Quinta feira da Décima Oitava Semana do Tempo Comum. Agosto segue à gosto das mudanças climáticas: vento, sequidão, queimadas e outros atropelos causados pela insanidade humana. Sendo agosto, o mês das vocações para a Igreja Católica, quiçá não seja esta a oportunidade de descobrimos a vocação de todos nós, no cuidado com a nossa Casa Comum. Buscar a conversão diante do nosso “Pecado Ecológico”, assumindo uma postura que nos coloque em atitude de respeito e reverência ao Planeta. Já fomos alertados: “A natureza pode suprir todas as necessidades do homem, menos a sua ganância”. (Mahatma Gandhi)

8 de agosto. Neste dia a Igreja celebra a memória litúrgica de São Domingos de Gusmão (1170-1221), fundador da Ordem dos Pregadores, conhecidos como Dominicanos. Espanhol de nascimento, um grande homem de oração, e amor à Palavra de Deus. Viveu apenas 51 anos, mas o suficiente para deixar um grande legado. Naquela época, vivia-se em guerras contínuas contra os mouros (muçulmanos) e até mesmo entre os próprios príncipes cristãos. Este contexto levou a uma fome terrível naquela região. Domingos se compadeceu dos necessitados e os ajudava, entregando-lhes seus pertences. Foi canonizado pelo Papa Gregório IX, em 1234. Uma de suas frases nos inspira ainda hoje: “Arme-se com a oração, não com a espada; vista-se com a humildade, não com roupas finas”.

Que me perdoem os Dominicanos, mas hoje quero trazer viva também a memória de outro espanhol que passou por aqui e deixou o nosso coração gravido do esperançar e da luta na resistência contra os opressores. Às 9h40 daquele sábado de 2020, falecia em Batatais, interior de São Paulo o Missionário Claretiano, nosso bispo Pedro. Todos sabíamos que o dia de sua Páscoa chegaria, mas queríamos adiá-lo o máximo possível, pois não queríamos viver, sem aquele que foi a nossa inspiração por longos anos. O Agostiniano Padre Paulo Gabriel, que com Pedro conviveu por longos anos, definiu assim o nosso profeta: “Pedro é um homem livre de preconceitos e ataduras ao poder e isto lhe trouxe problemas, como a todos os profetas que são livres”.

Pedro, poeta, profeta, homem de Deus, junto dos pobres do Araguaia. Lembro-me como se fosse hoje, o dia que cheguei a esta Prelazia, e fui recebido por ele em seu “palácio”. A primeira impressão é a que fica: “sua residência oficial”. Não podia imaginar Pedro morando em outra casa, que não fosse aquele humilde casebre. Tudo que a maioria dos bispos de hoje não sabem ser e fazer, pois se sentem como verdadeiros monarcas em seus palácios, tão distantes da realidade do povo das quebradas. Num dos livros ali no canto, abri e li o poema, que diz tudo sobre aquele homem: “Me chamarão subversivo. E lhes direi: eu o sou. Por meu Povo em luta, vivo. Com meu Povo em marcha, vou. Tenho fé de guerrilheiro e amor de revolução. E entre Evangelho e canção sofro e digo o que quero”.

Dei um enorme salto na minha vida. Da Zona Leste, periferia de São Paulo, era abraçado alegremente por aquele bispo que era o “sonho de consumo” de todo estudante de teologia de minha época. Apenas três anos de caminhada presbiteral, me via ali frente-a-frente com aquele homem simples e franzino, que não tinha cara de bispo, muito menos se adornava com as vestimentas medievais sofisticadas; chinelo de dedo, calça e camisa surrada e um anel de tucum num dos dedos da mão. Meu jeito mineiro de ser, cabeça cheia de sonhos e utopias críveis, naveguei pelas ondas do grupo de Jesus de Nazaré, chegando a feliz conclusão: aqui é o meu lugar!

Foi neste clima nostálgico que rezei com Pedro, através das palavras de outro Pedro: “Tu és o Messias, o Filho do Deus vivo”. (Mt 16,16) Esta foi a resposta dada por aquele homem impetuoso do grupo de Jesus, definindo o Nazareno, segundo as palavras de Mateus. Diante da pergunta de Jesus, os discípulos fazem uma revisão de tudo o que Ele realizou no meio do povo sofrido. Mesmo assim, o povão não havia entendido quem era Jesus. O discipulado, porém, que o acompanhava, vendo tudo o que Jesus havia feito, reconhecem-no, através de Pedro, que Jesus é o Messias. Todavia, a ação messiânica deste Jesus consiste basicamente em criar um mundo plenamente humano, onde tudo é de todos e todas, necessariamente repartido entre todos. Esse messianismo bate de frente com a estrutura de uma sociedade injusta, onde há ricos à custa de pobres e poderosos à custa de fracos. Por isso que essa sociedade vai matar Jesus, antes que Ele a destrua. Baseando-se na sua fé hoje, se você tivesse que definir Jesus, como você o definiria? Seja sincero/a.