Quinta feira da Décima Segunda Semana do Tempo Comum. Uma quinta feira especial para a história da Igreja. No dia de hoje, em 27 de junho de 1992, há 32 anos, portanto, acontecia na Catedral de Buenos Aires, a ordenação episcopal do padre jesuíta Jorge Mario Bergoglio, aos 56 anos de idade. A cerimônia foi presidida pelo Cardeal Antonio Quarracino. Aquelke. Bergoglio, já sabia que se tornaria o bispo auxiliar de Buenos Aires. 21 anos depois, é eleito o “Bispo de Roma”, no dia 13 de março de 2013, escolhendo como lema de seu escudo papal, “Miserando ataque elegendo” (“O olhou com misericórdia e o elegeu”). Deu a si o nome de Francisco, em referência a São Francisco de Assis, inspirando-se neste, por causa de “sua simplicidade e dedicação aos pobres”, sendo aconselhado por Dom Claudio Hummes: “Não se esqueça dos pobres”.

Papa Francisco, uma das maiores lideranças mundiais. Um homem simples e de um carisma sem igual, como há muito não se via na história da Igreja. Quebrou todos os paradigmas, tanto que decidiu não ocupar um dos luxuosos apartamentos papais do Palácio Apostólico, após ser eleito, mas na Casa Santa Marta onde, segundo ele, conseguiria viver em comunidade, de acordo com a tradição dos jesuítas, ao lado de padres e bispos que trabalham no Vaticano e de participantes de reuniões e conferências da Santa Sé. Seu nome está escrito nas páginas do Vaticano como um dos homens mais abertos e simpáticos às causas dos que mais necessitam. Como ele mesmo afirmou à época, “a verdadeira felicidade não está na obsessão pelo poder, mas na alegria de servir”.

Apesar de todo seu esforçou em promover uma “Igreja em Saída”, Francisco tem encontrado uma resistência feroz dentro da própria Igreja. Os mais conservadores e adeptos de uma fé fundamentalista e tradicionalista, tem feito do Papa Francisco um de seus algozes. Tudo por causa da provocação que o pontificado de Francisco tem feito no sentido de fazer a Igreja sair da sua zona de conforto, das entre salas das sacristias e das paredes dos templos, para ir aonde o povo sofrido está, sendo “pastores com o cheiro das ovelhas”, como ele mesmo afirma. Evidente que os bispos que se sentem os príncipes da Igreja, e os padres das vestimentas enfeitadas de renda e cores diversas, sentem-se incomodados com alguém que os chama à verdadeira missão de seguir os passos de Jesus de Nazaré, pisando o chão de terra batida.

“A fé sem obras, é morta”, já dizia São Tiago em sua carta (cf. Tg 2,26) Como podemos ver, o único meio de viver coerentemente a fé, é fazer a adesão a Jesus de Nazaré. Não se vive a fé, de forma teórica, abstrata, ou como um mero sentimento interior de acomodação. Só se vive a fé através do compromisso que se manifesta concretamente em ações concretas visíveis. Não se vive a fé baseada em atos de boa vontade, ou de boas intenções, mas a fé se traduz no amor que faz realizar atos concretos de transformação. É assim também que Jesus vai chamar a atenção de seus discípulos no texto do Evangelho que estamos refletindo no dia de hoje: “Nem todo aquele que me diz: ‘Senhor, Senhor’, entrará no Reino dos Céus, mas o que põe em prática a vontade de meu Pai que está nos céus”. (Mt 7,21)

“De boas intenções o inferno está cheio”, diz o dito popular. O que Jesus quer que os seus discípulos/as entendam é que nem mesmo o ato de fé mais profundo, manifestado pelas pessoas, que é o reconhecimento d’Ele como “o Senhor”, faz com que alguém possa entrar no Reino, em função desta sua manifestação de fé. Se este ato de fé pela palavra não for acompanhado de ações, ele se torna vazio e sem sentido. São as ações praticadas que mostram o autêntico reconhecimento de Jesus como Senhor. O verdadeiro seguidor e seguidora de Jesus, são aqueles e aquelas que, pela fé, acolhem a ação do Espírito e a comunica através do amor. Esta é a “passagem para o Reino”.

A liturgia desta quinta feira nos apresenta a conclusão do “Sermão da Montanha”. Como vimos ao longo destes dias todos, a palavra de Jesus é sempre apresentada como resultado de uma ação, e toda ação é sempre ensinamento, anúncio. Jesus falando aos seus discípulos com a autoridade que lhe foi conferida pelo Pai. Entretanto, esta autoridade não se baseia em tradições ou sistemas, e sim na sua própria pessoa. Ele vive e pratica o que ensina aos outros. Jesus não apenas “pregou” o Reino, mas o viveu em gestos e obras de libertação: “quem ouve estas minhas palavras e as põe em prática, é como um homem prudente, que construiu sua casa sobre a rocha”. (Mt 7,24) Construir a casa sobre a rocha é viver e agir de acordo com a justiça do Reino, e não apenas dizendo “Senhor”, “Senhor!”