“Tu és pó”. “Tu és Pedra”.
Duas afirmações em contextos diferentes que podem alimentar nossa espiritualidade, desde o primeiro dia de novembro.
Porque tu és pó e ao pó hás de voltar” (Gn 3, 19). “Então o Senhor Deus formou o ser humano com o pó do solo, soprou-lhe nas narinas o alento da vida, e ele tornou-se um ser vivente” (Gn 2, 7).
A síntese da vida humana está aqui condensada como revelação divina, segundo a pedagogia dos autores bíblicos.
Na boca de Jesus, feito carne, pelo sopro do Espírito no ventre de Maria, tem-se a nova criação e a figura complementar que Ele mesmo pronunciou sobre Simão e a comunidade, na origem dos seguidores do seu caminho. Mostrou o destino, a base sólida que nossa adesão a Jesus nos faz ser “pedras viva” para a construção do Reino.
Em Mt 16,13-19, lemos a vocação de todos nós, quando professamos a fé na pessoa de Jesus, após a Ressurreição, quando amedrontados pela morte, pelas diferenças e ameaças de divisão:
“…tu é Pedro e sobre esta pedra construirei a minha Igreja, e o poder do inferno nunca poderá vencê-la”.
A saudade de Jesus, após pender morto na cruz, estava prestes a virar o pó do esquecimento. Mateus não deixa que isso aconteça, e vai recordar o que Jesus revelara para manter a vida presa ao seu coração e perseverante no Caminho, na Verdade e na Vida.
Não existe o dualismo excludente em termos absolutos: “Ser pó ou ser pedra”, diríamos assim se fôssemos incapazes de ver a vida pelo olhar do Espírito vivificador de Jesus, Morto e Ressuscitado.
Somos pó, diria a sabedoria que sintetiza a condição humana precária e finita com a morte corporal.
Somos pedra porque, enquanto corpo, construímos com a matéria criada a história com aqueles que faleceram, mas que vivemos a amizade, criamos laços e consolidamos a esperança na vida eterna.
Pedro e pedra, pó e poeira são apenas lados complementares de uma vida alicerçada em Deus, mesmo sentindo as ausências de muitos de nossa vista. Cremos, que, após a falência bioquímica do nosso corpo, nossos santos sustentam a fé da Comunidade Igreja.
Pedras vivas, memória e saudade, gestos que marcaram nossas histórias! Esses são mais do que pó, são areias acimentadas por Deus Pai para todo e sempre. Memória e gratidão pelos vivos e pelos “mortos”, em cada Missa.
Obs. Essa reflexão nasceu de uma postagem de um amigo que escreveu da experiência com seus avós, nesses termos:
“Um dia, minha vó cega, pediu para me aproximar dela. Curvei-me e ela me puxou para bem pertinho e sussurou nos meus ouvidos: “Afonso, eu eu nasci para virar pedra”.
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