24º Domingo do Tempo Comum. Mais outros dez domingos e encerramos liturgicamente o Tempo Comum do Ano B, com a Festa de Cristo Rei, que neste ano cairá no dia 24 de novembro. Como sempre, neste ano B, a liturgia nos possibilita refletir com o Evangelho de Marcos. Por este Evangelho ser mais sucinto que os demais, a liturgia recorre ora a Mateus, ora a Lucas e até João, quando se trata das Solenidades, como foi o caso de ontem, com a Exaltação da Santa Cruz (Jo 3, 13-17), Tudo isso, graças a Reforma Litúrgica, trazida com a Constituição Sacrosanctum Concilium, ocasionada com o Concílio Vaticano II (1962-1965)

Meu domingo acordou mais cedo. Quis fazer o meu momento de oração matinal às margens do Araguaia, contemplando tristemente a outra margem do rio, com a Ilha do Bananal em cinzas. O fogo foi cruel com ela. Centenas de pássaros que fazem a sua morada ali, a estas horas, estão desalojados, ou estão fazendo companhia a São Francisco de Assis, nos braços do Pai/Mãe Criador. Afirmar que o excessivo calor provoca as queimadas, é chamar-nos de idiotas. Estou aqui na Prelazia desde 1992. Confesso que nunca tinha visto nada igual a este ecocídio ambiental. Já estou sentido a falta de alguns dos ilustres visitantes em meu quintal.

Neste domingo, o Evangelho de Marcos 8, 27-35, nos traz uma perícope narrando o dialogo, olho no olho, de Jesus com os seus discípulos, com a forte profissão de fé de Pedro, falando em nome de todos os discípulos, e o primeiro anúncio da paixão. Jesus está a caminho de Jerusalém, passando pela região de Cesareia de Felipe, cidade localizada ao norte do Mar da Galileia, na região do Monte Hermom, e faz um balanço de sua atividade messiânica terrena, com uma pergunta crucial: “Quem dizem os homens que Eu sou?” (Mc 8,27) A resposta dita pelos discípulos ao Mestre, mostra que o povo ainda não tinha conhecimento pleno de quem Jesus era de fato: “Uns dizem João Baptista; outros, Elias; e outros, um dos profetas” (Mc 8,28). Ao que Jesus devolve a eles a pergunta, desta vez, para que eles mesmos dissessem quem era Ele para eles?

O contexto do Evangelho de hoje está presente nos três Evangelhos Sinópticos: Mc 8,27-35; Mt 16,13-19 e Lc 19,16-22. Por ter uma riqueza maior de detalhes, alguns exegetas afirmam que o texto de Marcos, está mais próximo da realidade dos fatos que a Cristologia chama do Jesus histórico. Lembrando que Marcos é o evangelista que escreve o seu texto com o objetivo e finalidade primeira de responder à pergunta: “Quem é Jesus?”. Este evangelista, porém, não responde com doutrinas teóricas ou discursos de Jesus. Ele apenas relata a prática ou atividade de Jesus, deixando que o próprio leitor chegue por si mesmo à conclusão de que Jesus é o Messias, o Filho de Deus (cf. 1,1; 8,29; 14,61; 15,39).

Tal pergunta de Jesus no texto de hoje, força o discipulado a fazer uma revisão de tudo o que Ele havia realizado no meio do povo, sobretudo dos mais pobres. Esse povo não entendeu quem é Jesus. Os discípulos, porém, que o acompanham mais de perto, reconhece-no, através de Pedro, que Jesus é o Messias: “Tu és o Messias”. (Mc 8, 29) Toda a ação messiânica de Jesus consiste em criar um mundo plenamente humano, onde tudo é de todos e repartido entre todos. Essa proposta messiânica bate de frente com a estrutura de uma sociedade injusta e desigual, onde há ricos à custa de pobres e poderosos à custa de fracos. Talvez por este motivo, Jesus pede que os seus discípulos não falassem nada acerca de que Ele era, de fato, o Messias enviado por Deus, até porque, Ele ainda passaria pelo calvário da sua paixão, morte e Ressurreição.

A pergunta feita por Jesus a seus discípulos, continua ainda sendo feita a seus seguidores e seguidoras, que fizeram a sua adesão à seu projeto libertador do Reino. “Quem Eu Sou para vocês? (Mc 8,29) Uma pergunta que mexe com toda a estrutura da nossa fé. Todavia, não há como responder a esta pergunta apenas de forma teórica, ou de um mero sentimento interior. A resposta deve brotar do fundo do coração daqueles e daquelas que creem. A nossa resposta dada, denota o tipo de fé que temos. Uma fé infantilizada e cheia de devoções abstratas, ou uma fé consistente que é traduzida em atos, por meio das ações que realizamos em sintonia com o projeto de Jesus nas causas do Reino. Falar que Jesus é o Messias não é o mesmo que falar que acredita n’Ele, mas não fazemos as coisas que Ele quer que façamos. “A fé sem obras é morta”, dir-nos-ia Tiago 2,17. Desafiante não é “ter fé em Jesus”, mas “ter a mesma fé de Jesus”. A verdadeira fé abre a porta do impossível. Quem é Jesus para você mesmo?

Luiz Cassio

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