Sábado Santo. Sábado de Aleluia. Sábado da Vigília Pascal. Não se trata de um sábado vazio e sem expectativa, onde o corpo de Jesus foi levado para o túmulo e seus discípulos fogem indo lamentar a morte de seu Mestre e Senhor. Como é de costume, Na tradição cristã, não acontecem celebrações no sábado até o pôr do sol, quando então se realiza a Vigília Pascal. O Sábado Santo não é uma repetição da Sexta feira Santa. A densa liturgia deste dia quer salientar que Jesus está no sepulcro, desceu à mansão dos mortos, ao mais profundo que pode ir a pessoa humana. Ele está calado. Mesmo sendo o Verbo de Deus (Palavra), há um silêncio profundo. Suas últimas palavras ditas no alto da cruz ainda ressoam em nossos ouvidos: “Por que me abandonaste?” “Tudo está consumado!”.
A Vigília Pascal quer ser este momento em que a liturgia do Sábado Santo, está dizendo, para todos nós que acreditamos, que devemos permanecer junto ao sepulcro do Senhor, meditando Sua Paixão e Morte, sua descida à mansão dos mortos, esperando, esperançando na sua Ressurreição. Todos os momentos especiais da vigília querem realçar o contexto fundamental da noite: a Páscoa do Senhor, sua passagem da morte para a vida. É por este motivo que a celebração sempre acontece no sábado à noite. A vigilância deve nos tornar atentos ao momento. É uma vigília em honra ao Senhor, de maneira que devemos seguir aquilo que nos vem do Evangelho, como as virgens prudentes que mantiveram acesas as lâmpadas, aguardando o seu Senhor chegar (Lc 12,35-36).
Uma rica e intensa liturgia nos aguarda na noite deste Sábado Santo: bênção do fogo novo; procissão do Círio Pascal; proclamação da Páscoa e Liturgia da Palavra. Nesta noite especialmente, a comunidade de fé cristã, se detém mais que o normal na proclamação da Palavra. São várias as leituras que ouviremos nesta noite. Entretanto todas as leituras proclamadas na Vigília Pascal têm uma coerência e um ritmo entre elas. A chave para o entendimento e interpretação de todas elas é aquela que nos deu o próprio Jesus: “E começando por Moisés, percorrendo todos os profetas, explicava-lhes (aos discípulos de Emaús) o que dele se havia dito em todas as Escrituras” (Lc 24, 27).
O Evangelho que nos é indicado para este dia (Mc 16,1-7), faz questão de realçar o protagonismo feminino. As mulheres faziam parte integrante do grupo de Jesus, mesmo que embora os Evangelhos não descrevam muito a atuação delas como seguidoras de Jesus, como membras integrantes de seu discipulado. Mulheres guerreiras que afrontavam o pensamento da época e a cultura judaica dominante, que viam as mulheres como seres de segunda categoria. Mesmo assim, elas vão à luta e com o seu testemunho profético feminino, deram as caras no momento de extrema dificuldade, em que os discípulos se ausentaram, fugiram com medo das autoridades dos judeus. Elas estavam ali e permaneceram fieis, mostrando que a força da mulher não se dobra diante da prepotência dos autores da morte.
O texto da comunidade de Marcos inicia dizendo que: “quando passou o sábado, Maria Madalena e Maria, a mãe de Tiago, e Salomé, compraram perfumes para ungir o corpo de Jesus. E bem cedo, no primeiro dia da semana, ao nascer do sol, elas foram ao túmulo”. (Mc 16,1-2) Tiraram força de onde não havia, mas estavam ali para cuidar do corpo do inocente crucificado. Com todas as dificuldades possíveis, lá estavam elas para cuidar de Jesus e dar-lhe um sepultamento digno. E não é que elas não estivessem com medo, mas não deixaram que este, inibisse a ação a ser feita naquele contexto de morte. A proposta litúrgica de hoje inclusive omite o versiculo oitavo que mostra a condição em que elas se encontravam: “Então as mulheres saíram do túmulo correndo, porque estavam com medo e assustadas. E não disseram nada a ninguém, porque tinham medo”. (Mc 16,8)
As mulheres se transformam nas primeiras testemunhas oculares da Ressurreição de Jesus, o Cristo. Discípulas fiéis e destemidas, que assumem em si o protagonismo de serem as anunciadoras do Ressuscitado. A esperança vence o medo! O testemunho profético se sobrepondo a covardia de quem foge à luta. A esperança não decepciona. O túmulo vazio é o sinal de que a ação de Deus em Jesus não termina na morte do inocente e no medo. Jesus de Nazaré ressuscitou e vai estar de novo no lugar onde havia começado sua atividade: na Galileia. Não em Jerusalém, centro do poder e da religião opressora e que mata. É na periferia que o projeto de Deus terá a sua continuidade e os seguidores e seguidoras de Jesus só poderão encontrar-se de novo com Ele, se continuarem o projeto por Ele iniciado, lá onde o povo está. Quem assim procede, terá em si a presença contínua do Ressuscitado, que vivo está pelos caminhos da vida. Como diria o filósofo estico espanhol Sêneca: “A coragem conduz às estrelas, e o medo à morte”.
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