Segunda feira da Primeira Semana do Advento. Estamos abrindo as portas da preparação para o Natal. São quatro semanas de preparativos, em que vamos fazendo uma trajetória de reflexão, objetivando um melhor preparo para a chegada d’Ele. Nesta primeira semana a temática fundante é a esperança. Esperançar em Deus. Movidos por ela, vamos revisando a nossa vida, o nosso jeito de ser pensar e agir, para que assim possamos celebrar esta festa da cristandade, com o nascimento de uma criança, que vai revolucionar a nossa história, como o profeta Isaias já o predissera: “Eis que a virgem conceberá, e dará à luz um filho, e chamará pelo nome de Emanuel (Emanuel = Deus conosco). (Is 7,14).
Uma segunda feira triste para a Igreja Católica. No dia de ontem, faleceu aos 88 anos, na cidade de São Paulo, o Padre Jesuíta Casimiro Abdon Irala, SJ. Mais conhecido como Padre Irala (1936-2024). Paraguaio de nascimento, adotou o Brasil como a sua casa, onde desenvolveu um grande trabalho de animação da juventude. Cantor e compositor, dividia com José Fernandes de Oliveira, SCJ, (Padre Zezinho) a arte de animar a nossa juventude. Cresci na minha juventude cantando as canções do Padre Irala, naquele tempo em que não se falava em Pastoral da Juventude, mas tínhamos os animados Grupos de Jovens. A juventude que viveu nas décadas de 60, 70 e 80, como eu, está de luto. Foi ele que compôs, por exemplo, a canção “Oração de São Francisco”. “Ele deixa um legado importante na música e liturgia católica, responsável pela reforma nos cantos litúrgicos e na metodologia de evangelização de jovens no País” (OPA – Grupo Oração pela Arte)
Fora esta nota triste, por aqui seguimos nos preparativos para o Encontro dos Saberes Ancestrais Tradicionais do Povo A’uwé (Xavante). Este encontro vai acontecer nos dias 5, 6 e 7 próximos, na Terra Indígena de Marãiwatsédé. A minha humilde contribuição vai ser de uma fala que farei sobre Territorialidade: Identidade e Pertencimento, reforçando a concepção de “terra” para o Povo Xavante. Muitas lideranças, pajés, parteiras e professores, estarão presentes neste encontro tão importante para uma troca de saberes. Nestas horas não tem como não recordar de nosso Educador maior Paulo Freire, que dizia em letras garrafais, “Não há saber mais ou saber menos: há saberes diferentes”. Tenho certeza que sairei deste encontro de alma lavada, rumo à viagem que farei à Goiânia, para o meu retorno médico.
A vida cristã é feita de testemunhos. Quem vive a sua fé verdadeira, sabe que testemunhar o Ressuscitado exige dedicação e entrega. No dia de hoje temos alguém em quem espelhar-nos para levar adiante o propósito do Reino anunciado por Jesus. O texto do evangelista Mateus, narra para nós a forte experiência do encontro entre Jesus e um oficial romano (Centurião). Este último suplica a Jesus que curasse um empregado seu que estava doente, sofrendo com uma paralisia. Jesus se dispõe a curar o enfermo, mas o que chama mesmo a atenção de todos, é a atitude de fé daquele oficial: “Senhor, eu não sou digno de que entres em minha casa. Dize uma só palavra e o meu empregado ficará curado”. (Mt 8,8) Viver é acalentar sonhos e esperanças, fazendo da experiência de fé a nossa inspiração maior.
Embora sendo um pagão, Jesus elogia a fé daquele homem, que simplesmente acreditou n’Ele: “Jesus ficou admirado, e disse aos que o seguiam: Em verdade, vos digo: nunca encontrei em Israel alguém que tivesse tanta fé”. (Mt 8,10) A fé que salva vidas! A fé testemunhal de quem realmente acredita sem reservas. Atendendo ao pedido de um pagão, Jesus mostra que as fronteiras do Reino vão muito além do mundo estreito da pertença a uma origem privilegiada. A fronteira agora é a fé na palavra libertadora de Jesus. Mesmo pertencendo ao grupo dos que se consideram salvos, se não houver essa fé, também não haverá possibilidade de entrar no Reino de Deus. “A fé é a extensão do espírito. É a chave que abre a porta do impossível”, afirmou Charles Chaplin ,
O texto de hoje nos mostra que as fronteiras do Reino de Deus vão muito além das nossas convicções e grau de pertencimento a esta ou aquela religião. Um oficial romano nos dando uma grande lição de como devemos ser diante da fé que professamos. Uma fé inabalável é aquela que nos deixa seguros e confiantes diante das dificuldades e desafios da vida. Podemos até passar por momentos de fraqueza, mas o que conta mesmo, é a nossa disposição na busca pela superação. Não podemos desanimar nunca e achar que tudo está perdido, quando as coisas não vão bem. O Deus em quem acreditamos é um conosco e se faz presente nas causas da vida e do Reino. Qual é o Deus que acreditamos mesmo? Tal questionamento me fez lembrar a experiência de um amigo meu ateu, que tinha o sonho de conhecer nosso bispo Pedro. Vindo por aqui e, depois de uma longa conversa com o nosso profeta, Pedro lhe disse: “O Deus que você não acredita, eu também não acredito”. Meu amigo saiu em prantos da casa de Pedro.
Comentários