Segunda feira da Sexta Semana do Tempo Comum. Depois de um domingo, em que mergulhamos profundo, na vida de nosso eterno bispo, poeta e profeta do Araguaia, iniciamos a semana movidos pela esperança mística/profética dos Mártires da Caminhada. Minha manhã de segunda feira acontecendo dentro do ônibus que levará a São Félix, passando exatamente pela cidade de Ribeirão Cascalheira, onde está localizado e encrustado o nosso Santuário dos Mártires da Caminhada. Aproveitei para rezar, trazendo na memória as tantas Romarias que aqui realizamos, sendo que numa das últimas delas, Pedro profetizou: “Na próxima, vou acompanhar lá de cima”.

Uma semana que se inicia e que posso dizer que cumpri a minha missão/tarefa de representar a categoria dos educadores e educadoras, dando o melhor de mim. Aos 68 anos e aposentado como profissional da educação, sinto que ainda tenho energia suficiente para continuar na luta, mesmo sabendo que os mais novos fugiram dela, e não acreditam na força da união para lutar pelos seus direitos, diuturnamente negados pelos governantes de plantão. Quem não luta pelos seus direitos, não é merecedor deles.

Nas terras das Romarias da Prelazia, Casaldáliga tem tudo a ver com esta minha atitude de entrega na luta. Cansado estou e, a saúde, já não é mais a mesma dos tempos de outrora. Entretanto, o espírito profético, que sempre acompanhou a mística de Pedro, respinga em todos aqueles e aquelas que tiveram o privilégio de passar pela Prelazia deste destemido guerrilheiro das causas do Reino, e fazer a experiência do trabalho lado a lado com ele, que sempre nos dizia: “Minhas causas valem mais que a minha vida”. É daí que encontro forças para ainda continuar na luta, por outro mundo possível.

Confesso que não é de todo fácil, como não foi fácil também para Jesus. Nos três versículos que a Liturgia hoje traz para a nossa reflexão, o evangelista Marcos relata, os eternos fariseus, exigindo de Jesus um sinal do céu, para que pudessem acreditar que Ele era, de fato, o Filho de Deus enviado. Na sua intransigência legalista, eles se recusam acreditar, que estavam diante do Verbo Encarnado de Deus. Ver e não acreditar no que está vendo é a cegueira maior que alguém pode ter.

“Em verdade vos digo, a esta gente não será dado nenhum sinal”. (Mc 8,12) Certamente, aqueles fariseus ficaram furiosos com Jesus pois, além de deixá-los falando sozinhos, entrou na barca e dirigiu-se à outra margem. Jesus entendeu claramente que com aquela gente não tinha conversa. Seria o mesmo que dar pérolas aos porcos. (Cf. Mt 7.6) Tal atitude de Jesus mostra que é desperdício anunciar o Reino aos que não estão preocupados com ele. É inútil ficar insistindo anunciando a proposta e os valores do Evangelho, àqueles cujo “deus” são a riqueza, a ganância e a busca do poder pelo poder. O coração destas pessoas está centrado em outro lugar; pois fizeram outra opção fundamental em suas vidas.

Jesus faz a opção por não dar nenhuma prova de ser Ele o Messias que veio de Deus e que realiza a vontade de Deus. Quem está disposto e disposta, podem concluir isso, vendo a pessoa e a atividade de Jesus. Pedir outra prova fora desta perspectiva, é querer um messias triunfalista, que provoca admiração, mas não liberta, como algumas manifestações religiosas que vemos acontecer no meio de nós: cheias de pompas barulhentas, incensos, muitas vestimentas, e nada da simplicidade do messianismo da periferia de Jesus de Nazaré. Como Jesus, precisamos sempre buscar a outra margem e não permitir que o espírito farisaico tome conta de nós e de sermos neste mundo de muitas aparências e nada de essência.