Chegou da Bahia no final da construção de Brasília, aos 8 anos, conseguindo, depois do alistamento militar, um emprego numa loja de ferragens (Casa do Barata de Taguatinga, DF). Era uma época promissora para rebater a situação em que o pai trouxera a família na busca de melhorar a vida. Era preciso buscar autonomia e tornar-se cidadão na capital do país ao completar 18 anos. Tinha junto de seus pais e irmãos o sonho de ter um terreno para erguer sua casa. De tanto trabalhar na loja de ferragens, imaginava que o dia esperado estava para chegar.
Ele me contou a parte bonita de seus lances que deram certo e o conduziram para bons momentos, apesar de trabalhar com sucesso, mas nunca se enchendo de orgulho. Lembra-se do Morro do Urubu, descrevendo os barracos, que mediam menos de dois metros quadrados, que era um amontoado de candangos que não tinham vez para morar nas partes nobres da cidade (Plano Piloto).
Sentiu que precisava se mexer para progredir e salvar sua família. Resolveu comprar um barraco no Morro do Urubu. Provavelmente, era o lixão da cidade ou nas proximidades, por onde as aves enlouquecidas de fome e com tanto barro vermelho e entulho pousavam e abrigavam-se para disputar comida.
A partir desse direito de moradia, sua empregabilidade e autoconfiança o levaram, ainda jovem, a trabalhar como recepcionista de hotel por quase dez anos. Lembra-se com muito emoção do St Paul Plaza Hotel, que no dia da inauguração, nasceu o seu primeiro filho. Conta que feliz e vibrando, foi ver o filho como o maior presente que Deus lhe dava, antes mesmo da casa própria e do emprego. Foi o barmam mais famoso que trabalhou ali. Esmerava-se em cordialidade e gentileza autêntica para saudar as pessoas e atender a suas necessidades.Seu jeito intuitivo que lhe rendeu simpatia e confiança em si e em muitos empresários dos hotéis. Sobre o salário que recebia, foi sempre o mínimo, com gorjetas nem sempre razoáveis. Declara que fez riqueza para os que já eram ricos. Consciente de seus talentos e conhecimentos, deixou os hotéis de Brasília para fazer um Curso na Escola de Belas Artes, no Rio de Janeiro, tendo como padrinho Stênio Garcia, que, de tão ocupado que era, não conseguiu encaminhá-lo no propósito de ser ator.
Veio para Manaus, sentindo a cidade como um paraíso para se viver e sufocar o passado. Renascendo das cinzas, conseguiu emprego no Hotel Tropical de Manaus, em 1984, no tempo áureo da companhia Varig, inaugurado em 1970. Depois de 5 anos, deixou o emprego no hotel. Afinal com a falência do grupo Varig também desmoronou a ocupação dos 611 apartamentos do hotel.
- Obs. As duas últimas fotos foram cedidas pela fotografa Gisele B. Alfaia. @giselealfaia