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Sede misericordiosos (Chico Machado)

Quinta feira da 23ª Semana do Tempo Comum. No mês das flores, que já despontam, estamos atravessando o 256º dia do ano. Outros 110 estão vindo em nossa direção. Se os dias são únicos e não voltarão, devemos vivê-los na intensidade máxima do que podemos ser e dar de nós mesmos. Um passo de cada vez, e assim sucessivamente, em busca das nossas realizações pessoais e coletivas, já que fazemos parte da irmandade maior do criador. Como diria o mineiro Chico Xavier: “Os dias de dificuldades passarão… Passarão, também, os dias de amargura e solidão”. Santa Tereza D’Ávila completaria: “Tudo passa, Deus não muda”. O esperançar de Deus faz com que os dias sejam plenos enquanto durarem as horas.

Com o passar dos anos, vamos ficando mais velhos na idade. O avançar da idade, significa que estamos vivos, mas também sobrando em experiência, diante das histórias já vividas. A serenidade vai ganhando espaço no nosso coração e pensamento. Saber viver bem é o objetivo primeiro ao qual Deus nos plasmou no seio deste Cosmos. Assim, vamos caminhando em direção aos nossos sonhos e ideias do bem viver. Neste sentido, o educador Mário Sérgio Cortella, tem uma frase que resume bem o nosso ser neste mundo: “Tem coisa que eu quero, mas não devo, tem coisa que eu devo, mas não posso e tem coisa que eu posso, mas não quero”. Assim caminhamos nós, tornando-nos serenos com o tempo, fazendo do nosso existir aquilo que Confúcio nos adverte: “O sábio teme o céu sereno; em compensação, quando vem a tempestade ele caminha sobre as ondas e desafia o vento”.

“Sede misericordiosos, como também o vosso Pai é misericordioso” (Lc 6,36), ensina-nos Jesus no texto que refletimos no Evangelho desta quinta feira. “Deus misericordioso”. Ele nos revela seu rosto e seu coração, rico em clemência e lealdade. Ele tem compaixão e está sempre disposto a acolher, a compreender e a perdoar. A paciência de Deus é infinita, em nos acolher, toda vez que damos um passo atrás e resolvemos voltar ao convívio com Ele. A palavra “misericórdia” evoca um comportamento de ternura e amorosidade. O termo hebraico, usado na Bíblia, significa entranhas, e faz pensar no amor maternal de Deus, amando-nos infinitamente, protegendo-nos, dando-Se todo inteiro, gratuitamente por nós.

A palavra ”misericórdia”, utilizada na Bíblia, foi traduzida do termo hebraico “hesed“ para o grego “éleos”. Esta terminologia grega “Éleos” tem estreita relação com o útero da mulher. Ela que gesta e gera a vida nas suas entranhas maternais. Faz sentido então associar a palavra misericórdia com o amor da mulher que é mãe, já que ela ama sem medidas e também sem pedir nada em troca. Amorosidade em pessoa! Ama porque ama, com a ternura de sempre, de um coração inflado de amorosidade pelo ser criado. O ventre materno é sagrado porque a vida é dom de Deus. Maria soube disso, quando ouviu do anjo: “bendito é o fruto de teu ventre” (Lc 1,42). Todo fruto do ventre é bendito, digno de ser amado, protegido, amparado!

Nossa vida em sociedade é feita de relações que vamos estabelecendo. Ninguém vive sozinho neste mundo. Não foi para isso que fomos criados. Nossa individualidade se faz na diversidade que constitui o ser social, ao qual estamos inseridos. Nosso ser se completa com os demais seres. Todavia, nossa sociedade é também constituída por relacionamentos de interesses e reciprocidade, que geram lucro, poder, prestígio e privilégios. A palavra de Jesus vem revolucionar este campo último das nossas relações. O Evangelho subverte as relações humanas individualizadas de forma egoísta, mostrando que, numa sociedade justa e fraterna, as relações devem ser gratuitas, à semelhança do amor misericordioso de Deus, Pai e Mãe de todos nós.

“Sede misericordiosos, como também o vosso Pai é misericordioso” (Lc 6,36), O texto paralelo no Evangelho de Mateus é muito mais exigente e difícil de ser colocado em prática, pois ele assim escreve: “Sede ‘perfeitos’ como é perfeito o vosso Pai que está no céu” (Mt 5, 48). Os exegetas entendem que o escrito de Lucas está mais próximo daquilo que fora dito por Jesus de Nazaré, e também fundamentado nos textos do Antigo Testamento, sobretudo no Livro do Êxodo: “Deus de compaixão e piedade, lento para a cólera e cheio de amor e fidelidade”. (Ex 34,6) Deus é amor! Amor imenso e misericordioso, amor paciente e indulgente, amor gratuito e incondicional. Desta forma, todas as formas de amar valem a pena se o amor está em cena!

Luiz Cassio

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