somos e o entendimento acerca da grandeza e da amorosidade de Deus. Na nossa relação filial com Deus, manifestamos quem realmente nós somos. Ser o que se é, nem mais, nem menos.

Os dias são difíceis. A hora escura da noite das trevas se faz presente no meio de nós. Os valores foram invertidos e as pessoas se manifestam com os motivos mais torpes, revelando as suas entranhas cavernosas e obscuras. Os ataques enfurecidos se sucedem numa proporção assustadora, fazendo corar de vergonha os fariseus do tempo de Jesus. Até mesmo a autoridade máxima dos católicos, tem experimentado da força desproporcional das “pessoas de bem”. No domingo passado (16), por exemplo, o Sumo Pontífice foi atacado por causa de uma de suas postagens em que assim se manifesta: “Deus Todo-Poderoso abençoe abundantemente aqueles que dividem o pão com os famintos”. O “comunista” de Roma fazendo valer aquilo que está no Evangelho. Simples assim!

A grande temática deste domingo é a oração. Não de qualquer oração, mas a oração que agrada a Deus. Um Deus que se manifesta sempre do lado dos pobres, pequenos e marginalizados. Foi assim desde os tempos mais antigos. Isaías que profetizou em Judá entre os séculos 8 e 7 a.C., assim dizia acerca do jejum que agradava a Deus: “O jejum que eu quero é este: acabar com as prisões injustas, desfazer as correntes do jugo, pôr em liberdade os oprimidos e despedaçar qualquer jugo; repartir a comida com quem passa fome, hospedar em sua casa os pobres sem abrigo, vestir aquele que se encontra nu, e não se fechar à sua própria gente”. (Is 58,5-7) O profeta fala do jejum, mas bem que poderíamos estar falando sobre a oração com este mesmo texto.

Oração que a liturgia deste domingo nos faz refletir. Mais uma vez, nos ensinamentos de Jesus aos seus, Ele fala de como deve ser a nossa oração, se quisermos estar em sintonia com o Projeto do Pai. Para isto Ele conta uma das parábolas mais conhecidas de todos nós: a parábola do fariseu e o publicano. Duas formas distintas de se rezar. Dois jeitos de encarar a experiência de fé. Dois modos de ser e de comportar diante de Deus. O fariseu mostrando a sua mesquinhez, todo arrogante na sua prepotência e auto-suficiência, se achando o máximo, julgando e desprezando o outro diferente de si; de outro a humildade do publicano (cobrador de impostos) que, à distância reconhecia sua limitação e pequenez diante da grandeza do Deus da vida. E Jesus conclui: “Este último voltou para casa justificado, o outro não. Pois quem se eleva será humilhado, e quem se humilha será elevado”. (Lc 18, 14)

Pedro Dias

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