Sábado da Sexta Semana do Tempo Comum. Em clima quente de dias de verão, vamos construindo a nossa “sina”, edificando o nosso ser, a nossa personalidade neste mundo, de forma ativa e interativa. Cada dia é cada dia! Os dias são únicos, e a oportunidade de fazer diferente está sempre passando à nossa porta. Ser melhor a cada dia é o grande projeto que podemos encampar como rotina para o nosso existir. Sempre haverá a oportunidade de superação nas nossas ações, desde que não nos deixemos seduzir-nos pela acomodação: “deixa estar para ver como vai ficar”. Certamente cairemos várias vezes, já que a vida é dinâmica e se faz também nos tropeços do caminhar. Neste sentido, gosto do pensamento do escritor irlandês do século XVIII, Oliver Goldsmith (1728-1774): “A nossa maior glória não reside no fato de nunca cairmos, mas sim em levantarmo-nos sempre depois de cada queda”. “Levanta, sacode a poeira e dá a volta por cima”, diz a canção.
Num sábado em que estamos ensaiando para entrar na Sétima Semana do Tempo Comum, a Igreja Católica nos reservou para o dia de hoje, a Festa da Cátedra de Pedro. Todos os anos, a festa da “Cadeira de S. Pedro” é colocada no dia 22 de Fevereiro, desde os tempos mais antigos. Ela remonta ao século III, colocando em evidência a missão peculiar que Jesus confiou a Pedro. Muito mais do que um assento, uma cadeira ou parte de um objeto litúrgico do presbitério, quis a Igreja com esta festa fazer o reconhecimento de que a história da Igreja Católica passa necessariamente de geração em geração. Inicia-se na missão que Jesus confiou a Pedro, ao entregar a ele a autoridade sobre o seu povo: “Por isso eu lhe digo: você é Pedro, e sobre essa pedra construirei a minha Igreja, e o poder da morte nunca poderá vencê-la”. (Mt 16,18)
Pedro, pedra, chave! Discípulo primogênito. Este foi o primeiro dos discípulos a ser chamado por Jesus. Um pescador rude, simples, mas de uma capacidade de liderança inata. De Pedro, passa a ser pedra. O novo nome que lhe foi dado por Jesus diz tudo, indicando assim a sua missão de “pedra” fundamental e sólida do edifício que posteriormente seria a Igreja, a comunidade dos seguidores e seguidoras de Jesus de Nazaré. O gesto simbólico da entrega das chaves quer dizer que é com Pedro e por meio dele que o Cristo Ressuscitado realiza a missão na salvação de todos e todas. Jesus, ao usar destas metáforas transmite a Pedro, e também aos demais, que aquele discípulo será o fundamento, a rocha sobre o qual se apoiará o edifício da Igreja; ele terá as chaves do reino dos céus, para abrir ou fechar; e poderá ligar ou desligar, estabelecendo paradigmas para a melhor vivência da fé pelos que creem.
No texto de hoje, característico de Mateus, Jesus começa fazendo um “balanço” de sua missão no meio do povo, interrogando os discípulos sobre o que diziam as pessoas sobre Ele. João Batista, Elias, Jeremias, um profeta qualquer do Antigo Testamento. Ou seja, o povo não tinha exatidão de quem era Jesus, de fato. Entretanto, o Mestre devolve a pergunta agora para os discípulos: “E vós, quem dizeis que eu sou?” (Mt 16,15). Representando o grupo dos discípulos, Pedro assume a dianteira e em nome de todos diz: “Tu és o Messias, o Filho de Deus vivo”. (Mt 16,16). Palavras muito fortes saídas da boca de um humilde pescador, numa verdadeira profissão de fé total na pessoa daquele que o havia chamado para fazer parte daquele grupo, demonstrando assim a sua identidade. Um seguidor de Jesus, representando todos os demais seguidores e seguidoras d’Ele.
“Feliz és tu, Simão, filho de Jonas, porque não foi um ser humano que te revelou isso, mas o meu Pai que está no céu. Por isso eu te digo que tu és Pedro, e sobre esta pedra construirei a minha Igreja, e o poder do inferno nunca poderá vencê-la”. (Mt 16,17-18) Palavras muito fortes saídas da boca de Jesus, segundo Mateus. Palavras proféticas, demonstrando assim a responsabilidade atribuída a um simples pescador. Toda a mística e espiritualidade da Igreja estão contidas nesta frase tão lapidar para o nascedouro da Igreja. Certamente, as primeiras comunidades cristãs, fizeram deste acontecimento histórico entre Jesus e seus discípulos, a base fundante para a caminhada na fé cristã. A missão é clara e objetiva: reunir o povo para seguir a Jesus, o novo Pastor. Esta missão se realiza mediante o anúncio do Reino e pela ação que concretiza os sinais da presença deste Reino. Tal missão só pode acontecer num clima de gratuidade, pobreza e confiança total, comunicando assim o bem fundamental da paz, isto é, da plena realização de todas as dimensões da vida humana.
Pedro é apenas um entre tantos outros dos enviados pelo Senhor, com a missão de testemunhar o Reino. O convalescente Papa Francisco, que hoje exerce a função de nosso líder maior à frente da Igreja é também um deles, e merece todo o nosso respeito e admiração. Como ele, todos podemos e devemos ser portadores da libertação como está inciso na proposta do Reino de Deus. Pedro e todos os que fizerem a sua adesão ao Projeto do Reino, terão o mesmo destino de Jesus: sofrer as consequências da missão que liberta e dá vida nova a todos e todas. Que bom seria se todas as nossas lideranças religiosas (bispos e padres) tivessem esta dimensão de servidores das causas do Reino e não fossem meros ocupantes de cargos eclesiásticos, disputando poder, prestigio carreirista, afastando-se por completo da verdadeira missão de Jesus, confiada a Pedro. Funcionam, às vezes, mais como pedra de tropeço que pedra angular. Ainda bem que tivemos aqui entre nós um Pedro que fez toda a diferença em nossa vida! Ele que nos dizia: “Quanto mais difícil o tempo, mais forte deve ser a esperança”.
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