Sábado da segunda semana do Advento.

Francisco (Chico) Machado. Missionário e escritor.

Seguimos na nossa trilha histórica fazendo acontecer os dias de realizações. Apostar no hoje com perspectivas para o amanhã de boas vibrações. O Deus que é presença viva na história caminha conosco pelas veredas da vida. Mesmo que tropeçarmos, a força divina nos ajuda a levantar e seguir adiante. Não nos faltarão as dificuldades rotineiras, mas mesmo diante delas, teremos mais força para reerguer-nos quando estamos unidos a Ele, o Deus vivo e verdadeiro. “Embora eu caminhe por um vale tenebroso, nenhum mal temerei, pois junto a mim estás”.(Sl 23,4)

O dia de hoje é um dia especial para a história da humanidade: Dia Internacional dos Direitos Humanos. Data esta que a Assembleia Geral das Nações Unidas proclamou em Paris, França, a Declaração Universal dos Direitos Humanos, no ano de 1948. Estávamos saindo de uma grande guerra (Segunda Guerra Mundial – 1939-1945). O objetivo deste marco histórico é sensibilizar a população acerca dos Direitos Humanos e de que forma ele pode ajudar na manutenção da ordem, da justiça, da igualdade e da paz. Ao contrário daquilo que alguns possam imaginar, os Direitos Humanos são direitos fundamentais inerentes ao ser humano com vistas à sua plena realização. O principal fundamento dos Direitos Humanos é a garantia da dignidade humana, ponto!

Somos o povo da esperança. Nascemos para alcançar a plena realização humana. Fomos criados por Deus para a plenitude. O Deus que é vida plena se fez plenitude em nossas vidas na pessoa do Filho que veio nos visitar. Estabelecer morada definitiva em nossa realidade humana. Deus-conosco, Messias Verbo encarnado. Com a contribuição significativa de Maria, mulher pobre da periferia de Nazaré, Deus entra pela porta de frente de nossa realidade histórica, nos fazendo ver que a salvação não nos vem dos átrios sagrados do grande templo de Jerusalém, mas do meio dos pobres e desvalidos. De onde não se esperava nada, nos vem o Deus Menino: “Porque nasceu para nós um menino, um filho nos foi dado: sobre o seu ombro está o manto real, e ele se chama Conselheiro Maravilhoso, Deus Forte, Pai para sempre, Príncipe da Paz”. (Is 9,5)

Não temos motivo algum para desanimar quando a nossa perspectiva esta fundada no horizonte de Deus. A vida não para e não podemos também parar de sonhar com um novo amanhã. A profecia de Deus se faz esperança em nossas vidas. O Advento de Deus se realiza na pessoa de um frágil menino. Acreditar e esperançar n’Ele, fazendo a nossa parte para que a história se viabilize pelas nossas mãos. Sem deixar cair a profecia, como nos dizia Dom Hélder Câmara. Ou no dizer de nosso bispo Pedro, “Nós somos o povo da esperança, o povo da Páscoa. O outro mundo possível somos nós! A outra Igreja possível somos nós! Devemos fazer questão de vivermos todos cutucando, agitando, comprometendo. Como se cada um de nós fosse uma célula-mãe espalhando vida, provocando vida.” Vida na vida esperançosa de Deus.

Nosso horizonte de inspiração é a pessoa de Jesus, muito embora no texto que nos é proposto pela liturgia para o dia hoje, Jesus esteja falando-nos acerca da rejeição aos profetas e a si mesmo: “assim também o Filho do Homem será maltratado por eles”. Da mesma forma que fizeram com os profetas do Antigo Testamento, também Jesus será rejeitado, perseguido e maltratado por aqueles que se sentem incomodados e ameaçados nos seus planos diabólicos de morte para os pequenos. Os arautos da mentira não suportam conviver com a verdade. Como diria o filósofo e escritor chinês Lao-Tsé: “As palavras verdadeiras não são agradáveis e as agradáveis não são verdadeiras”.

Profecia e esperança. Palavras justapostas na mesma perspectiva do seguimento de Jesus de Nazaré. Muitos foram os profetas e profetisas de ontem e de hoje que tombaram na luta por ver triunfar a justiça do Reino. Muitos que deram as suas vidas pelas mesmas causas do Reino. Profecia que se faz inerente ao discipulado de Jesus, pois aqueles que tramam a sorte do justo não se intimidarão na arte diabólica de tramar contra a vida dos pobres e indefesos, assim como aconteceu ao profeta João Batista. Tudo o que João Batista mais queria era anunciar os tempos messiânicos, realizando o que se esperava com a vinda de Elias. A missão do Batista, porém, não foi reconhecida pelas autoridades do povo, e a trágica morte dele mostra como se realizará a missão do próprio Jesus. Profecia e esperança na voz do salmista quando reza: “Embora atentem contra a vida do justo, e condenem à morte o inocente, o Senhor será a minha fortaleza, Deus será a rocha onde me abrigo. Ele é quem lhes pagará pela injustiça deles, e os destruirá pela maldade que praticam. O Senhor nosso Deus os destruirá!” (Sl 94, 21-23).

 

Nota do Editor:

Leitores e Francisco, com o perdão pelo atraso, mas não poderia deixar de publicar mais esta bela reflexão.