Categories: Reflexões Bíblicas

Tristeza e alegria: esperança (Chico Machado)

Sexta feira da Sexta Semana da Páscoa. O mês dedicado à Mãe de Jesus e as nossas mães, fechando a sua primeira dezena. Mais um dia de páscoa nos encaminhando para o encontro da alegria, que vem do Espírito. Deus se fazendo na Trindade Santa, Pai, Filho e Espírito Santo, no Mistério da Encarnação do Filho, que veio morar no meio de nós. Deus, cumprindo a sua promessa, veio construir a sua casa (morada) no meio de nós. O Messias, Deus-conosco se fazendo gente como a gente. A esperança está viva no sonho de Deus em nos dar a vida em plenitude.

O dia 10 de maio tornou-se um marco na história da “Igreja do Caminho”. Num dia como o de hoje, no ano de 1986, que o Padre Josimo Morais Tavares, foi brutalmente assassinado. Ele que era um importante líder religioso, Coordenador da Comissão Pastoral da Terra (CPT), defensor dos direitos humanos no Brasil, na pessoa dos trabalhadores rurais e dos empobrecidos. Esta sua luta o fez ser perseguido por fazendeiros latifundiários do Bico do Papagaio, em Imperatriz, no Maranhão. Tornou-se assim um símbolo de resistência na luta pela terra e pela justiça social. Quem visitar o nosso Santuário dos Mártires da Caminhada, na cidade de Ribeirão Cascalheira verá ali, logo na entrada, a foto do “Padre negro das sandálias surradas”.

Ainda trago viva na memória a cena de sua mãe, visitando-nos no curso de teologia (ITESP), para falar da luta de seu filho pela terra. Dona Olinda Morais Tavares, era a mãe do mártir Padre Josimo, e passou a ser a “Mãe da Esperança”, dando assim, continuidade a luta de seu filho. Assumimos ali com ela, de sermos cada um de nós também defensores das causas sociais, num tempo em que além de estudarmos pra valer, a Doutrina Social da Igreja (DSI), éramos motivados pelas diretrizes das Conferências Episcopais (Medellín – 1968, Puebla – 1979 e Santo Domingos – 1992). Dificilmente vemos este mesmo compromisso hoje, nos padres mais jovens, que estão mais preocupados com o status clerical, que se revela nas suas vestimentas rendadas e pelos símbolos clericais de poder, numa auto referência sem fim.

Ainda estamos muito tristes com tudo o que vem ocorrendo no sul de nosso país. Difícil não nos comovermos com as cenas que vemos. Um povo desolado, que tudo perdeu e vai ter que recomeçar as suas vidas buscando forças onde elas não existem mais. Que tudo nos sirva de lição, e nos ajude a pensar e construir outro mundo possível, preservando o que ainda temos e sem agredirmos tanto a Mãe Natureza. Como escreveu o Papa Francisco, na encíclica Laudato Si: “Deus dos pobres (…) curai a nossa vida, para protegermos o mundo e não o depredemos, para semearmos beleza e não destruição. Tocai os corações daqueles que buscam apenas benefícios à custa dos pobres e da terra.” (LS 246)

Tristeza, decepção e angústia dos discípulos de Jesus com a sua partida física do meio deles. Seguimos refletindo o “Discurso de Despedida” de Jesus. Num clima de Ascensão, Jesus vai subir ao Céu, mas sem se afastar dos discípulos, inaugurando assim uma nova forma de presença, mais profunda no meio deles. Com a sua Ascensão Jesus se liberta dos limites da condição humana terrena, possibilitando um contato pessoal e íntimo com cada um dos discípulos e, particularmente conosco, dando-nos a chance de estarmos com Ele todos os dias. É a alegria da intimidade de estarmos com o Senhor, todos os dias, que alimenta a nossa esperança. Alegrai o meu coração, Senhor, para que eu possa ser fonte de alegria e esperança para os caídos e desanimados!

A tristeza é superada pela alegria que brota da esperança de quem sempre acredita. O conforto dos discípulos está na frase dita por Jesus: “Vós agora sentis tristeza, mas eu hei de ver-vos novamente e o vosso coração se alegrará, e ninguém vos poderá tirar a vossa alegria”. (Jo 16,22) Com a Ressurreição de Jesus e sua Ascensão, os discípulos e nós seremos iluminados pelo Espírito Santo, concebendo uma visão nova da vida e das coisas. É este Espírito que nos possibilitará compreender a vida a partir de então. Triste a partida de Jesus do meio deles. Evidente que a sua morte significará ausência e tristeza. Entretanto, o mistério desta morte, dará lugar à alegria, uma vez que será o princípio de uma presença nova, a presença do Ressuscitado, que age mediante a ação do Espírito Santo. Não é tempo de tristeza, mas tempo de confiança e paz, pois podemos contar com o amor do Pai. O principal adversário, a morte, foi vencida por Jesus. Ele venceu todos os adversários. Para os que acreditamos em Jesus, a ordem social injusta, que condena o justo inocente, está condenada ao fracasso para sempre. A vida venceu a morte e a esperança é a nossa fonte maior de alegria, na força do Espírito.

Luiz Cassio

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