Sexta feira da Décima Terceira Semana do Tempo Comum. Sextando pela vez primeira no mês de julho, com grande parte dos nossos estudantes desfrutando, com as suas famílias, o recesso das aulas. Como boa parte de nossa juventude daqui, estuda fora, este é o mês do reencontro dos familiares com os seus. Não é somente a temporada de praia que os trazem, mas o reabastecimento das energias ao lado daqueles que os amam. Melhor que seja assim, afinal, cada um está buscando construir o seu futuro, tendo os estudos como o carro chefe de um horizonte melhor para as suas vidas. Estudar faz parte da vida de todos nós, senão caímos naquilo que já nos dizia o filósofo Sêneca: “O ócio sem estudos é como a morte e a sepultura do homem vivo”.

Não me canso de estudar! Este é meu ofício, desde quando me tornei consciente de mim mesmo. A leitura faz parte da minha vida, como algo intrínseco ao meu ser pessoa. Delicio-me com elas, navegando nas páginas de um bom livro. Agora com as novas tecnologias, o leitor digital tenta ocupar o espaço do livro. Eu ainda prefiro o livro físico. O romantismo de ler cada página virada é indescritível. Melhor agora com a maturidade da idade que, mesmo com a vista não chegando como dantes, o prazer continua enchendo o coração de boas narrativas. Posso dizer que, sou quem sou em parte, porque fui crescendo com as leituras que fui fazendo ao longo da vida. Elas moldaram o meu jeito de ser, agir, sentir e pensar.

Leitura que fazemos hoje do texto do Evangelho da comunidade de Mateus. Seguimos na mesma sequência de ontem. Desta vez, o evangelista nos coloca no contexto dos primeiros chamados realizados por Jesus, formando assim o grupo do discipulado, exatamente aqueles que seriam os apóstolos, continuadores da missão do Mestre. Um dos primeiros a serem chamados foi Mateus. Também chamado de Levi, era filho de Alfeu conforme os Evangelhos de Marcos 2,14 e Lucas 5,27. Antes de ser chamado para seguir Jesus, Mateus era um coletor de impostos do povo hebreu, durante a dominação romana. Estava alocado em Cafarnaum, uma cidade marítima no mar da Galileia, na Palestina. Seu primeiro contato com Jesus se deu enquanto estava exercendo o ofício, na coletoria de impostos.

Naquele tempo, os cobradores de impostos não eram bem vistos pelos judeus. Os coletores eram desprezados e marginalizados, porque colaboravam diretamente com a dominação romana, cobrando impostos e, em geral, aproveitando para roubar para si mesmos, uma parte destes impostos. Todavia, Jesus faz questão de chamar aquele homem, rompendo assim os esquemas sociais que dividiam as pessoas em boas e más, puras e impuras. Ele sabia do risco que estava correndo e, ao chamar um cobrador de impostos para ser seu discípulo, e sentar-se a mesa para comer com os pecadores, Ele quis mostrar que sua missão era a de reunir e salvar aqueles e aquelas que a sociedade farisaica hipócrita rejeitava como maus.

Segue-me! Mateus, que era um cobrador de impostos, se transforma em discípulo de Jesus e também um dos escritores do Evangelho. Importante salientar que o autor do primeiro evangelho, apresenta-nos uma catequese sobre o pecado e sobre a reconciliação, unificando duas narrativas diferentes: uma sobre a vocação de Mateus e outra sobre a discussão surgida pelo comportamento de Jesus, que fazia questão de andar na companhia de doentes, pecadores, prostitutas e também de publicanos, cobradores de impostos. A vocação de Mateus é emblemática, já que, diante do chamado feito por Jesus, ele deixa tudo e imediatamente o segue: “Ele se levantou e seguiu a Jesus”, mostrando sua generosidade e obediência de fé.

Andar com aquela gente não era nada bom. Era correr o risco de se tornar impuro como eles e elas. É por este motivo que os fariseus vão até os discípulos interrogarem sobre aquele comportamento inadequado de Jesus: “Por que vosso mestre come com os cobradores de impostos e pecadores?” (Mt 9,11) Para os fariseus, sendo Jesus quem Ele dizia ser, era inadmissível tal tipo de comportamento. Para eles, Jesus estava provocando um escândalo. Para os fariseus, as más companhias de Jesus comprometiam a sua proposta, sendo Ele um “enviado de Deus”, como dizia ser. Conhecendo-os Jesus os deixam desconcertados com a resposta direcionada a eles: “Aqueles que têm saúde não precisam de médico, mas sim os doentes”. (Mt 9,12)

Assim como Deus, Jesus não quer condenar o pecador, pelo fato de ser quem ele é. A pedagogia de Jesus é a de libertar a pessoa, perdoar, e não condenar. Cheio de amorosidade, que é a característica teologal divinal de Deus, Jesus quer perdoar para reintegrá-lo na comunidade, mantendo viva assim a sua amizade com o Deus da vida, que muito ama a todos e todas. Ele que, ao nos amar infinitamente, pensa diferente da maioria de nós quando diz: “Quero misericórdia e não sacrifício”. (Mt 9,13) Diferente de Jesus, somos todos pecadores e pecadoras. Erramos, falhamos, tropeçamos na nossa forma de amar e perdoar. Assim sendo, não devemos nos conformar com os nossos erros e percalços na forma de viver a fé. Importante é ter a atitude corajosa de Mateus que tudo deixou por Ele. No mais, não nos esqueçamos jamais, de uma das falas ditas por Jesus, e que deve tocar o nosso coração sempre: “Deus enviou o seu Filho ao mundo, não para condenar o mundo, e sim para que o mundo seja salvo por meio dele”. (Jo 3,17)

Luiz Cassio

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