Segunda feira da 29ª Semana do Tempo Comum. Uma segundona molhada por aqui. São Pedro resolveu de vez, abrir as torneiras do céu. A manhã não amanheceu, de tão escuro que estava o céu. Os costumeiros visitantes de meu quintal, amanheceram acabrunhados, escondidos em seus recatos. Uma pausa dos quatis, que estão nestes dias degustando as imensas jacas. Com tanta água que desceu do céu, os reservatórios recuperarão seus volumes rapidamente. Mais uma semana iniciando com a oportunidade de lavar a alma e renovar o espírito, vendo a dança da chuva molhando o chão, provocando-nos momentos de introspecção.
21 de outubro. Nesta data, comemoramos aqui no Brasil o Dia do Ecumenismo. Ecumenismo é um movimento de pessoas cristãs com a missão de promover a reconciliação entre as igrejas, vivendo pacificamente e respeitando cada uma delas, com o seu jeito próprio de ser: “Que todos sejam um”. (Jo 17,21) O Diálogo Ecumênico acontece entre as igrejas cristãs, ou seja, que professam a fé em Jesus Cristo, compartilham de uma série de valores próprios da tradição cristã, entre eles a celebração do batismo. No território nacional, algumas dessas igrejas integram o Conselho Nacional de Igrejas Cristãs do Brasil (CONIC). Este é um dia muito importante, para um país, em que há ainda muita perseguição e intolerância para com aquelas pessoas ligadas às tradições das Religiões de Matrizes Africanas.
Namastê! O Deus que está em mim, saúda o Deus que está em você! Rezei neste clima ecumênico. Como estou muito ligado cotidianamente ao trabalho com os povos originários aqui do Araguaia, muito aprendi ao longo destes mais de trinta anos. Sua cultura, ritos e tradições sempre estão voltados para a valorização da pessoa como um todo, e da natureza que a cerca. Sua vivência identitária, os fazem muito respeitosos uns para com os outros. Vivem o ecumenismo raiz, já que todos são iguais, sem se sobreporem aos demais. Muito aprendi com eles. Cada dia aprendo mais. Mais aprendo que ensino. Pena que o sistema colonial, deixou-nos uma herança perversa, em relação a eles. Diante deste cenário, seria bom se levássemos a sério o que nos disse o mineiro Chico Xavier: “Ninguém pode voltar atrás e fazer um novo começo, mas é possível começar de novo e fazer um novo fim”.
Começar de novo! Sem a preocupação de ajuntar, acumular tesouros para si. Quando muito, acumular conhecimento, transformado em sabedoria. Quem está preocupado apenas em acumular riquezas para si, perde a chance de caminhar com Jesus e ser um de seus seguidores, como podemos ver no texto que estamos refletindo com a liturgia desta segunda feira. Jesus ensinado os seus discípulos, através de sua pedagogia libertadora: “Atenção! Tomai cuidado contra todo tipo de ganância, porque, mesmo que alguém tenha muitas coisas, a vida de um homem não consiste na abundância de bens”. (Lc 12. 15) A sociedade pensada e criada por Jesus não é a do acúmulo da riqueza, mas a da partilha dos bens, dos dons e serviços. No Reino de Deus não cabem aqueles e aquelas que só sabem acumular gananciosamente. “Eu garanto a vocês: um rico dificilmente entrará no Reino do Céu”. (Mt 19,23)
“Quando se recusa a partilhar alguma coisa corre-se o risco de perder tudo”, afirmou o arcebispo Sul Africano da Igreja Anglicana Desmond Tutu (1931-2021) Fazer parte do Reino de Deus é estar sempre pronto a partilhar, tanto que o acontecimento mais importante da fé cristã é o encontro para a partilha na mesa da Eucaristia. Ali, celebramos o memorial da Paixão, Morte e Ressurreição de Jesus, e nos alimentamos do Pão Eucarístico partilhado. Alimentados por este Pão, saímos rumo a nossa missão de sermos pão partilhado, vida partilhada, tornando-nos pessoas “Cristicas”. Comungar deste Pão é um perigo, um comprometer-se.
A riqueza sempre foi um problema na vida das pessoas. O desejo de acumular, mais e mais está no horizonte dos sonhos das pessoas, fruto de uma sociedade capitalista/consumista, em que vivemos. Este desejo de acumular está associado ao espirito competitivo das pessoas, pensando que a felicidade na vida está relacionada ao “Ter” mais e não ao “Ser” mais. Somente os humanos trazem em si este desvio. Não vemos este tipo de conduta nos demais seres da natureza. De lembrar que, aos sermos criados por Deus, Ele não colocou em nossa essência, o DNA do acumular. Nós é que nos desvirtuamos da essência da Criação. No texto lucano de hoje, Jesus mostra que é estupidez acumular bens para assegurar a própria vida. Só Deus pode dar à pessoa humana a riqueza que é a sua própria vida. “Nu eu saí do ventre de minha mãe, e nu para ele voltarei. O Senhor me deu tudo e o Senhor tudo me tirou. Bendito seja o nome do Senhor!” (Jó 1,21)
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