Quinta feira da Vigésima Semana do Tempo Comum. Festa da Bem Aventurada Virgem Maria, Rainha da Paz. Rainha do projeto libertador de Deus para a humanidade. “Alegra-te, cheia de graça, o Senhor está contigo!” (Lc 1,28) Maria Rainha, mediadora da paz. Tudo está interligado ao Messias, e traz a marca da divindade do Ser Absoluto de Deus. Se a amorosidade e generosidade transborda no coração de Jesus, foi através de Maria que “empresta” o seu útero para gestar a superabundante generosidade do amor divino, já que Deus a cumulou de todos os bens e graças. Maria é Mãe e Rainha, porque foi coroada duplamente com a virgindade e a maternidade divina. ”De agora em diante, todas as gerações me chamarão bem-aventurada, porque o Poderoso fez grandes coisas em meu favor”. (Lc 1,48)
Desde os primórdios do cristianismo, que Maria é venerada através de cânticos de louvor e de devoção, Como Rainha do céu. Contudo, esta festa foi instituída pelo Papa Pio XII, na carta encíclica “Ad Caeli Reginam”, no dia 11 de outubro de 1954, para ser celebrada no dia 31 de maio. Todavia, depois da Reforma Litúrgica, ocorrida no Concílio Vaticano II (1962-1965), ela foi transformada em memória para oito dias depois da Festa da Assunção de Nossa Senhora. Assim a Solenidade da Assunção de Maria ao Céu está intimamente ligada à memória de Maria Rainha. Santo André Corsini (1302-1373), assim resume sobre Maria: “Com razão só ela é chamada cheia de graça, porque só ela conseguiu a graça que nenhuma outra merecerá, a de ser cheia do Autor da graça”.
Minha devoção mariana deu um salto de qualidade, assim que cheguei a esta Igreja e passei a conviver mais de perto com o nosso bispo Pedro, e acompanhar a sua forma original de se relacionar com a Mãe de Jesus e nossa. A “Comadre de Nazaré”, era a sua companhia inseparável e fiel escudeira. Eu, que já tinha certa resistência em seguir alguns relatos das “aparições” de Maria, passei também a vê-la como uma pessoa especial e muito próxima das nossas lutas, no chão vermelho de terra batida das comunidades aqui da prelazia. Desta forma, vejo que Pedro foi muito feliz quando em um de seus poemas, ele retrata a participação decisiva da Família de Nazaré no itinerário formativo sócio teológico de Jesus: “No ventre de Maria, Deus se fez homem, mas na oficina de José Deus também se fez classe”.
Oito dias após a Solenidade da Assunção de Maria, aqui estamos, portanto, celebrando a festa de nossa maior rainha. Nossa Senhora Rainha, Maria Mediadora da paz. Celebrar esta festa é assumir o compromisso como cristãos, seguidores de Jesus, trazendo em nós o objetivo de reconhecer a participação decisiva de uma mulher nos planos de Deus em salvar a humanidade. Maria é a Mãe de Deus e Rainha da Paz. Este espirito devocional nos inspira a lutar para que a paz não esteja apenas nas intenções das pessoas, mas que seja transformada em gestos concretos, para que se consolide e torne perene a paz entre todos os povos. Como nos dizia o físico alemão Albert Einstein (1879-1955): “A paz é a única forma de nos sentirmos realmente humanos”.
Para esta quinta feira, a liturgia sempre nos reserva o texto do Evangelho de Lucas 1,26-38. De todos os evangelistas, este é o único que nos traz relatos da infância de Jesus e das aparições do anjo à família de Isabel/Zacarias e a Maria e José. Mateus também faz alguns relatos, entretanto, enquanto Lucas se concentra nos relatos que antecedem ao nascimento de Jesus, Mateus por sua vez, trata dos eventos posteriores, principalmente em relação à pessoa de José. Mateus faz uma “midraxe”, que é um método judaico de interpretação bíblica que consiste na releitura e recontagem de determinada narrativa, acrescentando-lhe outros detalhes.
Maria, Rainha da Paz! Os primeiros cristãos invocavam Maria como Rainha da Paz. Sempre ligada a seu Filho Jesus. Talvez aqui haja uma referência direta a um dos oráculos do profeta Isaias: “Porque nasceu para nós um menino, um filho nos foi dado: sobre o seu ombro está o manto real, e ele se chama ‘Conselheiro admirável’, ‘Deus Forte’, ‘Pai para sempre’, ‘Príncipe da Paz’”. (Is 9.5) Jesus Cristo é a nossa paz, afirma Paulo (cf. Ef 2, 14). Maria é mãe do príncipe da paz. O Menino que nasceu para nós é o fruto bendito do ventre de Maria, é o Senhor, fonte da paz. Maria é a representante da comunidade dos pobres que esperam pela libertação. Dela nasce Jesus Messias, o Filho de Deus. O fato de Maria conceber sem ainda estar morando com José indica que o nascimento do Messias é obra da intervenção divina. Aquele que vai iniciar nova história surge dentro da história de maneira totalmente nova. Maria da Paz nos convida a sonhar a utopia da paz, acreditando em Jesus e realizando as obras de paz, que são testamento seu e dom do Espírito para nós.
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