Sexta feira da 34ª Semana do Tempo Comum. Novembro vai dando o seu adeus, sextando pela última vez, em clima de Lua Minguante. Nesta fase, ela está visível para nós apenas 4% da sua extensão. Lembrando que a Lua Minguante representa o fim do ciclo lunar, no qual uma parte dela está iluminada pelo Sol, possuindo um formato de semicírculo. Segundo os mais entendidos no assunto, os astrônomos, na fase da Lua Minguante, o corpo humano pede menos esforço, menos atividades, menos estresse e tensão. Relaxa! A mente pede menos pensar e mais sentir, aquietar-se. É sabido que na introspecção, a consciência lógica dá lugar à alma para que esta se manifeste, apontando para novos horizontes possíveis.
Rezei nesta manhã, deixando-me influenciar pelo clima lunar. Como o amanhecer estava bastante nublado, sem que o sol desse sua cara, favoreceu ainda mais para um momento para estar a sós com Deus, em formato de introspecção. Quem deu as caras mesmo foram os meus visitantes ilustres. Cada qual, a seu modo, louvando, bendizendo e agradecendo a Deus, pelo dia que despontava gratuitamente para nós. Deus, na sua infinita bondade nos concede a cada dia, um lindo amanhecer, pena que a grande maioria de nós, não consegue abstrair tamanha beleza em forma dádiva do Criador. O jeito mecanicista de sermos acaba relativizando toda esta maravilha. Recordei-me do filósofo e poeta lírico romano Horácio (65 a.C. – 8 a.C.), que assim escreveu: “Acredita sempre que cada dia que amanhece é teu último”.
“O céu e a terra passarão, mas as minhas palavras não hão de passar”. (Lc 21,33) Este é o versículo que conclui o texto da liturgia desta sexta feira. Jesus, mais uma vez, orientando e preparando o seu discipulado, para a missão que eles teriam pela frente. O texto lucano de hoje, faz parte do “Discurso parenético” de Jesus. Recordando que a “parênese” é uma forma didática de ensinar e aconselhar as pessoas. Esta terminologia é utilizada na teologia para se referir a um tipo específico de discurso ou ensinamento ético, moral. A palavra em si, vem do grego e significa “conselho” ou “admoestação”, “exortação”. Teologicamente, no caso especifico de hoje, o objetivo desse tipo de discurso de Jesus, é orientar os seus seguidores, quanto ao comportamento deles diante das coisas que iriam acontecer.
“Levantai vossa cabeça e olhai, pois a vossa redenção se aproxima!” (Lc 21,28) O objetivo primeiro de Jesus com suas palavras, não era o de levar o medo, tristeza e angústia para os seus discípulos, mas encorajá-los, enchendo-os de esperança, para não sucumbirem diante das coisas que, por ventura, iriam acontecer na história de vida deles. Coragem! Sejam fortes e destemidos! Tudo muda! Deus não muda! Tudo passa menos a fidelidade de Deus para com o seu povo amado. Com todas as mudanças possíveis e imagináveis, Deus permanece fiel na aliança com o seu povo. Foi assim no passado e também com Jesus, que veio inaugurar novos tempos com a chegada do Reino.
A fé não combina jamais com o medo. Infelizmente, há ainda setores fundamentalistas dentro da Igreja Católica que trabalham com a concepção antiga de Deus, relacionando a fé ao medo. A visão que estes têm de Deus é o de um carrasco vingativo, sempre pronto a nos castigar, a cada tropeço nosso. Ignoram por completo a revelação de um Deus que, através da sua encarnação, Jesus veio nos mostrar: Deus amoroso, cheio de ternura e compaixão, a quem o salmista já definia: “O Senhor é misericordioso e clemente, lento para a cólera, mas paciente e generoso em seu amor”. (Sl 103,8) Porém, este amor de Deus, se expressa através da justiça que defende os que não têm defesa, realizando uma história nova, a partir deles. A dimensão infinita desse amor se compara ao de um Pai amoroso para com seus filhos. Esse amor de Deus se realiza na compaixão, que é sofrer junto com os que participam da condição humana.
Na perspectiva do Reino de Deus, a esperança vence o medo! A desilusão dá lugar à coragem! A luta se faz no horizonte das causas do Reino. A vida tem a prevalência. Cada dia lutado é um dia a mais, em que a proximidade do Reino vai acontecendo. Todos aqueles e aquelas que se põem a lutar, sabem que mais importante que a vontade de lutar e vencer, está a coragem de começar e permanecer fiel à luta. Jesus delega poderes a seus discípulos com a tarefa urgente de testemunhar sem esmorecer, dando continuidade à ação d’Ele. Assim, a espera da plena manifestação de Jesus e do mundo novo, impede que o seguidor d’Ele se instale na situação cômoda do presente. É importante que o discípulo não desanime, achando que o projeto de Jesus é difícil, distante e inviável.
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