Sexto Domingo do Tempo Comum. Um domingo em que estou distante de casa mais, especificamente, respirando o ar quente da capital matogrossense. O dever e a obrigação sindical me chamaram para cá, onde estamos discutindo, nestes dois dias, as demandas da luta e dos direitos supra negados da classe trabalhadora dos profissionais da educação aqui do estado. Uma categoria sem a devida valorização de seu trabalho, na arte de promover uma educação de qualidade social para os estudantes da rede pública, Fundamental e Médio de nossas escolas.

Estou distante de meu Araguaia, mas muito próximo dele. No dia de hoje, 16 de fevereiro, a Espanha via nascer, em 1928, um de seus mais ilustres filhos. Pedro Casaldáliga. Mal sabia Balsareny, província de Barcelona, que aquele homem, mudaria a história no “Vale dos Esquecidos”. Naturalizado brasileiro, foi o primeiro bispo da Prelazia de São Félix do Araguaia, sendo reconhecido internacionalmente por sua incansável luta na defesa dos Direitos Humanos, especialmente dos Povos Indígenas e marginalizados, e também por suas posições políticas e religiosas a favor dos empobrecidos.

Na data do Nascimento de nosso profeta, se vivo estivesse fisicamente entre nós, estaríamos comemorando o seu 97° aniversário. Num dia como este, aproveitamos para celebrar a sua memória, fazendo renascer a cada dia o seu legado, muito presente em muitos daqueles e daquelas que o conheceram ou com ele conviveram mais de perto. Pedro vive em muitos dos/das “Cabras da Prelazia”, espalhados por este Brasil afora.

Rezei agradecido a Deus nesta manhã por ter tido a coragem de romper as fronteiras de uma vida religiosa congregacional e ter vindo parar nesta Prelazia. Conhecer Pedro e ter convivido com ele, foi um grande achado para a minha vida. Evidente que sempre vou ser muito grato aos Redentoristas, pela esmerada formação que me deram, mas, com a ajuda de Pedro, ao lado dos povos indígenas, me encontrei e descobri a vocação, a que fui chamado. Muito me ajudou também o Objetivo Geral da Primeira Carta Pastoral desta Igreja: “Viver e anunciar a Boa Nova do Evangelho com alegria, jeito humilde e paixão, para acolher o Reino de Deus e contribuir em sua construção já aqui na Terra, na esperança do Reino Definitivo”. Viva Pedro! Pedro vive!

Reino de Deus anunciado por Jesus. Coincidentemente, no dia do aniversário do profeta do Araguaia, o texto da liturgia de hoje, nos traz exatamente uma reflexão sobre a profecia de Jesus, em contraposição aos falsos profetas de ontem e de hoje. Na proclamação das Bem Aventuranças, Jesus alerta aqueles que se colocam na condição de profetas, mas que não passam de falsos profetas. “Ai de vós quando todos vos elogiam! Era assim que os antepassados deles tratavam os falsos profetas”. (Lc 6,26)

Entre as Bem Aventuranças, direcionadas aos pequenos, pobres e humildes, e os “aí de vós” ditas aos arrogantes e prepotentes, Jesus anuncia o Reino com todas as letras. O povão vem de todas as partes ao encontro de Jesus, porque as palavras e ação d’Ele faz nascer a esperança de uma sociedade nova, libertada da alienação e dos males que afligem as pessoas. Este texto nos apresenta o cerne de toda a atividade de Jesus: produzir uma sociedade justa e fraterna, aberta para a novidade de Deus. Para isso, é preciso libertar os pobres e famintos, os aflitos e os que são perseguidos por causa da justiça. Todavia, só se alcança esta perspectiva, denunciando aqueles que geram a pobreza e a opressão, depondo todos eles dos seus privilégios. Não é possível abençoar o pobre sem libertá-lo da pobreza. Não é possível libertar o pobre da pobreza sem denunciar o rico para libertá-lo da riqueza.