Sábado do Tempo do Natal antes da Epifania.
Primeira semana do primeiro mês do novo ano findando. Devagar vamos caminhando e tomando posse do novo que se faz presente como realidade em nossa história de vida. O caminho se desenhando e delineando como já nos dissera o poeta espanhol: “caminante, no hay camino, se hace camino al andar” (Antônio Machado). Não existe caminhos prontos e acabados. Como nas trilhas, é no passo a passo do caminhar que o caminho vai se delineando.
Caminhar com Jesus. Caminhar em direção a Jesus. Caminhar como Jesus em sintonia com o Pai. Caminhar tendo a Mãe presente, mediando os passos, como a uma criança que se ensina os primeiros passos. Da desconfiança inicial à convicção e firmeza do pisar o chão da nossa terra. De mãos dadas com a força que vem do alto e norteia o rumo e a direção do nosso caminhar. A estrada é longa, mas sempre tem início com os primeiros passos dados. Um de cada vez, na segurança do pé atrás que sustenta o que vai a frente. Quem caminha, faz e encontra caminhos.
“Maria, Mãe dos caminhantes, ensina-nos a caminhar”. Assim cantamos alegremente muitas vezes nas nossas Comunidades Eclesiais de Base (CEBs). Maria, a Mãe de Jesus e nossa, que segue caminhando conosco, mostrando-nos o caminho por onde devemos trilhar, na busca por nossos sonhos e realizações. Maria, a fiel escudeira e seguidora do Filho, modelo do discipulado para todos nós que desejamos caminhar com o Filho na história pela libertação.
Madruguei com o sábado na terra que me viu nascer para o mundo. Embora a noite tivesse sido chuvosa, o sol logo cedo mandou o seu recado de que a hora e a vez era dele. Foi buscar e trouxe-nos o sábado pela mão, para a alegria cantante das dezenas de pássaros que madrugaram como eu. Rezei me fazendo sintonia com este clima festivo, prenunciando o primeiro final de semana do novo ano. Mais do que ver o sol amanhecer o dia, a alegria maior é ver o esperançar de Deus amanhecer dentro de você, renovando cada esquina de seu ser.
O Lecionário Católico nos apresenta para a liturgia deste sábado uma das passagens mais conhecidas e emblemáticas do Novo Testamento: “as bodas de Caná”. Uma festa de casamento do povo judeu, recheada de símbolos e significados. E, como de praxe, em toda boa festa, não podia faltar um bom vinho, bebida que alegrava as mentes e os corações dos presentes à festa. Como dizia o filósofo grego Platão: “o vinho é o medicamento que rejuvenesce os velhos, cura os enfermos e enriquece os pobres”. Faltar vinho numa festa de casamento do povo judeu era uma desonra para os donos da festa.
Jesus estava presente à festa de casamento. Sua Mãe e seus discípulos também. Uma festa de casamento como lugar teológico para a manifestação do Filho que ali se encontrava. E não é que veio a faltar vinho. A Mãe logo percebeu a errata e acionou o Filho que prontamente lhe respondeu: “minha hora ainda não chegou”. (Jo 2, 4) Mas ela também deu o seu recado aos que serviam: “fazei o que Ele vos disser”. (Jo 2,5) Confiança é tudo. Quem se entrega confiantemente na gratuidade e na amorosidade da relação com Deus, sabe que não será decepcionado. Ele é fiel sempre! Sua hora vai chegar.
Ao relatar para nós detalhadamente o episódio de uma festa de casamento, o evangelista São João quer nos mostrar que o casamento é o símbolo da união de Deus com a humanidade, realizada de maneira definitiva na pessoa de Jesus, Deus-e-Homem. Sem a presença de Jesus, a humanidade vive uma festa de casamento sem vinho. Triste realidade de quem vive as cegas sem achar o caminho que conduz à plenitude da vida, uma vez que Jesus, com sua palavra e ação, transforma as relações das pessoas com Deus e destas entre si. Deixemo-nos embriagar pelo bom vinho que é Jesus, que nos sintoniza com o Pai, que de braços abertos está, a espera que caiamos dentro do seu abraço afetuoso.
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