Segunda feira da Décima Quarta Semana do Tempo Comum. Segundo os mais entendidos, a Lua de hoje está 7,35% visível para nós. A natureza cósmica é mesmo misteriosa e fascinante. Apesar de estar distante da Terra 399.284,98 Km, nós a vimos do quintal da nossa casa. Segundo as pessoas mais experientes, aqui pelas bandas do Araguaia, a fase da Lua Crescente é excelente para as mulheres que estão grávidas terem partos esperados, tranquilos e que acontecem de forma natural. Assim como a Lua tem as suas fases, também temos as nossas. O importante é dar o melhor que podemos ser em cada uma delas. Poetizando com Cecilia, a Meireles, digamos confiantes: “Tenho fases, como a Lua; fases de ser sozinha, fases de ser só sua”.

Mais uma semana surgindo no nosso horizonte com toda força. A cada semana que inicia em nossa história de vida, devemos revestir-nos de esperança. Ao contrário do que diz o dito popular, de que “a esperança é a última que morre”, os que a tem como projeto de vida, pensam diferente. Fundamentados no pensamento pedagógico de nosso educador maior, Paulo Freire, saímos por aí esperançando, fazendo acontecer o que sonhamos, desejamos e lutamos, por outro mundo possível. A nova sociedade, planejada por Deus, com a chegada de seu Filho no meio de nós. A esperança do sonho de Deus veio até nós, como bem o disse o evangelista São João: “O Verbo se fez carne e habitou entre nós, cheio de graça e de verdade, e vimos a sua glória, glória como do unigênito do Pai”. (Jo 1,14) O Filho é a Imagem do Pai, e o Pai se vê totalmente no Filho, ambos num eterno diálogo de mútua comunicação.

Verbo Encarnado de Deus na pessoa do Filho, que nesta segunda feira segue nos ensinando o caminho que nos leva ao Reino de Deus. Se no dia de ontem vimos o Filho de Deus sendo rejeitado pelos seus próprios familiares e conterrâneos, hoje vemos a manifestação de Deus acontecer em Jesus, que realiza os seus sinais (milagres) em meio aos mais pobres, doentes e marginalizados pelo sistema politico/religioso opressor da Palestina no tempo de Jesus. Dentre as curas realizadas pelo Mestre Galileu, está a de uma pobre mulher que, revestida de uma coragem suprema, toma a decisão: “uma mulher que sofria de hemorragia, há doze anos, veio por trás dele e tocou a barra do seu manto”. (Mt 9,20)

Segundo a tradição judaica da época, toda mulher menstruada ou sofrendo qualquer tipo de corrimento de sangue, era considerada impura. É assim que está escrito num dos livros do Pentateuco: “Quando uma mulher tiver sua menstruação, ficará impura durante sete dias. Quem a tocar ficará também impuro”. (Lv 15,19) Certamente, ela sabia do risco que estava correndo, porém, a sua fé em Jesus faz que ela viole a Lei e seja curada. Sim, porque a missão de Jesus é restaurar as pessoas por inteiro: não só libertá-las da doença que as diminui e exclui do convívio social, mas também salvá-las da morte, que as exclui da vida antes do tempo.

Jesus com a sua “Kénosis”, ou seja, como ato de esvaziar-se de si mesmo, sem, contudo, perder a própria identidade, para se fazer abertura ao outro e se encontrar na pessoa do outro, no caso, aquela pobre mulher “impura”. O Filho de Deus em unicidade com o Pai, movido pela ternura, misericórdia e compaixão, se deixa tocar e sente ser tocado. Um Deus, que não somente armou sua tenda entre nós, mas se deixa tocar e toca todos àqueles e aquelas que se abrem para esta mesma perspectiva de comunhão, nos permitindo adentrar a mesma divindade de Deus. Sem se importar com o fato e a possibilidade de tornar-se um impuro como ela, Jesus ainda a reveste de coragem e esperança: “Coragem, filha! A tua fé te salvou”. (Mt 9,22)

A fé possui um poder imensurável de transformação na vida daqueles que creem. Assim como Deus está presente em Jesus, comunicando a Palavra e ação que libertam as pessoas e as reúnem como novo povo de Deus, Ele também se faz presente em nós pela fé que alimentamos. As últimas palavras de Jesus que Mateus registrou em seu Evangelho de que Ele estaria conosco até o fim dos tempos (Mt 28,20) é uma promessa que está realizando a cada dia, quando nos abrimos para acolhê-la. Ao libertar aquela mulher, Jesus vai mostrar que não é a exclusão e nem a morte que detém a última palavra. Todos nós somos chamados a participar de uma nova comunidade, que se compromete a viver de acordo com o que Jesus ensinou: praticar a justiça em favor dos pobres e marginalizados. A fidelidade do Senhor é a nossa esperança. Ele não nos abandona jamais!