Sexta feira da Sexta Semana do Tempo Comum. O mês de fevereiro caminhando para a sua última semana, em clima de verão. Se no dia de ontem o calor foi absurdo, depois da forte chuva da madrugada, o dia amanheceu mais fresco, aqui pelas bandas do Araguaia e o irmão sol, anunciou o novo dia, ainda que timidamente se escondendo atrás das espessas nuvens. Assim se caracteriza esta estação que, na expressão dos mais “velhos” por aqui é, “mei lá, mei cá”. Fato é que neste ano, as chuvas têm sido mais intensas, para a alegria dos nossos pescadores, já que teremos fartura de peixes neste ano. Neste sentido, o rio Araguaia é só alegria, que o digam os banhistas de cada tarde.
Sexta feira de mais uma data especial. A comunidade mundial comemora nesta sexta feira o Dia Internacional da Língua Materna. Esta data foi proclamada pela UNESCO em 1999, sendo comemorada em todos os seus países membros, objetivando promover, preservar e proteger todas as línguas faladas pelos povos em todo o planeta. A língua materna faz parte da nossa herança linguística e cultural, que deve ser mantida e transmitida de geração a geração. Há uma estimativa afirmando que existam aproximadamente cerca de 7000 línguas em todo o globo terrestre. Se bem que, metade destas corre o sério risco de vir a desaparecer. Que o digam algumas das nossas etnias indígenas, que está perdendo ou já perdeu a sua língua materna.
A língua materna é o elo entre as gerações e a base para a construção da cultura. Ainda bem que prevaleceu a sensatez da Igreja Católica que, com a Reforma Litúrgica, a partir do Concílio Vaticano II (1962-1965), com a Constituição Dogmática Sacrossanctum Concilium (SC 36; 63), abriu espaço e permitiu que as celebrações fossem realizadas na língua vernácula, ou seja, na língua materna de cada país e não apenas em latim. Depois de mais de 60 anos deste importante documento na História da Igreja, o Rito Romano está traduzido na língua mãe de cada país, facilitando enormemente a compreensão e participação dos leigos, que é também um dos pontos fundamentais da renovação litúrgica: “É por isso que a Igreja procura solícita e cuidadosa, que os cristãos não entrem neste mistério de fé como estranhos ou espectadores mudos, mas participem de forma consciente, ativa, por meio duma boa compreensão dos ritos e orações”. (SC 48)
Como leigos conscientes e fazendo uma hermenêutica que nos assegure uma melhor compreensão dos mistérios da fé. Hoje, por exemplo, a liturgia nos oportuniza fazer uma reflexão, quando entramos na segunda parte do Evangelho de Marcos. Este Evangelho é conhecido como “Evangelho Querigmático”, uma vez que o seu autor, relata com profundidade o primeiro anúncio (querigma). Ou seja, a comunidade de Marcos fala de Jesus principalmente como o Filho do Homem, o servo enviado por Deus, que viveu e se sacrificou. Grande parte de Evangelho fala sobre os ensinamentos e as experiências de Jesus como Salvador, durante sua última semana de vida. Marcos prestou testemunho de que o sofrimento do filho de Deus finalmente triunfou sobre o mal, o pecado e a morte. Esse testemunho demonstrou que os seguidores d’Ele não precisam temer; quando eles enfrentarem perseguição, desafios ou até a morte, se estiverem seguindo o Mestre. Eles e também nós, podemos suportar com confiança, sabendo que o Senhor nos ajudará e que todas as suas promessas serão cumpridas.
“Se alguém me quer seguir, renuncie a si mesmo, tome a sua cruz e me siga. Pois quem quiser salvar a sua vida, vai perdê-la; mas quem perder a sua vida por causa de mim e do Evangelho, vai salvá-la”. (Mc 8,34-35) Nesta segunda parte do Evangelho de Marcos, por três vezes Jesus vai profetizar sobre o seu sofrimento, sua morte e sua Ressurreição. Todavia, os seus discípulos demoraram para entender plenamente o que Ele queria dizer. É sabido que, um dos principais detalhes deste anuncio de Jesus, está na humildade e no serviço exigido a cada um de seus seguidores, completando aquilo que Ele já dissera outras vezes: “o Filho do Homem não veio para ser servido. Ele veio para servir, e para dar a sua vida como resgate em favor de muitos”. (Mc 10,45). Jesus mostra que a única coisa importante para o discípulo, a discípula, é seguir o exemplo d’Ele: servir e não ser servido.
Como vemos, Jesus está apontando para o caminho do Calvário, o caminho da cruz. Cruz que não possui valor em si mesma, mas naquilo que ela representa. Ela não é o fim, uma vez que a morte foi vencida pela Ressurreição. A última palavra é a de Deus, e é vida plena para o seu Filho e para todos aqueles e aquelas que entram pelo mesmo caminho. Naquele tempo, a morte de cruz era reservada a criminosos e subversivos. Quem quiser seguir a Jesus tem que estar disposto e disposta a se tornar marginalizado por uma sociedade injusta (perder a vida) e a sofrer o mesmo destino de Jesus: morrer como subversivo (tomar a cruz). O que nos alegra enquanto seguidores e seguidoras d’Ele, é saber que a vida e ação de Jesus não terminam na sua morte. Ele está vivo ressuscitado no meio de nós. A sociedade não conseguirá deter a pessoa e a atividade de Jesus, que irão continuar através daqueles e daquelas que seguirem os seus passos. “Tome a sua cruz e me siga” (Mc 8,34) É pegar e seguir! “Se a jornada é pesada e te cansas na caminhada, segura na mão de Deus e vai!”
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