Quarta feira depois da Epifania.
Caminhamos em direção aos nossos ideais, às nossas realizações humanas. O Natal vai ficando para trás O período da convivência com a infância de Jesus vai se distanciando.
Como vimos, o Natal é um tempo muito especial; pois motiva a nossa fé, provoca a alegria pelo acolhimento do Filho de Deus feito Humano. É um período bem curtinho. Que vai da véspera do Natal do Menino que se faz Deus, até o primeiro domingo depois da Festa da Epifania, agora no comecinho do mês de janeiro. Neste período, a nossa Igreja nos propõe a celebração das festas da Circuncisão do Senhor, da Sagrada Família de Nazaré, de Maria Mãe de Deus, da Epifania, dos Reis Magos e, por fim, do Batismo do Menino Jesus. E assim fecha este ciclo.
A liturgia desta quarta feira nos traz um texto extraído do Evangelho de Marcos. Não devemos nos esquecer que este evangelista tem um propósito muito claro ao escrever o seu evangelho. Nesta sua narrativa, ele se propõe responder a pergunta: quem é Jesus afinal? Só que ele não o faz através de um tratado teológico ou exegético, mas vai elucidando a pessoa de Jesus através de seus feitos, suas obras, suas ações naquele contexto do Jesus histórico, caminhando em meio aos seus. Ou seja, Marcos está preocupado em relatar a atividade da prática messiânica de Jesus, para que os seus leitores cheguem à conclusão por si mesmos, de que aquele Jesus era o Messias, o Filho de Deus (Mc 1,1)
Posto isso, o contexto de hoje é aquele posterior ação de Jesus em saciar a fome daquela multidão. Depois desta prova de fogo para os seus seguidores e seguidoras, Jesus os convida a ir mais além e avançar para a outra margem. É quando então eles se deparam com os ventos que sopram em contrário. Ventos que impedem a embarcação de seguir o seu percurso mais tranquilo. Diante desta situação temporária, o medo toma conta daquela gente, mesmo sabendo que estavam com Ele. Talvez lhes faltasse a firme convicção de que Ele, com eles estava.
“Coragem, sou eu! Não tenhais medo!” (Mc 6,50) Na verdade, os discípulos estavam muito amedrontados. Todos sabem que o medo inibe a ação. Quem se vê em situações como estas se retraem. A primeira atitude de Jesus diante deste quadro é devolver-lhes a coragem e a certeza de que Ele ali estava. A palavra “coragem’ chega a ser enigmática, pois ela advém do latim “coraticum”, que quer significar a bravura de quem age pelo coração. A raiz da palavra é “cor”, que significa coração. Então é do coração que vem a força interior que motiva a coragem em forma de ação. É como se o coração representasse a mente e a alma da pessoa. Sem um coração vibrante, o medo se faz presente inibindo a ação, o ânimo e a força de vontade para superar os obstáculos e enfrentar os problemas.
Estou aqui, minha gente! Não tenhas medo! Aqui o evangelista volta ao passado, colocando na boca de Jesus, aquilo que está escrito no livro do Êxodo: “Eu Sou”, (Ex 3,14) Naquele contexto, para Marcos, os discípulos não conseguem ver em Jesus a presença do próprio Deus ali manifestado. Como no Antigo Testamento em que Deus se apresenta como aquele que está presente, também aqui, Jesus se faz presente entre eles como a revelação plena de Deus em si. Mais do que um fantasma, Jesus é aquele que é. Eu sou aquele que sou! É Deus mesmo que se faz presente n’Ele e por Ele, permitindo que os seus possam também fazer esta experiência mais profunda de Deus em suas vidas. A missão do discipulado de Jesus é remar contra a correnteza.
Os ventos adversos estão presentes em nossas vidas. Frequentemente também nós, somos dominados pelo medo. Como discípulos e discípulas de Jesus, há momentos que os ventos contrários, tentam nos fazer desistir de seguir adiante. As dúvidas, as incertezas e as angústias tomam conta de nossos corações, tentando impedir que a coragem possa sobressair e ser esta força interior capaz de nos motivar à ação. Nestas horas, vale aquilo que Jesus nos diz a cada momento como este: “Coragem! Não tenham medo! Sou Eu que aqui estou e juntos vamos seguir em frente. Mesmo que sopre o vento forte. Mesmo que a embarcação da nossa vida seja chacoalhada pelas ondas fortes. Mesmo que o nosso caminhar seja cambaleante. Mesmo que os dias sejam difíceis de serem vividos. Não nos esqueçamos que não estamos sós. Conosco caminham aqueles que vão na mesma direção. Conosco está Ele, que se faz um de nós a cada dia de nossa vida. “Eu Sou” é a Luz de nosso existir. Sendo assim, que possamos dizer juntos com o filosofo grego Platão: “Podemos facilmente perdoar uma criança que tem medo do escuro; a real tragédia da vida é quando os homens têm medo da luz”.
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