Novembro chegou!
O mês missionário deu lugar ao mês em que vamos celebrar o Advento. Tempo de preparação e expectativa para a chegada do Deus-menino. Estamos caminhando para mais uma etapa de nossas vidas. Mais um ano vai chegando ao seu ocaso. Apesar da dor da partida de tantos amigos, parentes, conhecidos e desconhecidos, que abreviaram a sua páscoa, o espirito e a luz da vida permanecem em nós. Estar vivos neste atual contexto é uma dádiva oriunda do próprio Deus da vida. Saibamos ser reconhecidos por isso e alimentemos de esperançamento, para cumprirmos a nossa missão que não para. “O tempo não para”, diría-nos Cazuza em uma de suas canções.
A semana só está começando. É verdade que estamos num feriado prolongado, uma vez que no dia de amanhã, estaremos celebrando os nossos mortos. Oportunidade para fazer memória daqueles e daquelas que passaram por esta vida e hoje, encontram-se nos braços do Pai. Sobretudo daqueles e daquelas que viajaram precocemente, vítimas do descaso, da negligência e da irresponsabilidade negacionistas. Clamamos a Deus pela Justiça Divina, já que a dos homens tarda, falha e é paga a peso de ouro. Como Deus é o Senhor da História, que os pobres sejam contemplados com a sua venerável justiça, conforme está descrito no primeiro salmo: “Por isso os injustos não ficarão de pé no julgamento, nem os pecadores na assembleia dos justos. Porque o Senhor conhece o caminho dos justos; porém o caminho dos ímpios perecerá”. (Sl 1,5-6)
Vivemos num contexto diferente em se tratando da caminhada de “Igreja Povo de Deus”. Aquela mesma Igreja que se faz caminhante nas “catacumbas” das “quebradas” periféricas do mundo. Tempos de “Sinodalidade”, graças a influência decisiva do Papa Francisco. Sinodalidade que é o caminho da Igreja do terceiro milênio. Assim espera o papa. Segundo ele, Sinodalidade que é “um conceito fácil de se colocar em palavras, mas difícil de se colocar em prática”. Ou seja, a teoria na prática é outra. Um período primordial de escuta atenta dos cristãos, sobretudo dos mais fracos e deserdados.
Uma Igreja “toda sinodal”, como deseja e anseia o Papa Francisco. Sinodalidade que vai muito além de uma simples colegialidade de bispos unidos ao papa. Conforme o sentido etimológico da palavra sinodalidade, que vem do termo grego “sínodo”, que quer dizer “caminhar juntos”. Desta forma, a sinodalidade expressa diretamente a participação e a comunhão de todos e todas em vista da missão da Igreja no mundo. Para tanto, se requer a unidade, a multiplicidade e a universalidade do Povo de Deus, manifestando-se em forma de um caminho sinodal. Evidentemente que o horizonte objetivado desta sinodalidade é eclesiológico e também espiritual, fazendo jus a eclesiologia própria do Concílio Vaticano II (1962-1965), que aponta para uma Igreja “mistério”, sinal e instrumento de comunhão, e como “Povo de Deus”, no qual há diversidade de vocações e ministérios, mas “reina entre todos verdadeira igualdade quanto à dignidade e ação comum a todos os fiéis na edificação do Corpo de Cristo” (Lumen Gentium 32).
Uma Igreja sinodal, maternal e acolhedora, servidora e ministerial, voltada para a realidade especifica dos pobres, indígenas, mulheres, quilombolas, vulneráveis, superando todas as formas de preconceito, discriminação e aversão aos empobrecidos. Uma Igreja “Jesuânica”, que jamais poderá conter em seu meio os apologetas da “aporofobia”. Termo cunhado recentemente pela espanhola Adela Cortina, que vem de duas palavras gregas: “áporos”, o pobre, o desamparado, e “fobéo”, que significa temer, odiar, rejeitar. Sinodalidade permeada pelo amor incondicional às causas de Jesus, que fez a Madre Teresa de Calcutá afirmar com toda as insígnias: “A falta de amor é a maior de todas as pobrezas”.
Igreja toda ela sinodal, recheada pelas atitudes de amorosidade, generosidade e gratuidade, como fez Jesus. Somente um coração cheio de amor como o de Jesus sabe ser generoso. Generosidade que não espera pela retribuição do possível bem que fez. “Quando deres uma festa, convida os pobres, os aleijados, os coxos, os cegos. Então, serás feliz!” (Lucas 14,13-14). É assim que Jesus quer que também sejamos na nossa sinodalidade. Nada de ficar fazendo média, bajulando os grandes e poderosos, em busca de recompensa, numa troca incessante de favores. Jesus nos mostra que o amor verdadeiro não se dá em forma de comércio (negociatas), mas é serviço gratuito, pois o pobre não pode pagar e o inimigo não pode merecer. Quando o amor é generoso e gratuito, somente Deus poderá retribuí-lo. Amorosidade e gratuidade de um coração em festa de um amor que não se mede.
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