Terceiro Domingo da Quaresma. Tempo em que somos convidados a buscar a nossa conversão. Quaresma é tempo de conversão. Mudar a vida por inteiro. Sair do comodismo e da indiferença, para abraçar a fé crista de forma coerente e fiel aos ensinamentos de Jesus. Ele mesmo que nos disse: “Convertei-vos, porque o Reino dos céus está perto”. (Mt 3,2) Um convite à uma mudança radical de vida, porque já se aproxima o Reino, que vai transformar radicalmente as relações entre as pessoas. De nada adianta ter uma fé teórica, vivida apenas nos espaços “sagrados” dos templos, mas que precisa ser feita de opções e atitudes concretas, que cada um e cada uma assumem. Converter para caminhar lado a lado com Jesus, levando adiante a proposta d’Ele, na procura do Reino.
O Domingo é um dia especial. Dia do Senhor! Nele, celebramos o Dom da vida como gratuidade de Deus à nós. Celebrar a vida de maneira especial é reconhecer que ela nos foi dada pelo Criador, para que a vivamos na sua intensidade maior. Por mais difícil que seja o caminhar pelas veredas da existência, devemos sempre nos lembrar, de que Ele é conosco, como já nos recordara o salmista: “Deus é o nosso refúgio e a nossa fortaleza, auxílio sempre presente nas adversidades”. (Sl 46,1) Ter uma fé consistente e provada no fogo, nos faz sempre acreditar, que estamos no caminho certo, e que não estamos sozinhos nesta tarefa de construir relações de fraternidade, solidariedade e amorosidade, lembrando daquilo que nos disse o Livro do Apocalipse de São João: “Eis que estou à porta e bato. Se alguém ouvir a minha voz e abrir a porta, entrarei e cearei com ele, e ele comigo”. (Apoc 3,20) Lembrando que quem abre a maçaneta somos nós.
Um domingo especial para a população mundial e mais especificamente para a Igreja Católica. Depois de cinco semanas e 38 dias de internação, o Papa Francisco, recebeu alta e pôde finalmente saudar os fiéis. Foram poucas palavras, mas repletas de significado “Obrigado a todos”. Louvado seja Deus pela vida de nosso pontífice, que tem ainda uma missão importante a cumprir, levando adiante as transformações urgentes e necessárias, para adequar a nossa Igreja aos anseios de Jesus. Os médicos alertaram que Francisco estava mais magro. Porem, o Papa apareceu bem, com um semblante sereno, acenando para os fiéis com o sinal de “joia” com o polegar. Felizmente, deixou o hospital rumo à Casa Santa Marta e, na sequência, voltou ao Vaticano. Durante estes dias que esteve internado, Francisco, como homem simples que é lembrou: “Experimentei a paciência do Senhor”.
Em tempos de redes digitais, como adepto da boa leitura que sou, não poderia deixar de lembrar o dia 23 de março. Na data de hoje, nascia em Frankfurt, o grande psicanalista, filósofo e sociólogo alemão Erich Fromm (1900-1980). Como estamos falando de conversão, uma de suas frases nos ajuda a pensar a vida, sob novas perspectivas: “Você tem que parar para mudar de direção, pois a grande escolha de um homem e aquela em que ele se transcende, é criar ou destruir, amar ou odiar”. Passei os bons tempos dos estudos de filosofia, debruçado sobre as obras deste pensador humanista, sendo que um de seus livros, publicado em 1976, ainda permanece como fonte de pesquisa e inspiração ao qual aconselho a leitura: “Ter ou ser?: Uma introdução ao pensamento humanista”.
Mas voltando ao contexto litúrgico, que é o objetivo primeiro destes meus rabiscos diários, se no Primeiro Domingo da Quaresma, vimos um Jesus sendo tentado/provado no deserto, e no segundo, transfigurado e exaltado pelo Pai, diante da Lei e os Profetas, tendo por testemunhas alguns de seus discípulos, hoje o vemos, mais especificamente, no clima quaresmal. A temática do Evangelho de Lucas de hoje, nos remete não à identidade de Jesus, como nos domingos anteriores, mas envolvido numa exortação direta aos discípulos, para que tivessem o cuidado quanto à sua conversão: “Se vós não vos converterdes”. (Lc 13,3) Ou seja, diante de todos os ensinamentos do Mestre, necessário que haja, por parte dos discípulos de Jesus, e de todos os seus seguidores e seguidoras, uma mudança radical de vida. Do contrário, seremos semelhantes aos escribas e fariseus, que exigiam tal atitude dos outros, mas não tinham esta necessidade, como projeto para as suas vidas. Jesus que alerta o seu discipulado a pensar na conversão, para que sejam capazes de construir a nova história.
O texto de hoje finaliza com mais uma parábola (vv. 6-9) contada por Jesus, para que seus ouvintes, chegassem por si mesmos à uma conclusão. A Figueira preservada significa que Deus sempre dá uma última chance. Chance esta acompanhada dos cuidados necessários, para que a árvore possa produzir os seus frutos no momento adequado e oportuno. Como esta árvore, todos e todas, precisamos de adubos para que os nossos frutos também aconteçam. Adubar o chão das nossas vidas com palavras de afeto, carinho, cuidados, para que as “árvores” com as quais convivemos sejam produtivas, sem a tradicional hipocrisia espiritual. Somos chamados a uma fé autentica e verdadeira para que produzamos frutos visíveis e concretos, e não tenhamos apenas uma aparência externa de religiosidade.
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