28º Domingo do Tempo Comum. Como estamos percorrendo o Ano Litúrgico B, o Evangelho escolhido pela Igreja é sempre o de Marcos. É por este motivo que, aos domingos, fazemos a reflexão com a comunidade deste evangelista, a não ser quando é uma solenidade mais específica. Assim, neste domingo, vamos dar continuidade ao texto do domingo passado (Mc 10,2-16), onde ali, os fariseus queriam saber de Jesus o que ele pensava acerca da “Lei do divórcio”, no intuito de fazê-lo cair numa armadilha. Evidentemente que Jesus não cai na cilada deles, e apresenta o matrimônio não a partir de permissões ou restrições legalistas, mas como aliança de amor, sinal e bênção de Deus.

Um domingo em que ainda estamos vivendo sob o clima e a proteção do manto sagrado da Mãe Negra de Aparecida. Ela que nosso bispo Pedro, em um dos versos de seus poemas, assim se referiu a ela: “Mãe Aparecida do Brasil, Senhora negra, que suportaste a fome e os tormentos nos porões dos navios negreiros”. Olhar para Maria é voltar-nos para os empobrecidos, já que ela é a digna representante da comunidade dos pobres, diferentemente daqueles que insistem em associar o seu nome com a “generalíssima”, comandante de um exército, título que os militares, durante a Ditadura Militar no Brasil (1967), deram a ela, enquanto eles cometiam suas atrocidades Brasil afora. Mãe Aparecida, protege-nos, pois tu és a esperança dos negros, pobres e sofredores deste país.

Mas voltando ao Evangelho, podemos ver que na sua narrativa de hoje, Marcos, está nos mostrando, que Jesus está a caminho de Jerusalém com os seus discípulos, passando pela Judeia, na região da Transjordânia. Mais do que um caminho geográfico e geopolítico, trata-se antes de um caminho teológico. Neste percurso, Jesus aproveita para ensinar o seu discipulado. O conteúdo central deste seu ensinamento pedagógico está nas exigências para fazer parte do Reino de Deus e as condições necessárias para fazer parte de seu grupo, como seguidores e seguidoras d’Ele. Como se trata de um percurso, se faz necessário deixar para traz todas as formas egoístas, os interesses mesquinhos e o desejo de poder, substituindo a disposição de servir.

A missão de Jesus é árdua e não é para aqueles que não desejam mudar a si mesmos para assumir o compromisso com o Reino. Neste sentido, um homem chega para Jesus e lhe faz uma pergunta crucial: “Bom Mestre, que devo fazer para ganhar a vida eterna?” (Mc 10,17) Um homem até bem intencionado, desejoso de querer seguir Jesus. Carinhosamente, Jesus convida aquele “homem bom” a despojar-se dos bens materiais que o estava aprisionando, e abrir o seu coração à solidariedade, à partilha e a percorrer o caminho do amor que se dá totalmente, sendo um seguidor d’Ele, integrando-se à comunidade do Reino. Jesus o convida a deixar de “Ter” para “Ser”. Ainda que o texto de hoje, omitiu o versículo que nos traz uma síntese sobre os seguidores de Jesus: “Muitos que agora são os primeiros serão os últimos, e muitos que agora são os últimos serão os primeiros”. (Mc 10,31)»

Não basta ter boa vontade e boas intenções, para seguir os passos de Jesus. É preciso abrir-nos à dinâmica e à lógica do Reino que é ser e não ter. Quem muito tem, não consegue ser ninguém! Aquele homem, aparentemente bom, fica muito triste, quando Jesus lhe propõe como um passo decisivo: “Só uma coisa te falta: vai, vende tudo o que tens e dá aos pobres, e terás um tesouro no céu”. (Lc 10,21) Aquele homem era um observador/cumpridor fiel de todas as Leis, no entanto, faltava-lhe o principal: sentar-se à mesa da partilha, dos bens, dos dons e da vida como um todo. Jesus mostra-lhe que, para fazer parte do Reino é preciso mais do que observar leis ou regras. O Reino é dom de Deus às pessoas, e nele tudo deve ser partilhado entre todos. Isso significa repartir as riquezas em vista de uma sociedade mais justa, fraterna e igual, abolindo a lógica egoísta do sistema classista. É por isso que aquele homem rico ficou triste.

  • Jesus então olhou ao redor e disse aos discípulos: “Como é difícil para os ricos entrar no Reino de Deus!” (Mc 10,23) Dificilmente os ricos entrarão no Reino. Eles preferem “ter, a ser”: solidários, praticar a partilha, lutar pela justiça e por uma sociedade mais igual, onde todos e todas tenham o necessário para viver com dignidade de filhos e filhas de Deus. A indicação de Jesus continua válida para nós ainda hoje, sobretudo para aqueles e aquelas que estão interessados em dar um significado de amor/doação à sua vida. Fazer parte deste grupo de Jesus exige que estejamos dispostos a “Ser” como Ele, e seguindo-o, dar continuidade a seu projeto. Certamente se assim o fizermos, seremos taxados de “radicais”, ideológicos e até de “comunistas”. Tudo porque, inspirados por Jesus, lutamos por outro mundo possível, de uma sociedade mais equânime. Ser ou ter? Melhor do que “ter”, é “ser”, pois este último faz parte da essência da criação do Ser de Deus em nós.
Luiz Cassio

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