Quarta feira da Primeira Semana da Quaresma.
Eis o tempo de conversão! Converter para viver! Conversão que se faz na história do dia a dia, buscando os caminhos que levam à vida plena. Conversão que é sempre um sinal de risco. Converter é deixar para trás as opções equivocadas que não edificam e nem estão a favor da vida. Conversão como mudança de caminhos e, consequentemente, mudança de atitudes. Conversão como atitude de ser verdadeiro para consigo mesmo, indo ao encontro da adesão firme e decidida de caminhar pelos mesmos caminhos de Jesus de Nazaré. Aderir a Jesus é aderir ao Evangelho sendo instrumento nas mãos de Deus no mundo.
O sinal da vida se faz presente no meio de nós através da presença encarnada de Jesus: “O Verbo se fez carne e habitou entre nós”. (Jo 1,14) Jesus é o Filho a imagem do Pai. O Pai se vê totalmente no Filho, ambos num eterno diálogo de mútua comunicação. A Palavra (Verbo) é a Sabedoria de Deus vislumbrada nas maravilhas do mundo e no desenrolar da história, de modo que, em todos os tempos, as pessoas sempre tiveram e têm algum conhecimento dela. Em Jesus Deus se manifesta sendo amorosidade, ternura e compaixão, numa fidelidade total, levando-nos a partilhar da própria vida e felicidade de Deus.
Converter é aceitar Jesus como Palavra viva e encarnada no meio de nós. Deus que vem visitar o seu povo na pessoa do Filho, cumprindo assim as promessas feitas desde sempre. Ele está no meio de nós! Ele é Deus-Conosco. Ele se faz um de nós, caminhando conosco pelas estradas da vida. “Pelas estradas da vida, nunca sozinho está”. Deus é gente como a gente e fez a opção de classe de caminhar com os empobrecidos, explorados e marginalizados, como nosso bispo Pedro assim definiu a opção de Jesus: “No ventre de Maria Deus se fez homem. Na carpintaria de José, se fez classe”. Este é o sinal maior da sabedoria e divindade de Deus se fazendo humano, nos permitindo adentrar o Divino que é Deus.
“Memória que se faz na história”. Sinal de vida em meio ao contexto de morte. Nossos olhos foram flagrados por um destes sinais da presença viva de Deus no meio de nós. Sinal de vida e esperança em meio ao caos: uma criança sendo resgatada do meio dos escombros do terremoto que atingiu a Síria. O mais interessante é que a criança estava viva, graças à proteção feita pelo pai com o seu corpo, que se encontrava numa posição curvada. As imagens rodaram o mundo, emocionando a todos nós, mostrando assim a atitude de um “pai de verdade”, protegendo o filho na Turquia.
Ter fé é mais do que acreditar em algo. Ter fé é demonstrar a confiança naquilo que se crer. Quem realmente crê não necessita de sinal algum para continuar demonstrando a sua fé. Jesus é Palavra de Deus. A luz que ilumina a consciência de todo aquele e aquela que crê. Diferentemente daqueles que necessitavam de um “sinal” para que possam acreditar que Jesus é, de fato, o enviado do Pai, como fizera a multidão que cercava Jesus, certamente orientada pelos fariseus que exigiam um sinal d’Ele.
O texto que a liturgia hoje nos traz é emblemático neste sentido. Diante daquela multidão toda Jesus responde com desalento: “Esta geração é uma geração má. Ela busca um sinal, mas nenhum sinal lhe será dado…” (Lc 11,29) Não são os sinais mirabolantes que leva alguém à acreditar e, consequentemente, mudar de vida e se converter. O sinal maior dado por Deus é a sua manifestação plena na história humana através da pessoa do Filho. Jesus é o Deus Filho, o verdadeiro e total Dom do Pai, é o único que pode falar de Deus Pai, porque comunica o amor e a fidelidade do Deus que dá a vida às pessoas. Ele é o sinal de contradição dentro da história humana, mostrando que a forma como os homens a conduzem não está de acordo com o sonho de Deus para os seus.
Viver a fé requer confiança total para nos jogarmos nos braços do Pai. Não precisamos de sinal algum para acreditar. Nosso sinal é Jesus. Sua vida e sua clara opção falam por si. Quem necessita de sinal, dá mostras de não ter fé. Quem se encontra próximo de Deus, percebe a sua presença viva no Filho e o sente presente na caminhada. A fé é a força que nos mantém de pé perante as adversidades da vida. Não estamos mais condenados a caminhar cegamente, guiando-nos por pequenas luzes no meio das trevas, por pequenas manifestações de Deus, mas pelo próprio Jesus, manifestação plena e total de Deus. Como nos diria Santo Agostinho (354 d.C.-430 d.C.): “Ter fé é acreditar naquilo que você não vê; a recompensa por essa fé é ver aquilo em que você acredita”. Você também é um daqueles/as que estão buscando por um sinal para continuarem acreditando?
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