Terça feira da Sexta Semana da Páscoa. Em decorrência de sua fidelidade ao Pai, Jesus morreu por nós na cruz, mas ressuscitou para nos dar a vida plena. A Páscoa é a Grande festa judaica e cristã, que celebra a Ressurreição de Jesus. Etimologicamente, a Páscoa se origina da palavra em latim “Pascha”, que por sua vez, deriva do hebraico “Pessach ou Pesach”, que significa “a passagem”. Esta “passagem” está descrita no Antigo Testamento como a libertação do povo israelita da escravidão no Egito que duro 430 anos. (Cf Ex 12,40) Assim, no passado, a Páscoa era celebrada pelos judeus para comemorar a liberdade arduamente conquistada pelo seu povo.

Ainda em clima de sororidade (irmandade, empatia, solidariedade) pascal, estamos indo em direção ao nosso grande encontro com o Espírito Santo, em Pentecostes. Até lá, cada dia é um dia especial, em que fazemos a celebração da vida e da vitória de Jesus sobre a morte. Nestes dias todos, somos convidados a renovar nossos votos de amor a Deus e aos irmãos que mais necessitam dos nossos cuidados e aproximação. Nossos olhares estão voltados para Jesus ressuscitado e também para os irmãos e irmãs do Sul do país, que tanto necessitam de todos nós, neste momento histórico. Contemplar o Ressuscitado é ter os olhos da ternura, compaixão e solidariedade para com os desabrigados que tudo perderam, e terão que recomeçar as suas vidas do zero.

Rezar por eles e elas é preciso, mas também manifestar a nossa solidariedade em gestos concretos de irmandade. Rezei pelas famílias sulistas, a partir de meu quintal, que nesta manhã foi agraciado pela presença colorida das dezenas de araras azuis, que vieram degustar os frutos do buritizeiro. Rezamos juntos “franciscanamente”, o Chico de cá e o de lá, enaltecendo o Criador e a dádiva da vida, com todas as suas maravilhas que nos proporcionam em vida, embora as famílias de lá não estejam em condições de verem as coisas, sob a mesma ótica. Hoje, são aquelas famílias, amanhã poderá ser cada um de nós, passando pelos mesmos dissabores e inquietudes.

Somos integrantes da grande família humana, filhos e filhas do Deus da vida. Ele não nos criou para sofrer e sermos castigados, como a “teologia do medo”, erroneamente, incutiu em nossas cabeças, sendo sustentada por alguns de nós ainda. Seu amor incondicional criou-nos para a plenitude da vida. Se algo vai mal conosco, é por causas das nossas opções que vamos fazendo ao longo da vida. Os donos do capital optaram por destruir sistematicamente o Meio Ambiente, em busca do lucro farto. Consequentemente, estamos pagando um alto preço com as mudanças climáticas. Como diria o filósofo iluminista francês Voltaire (1694-1778): “O homem argumenta, a natureza age”.

Tudo isso nos faz pensar, para que possamos agir coerentemente, diante dos desafios da vida. Neste momento, liturgicamente pascal, me veio a mente um dos meus escritores preferidos, e que tem tudo a ver com o momento que estamos vivendo: Thomas Merton (1915-1968). Merton, foi um Monge trapista francês, um dos mais influentes escritores espirituais do século XX. Dentre os seus muitos livros, um deles se destaca: “Homem Algum é uma Ilha”, publicado pela primeira vez em 1955. Foi o meu livro de cabeceira por longos anos, desde os tempos que cursava filosofia. Falando dos conflitos da sociedade contemporânea, este livro mantem uma atualidade impressionante. Este Monge, acertadamente entendia que, “Amar é deixar aqueles que amamos serem eles mesmos e não tentar moldá-los segundo nossa própria imagem. Caso contrário, amaríamos apenas o reflexo de nós mesmos”.

Amar, amando como Deus nos ama. Amar como Jesus nos ama. Amar como irmãos e irmãs que somos. Esta é a conclusão a que chegamos a partir do texto que o Lecionário Litúrgico nos propõe refletir no dia de hoje. Nele Jesus aparece despedindo de seus discípulos. É certo que eles ainda nada entenderam da necessidade desta partida de Jesus. Cada um deles, em seu íntimo, certamente trazia a pergunta: Para onde vais? Sentindo a angústia deles, Jesus os responde: “É bom para vós que eu parta; se eu não for, não virá até vós o Defensor; mas, se eu me for, eu vo-lo mandarei”. (Jo 16,7) Jesus está falando de sua morte, entretanto, ela só poderá ser entendida à luz do Espírito Santo. O mistério de Deus à luz da divindade do Ser maior de Deus.

Conseguir fazer esta leitura teológica, a partir de uma compreensão escatológica, somente o Espirito Santo para nos ajudar a desvendar este mistério salvífico de Deus em Jesus. Somente Ele pode nos fazer chegar a esse entendimento. É por este motivo, que necessitamos fazer o seguimento de Jesus. É através do nosso testemunho, que Jesus continuará presente em nossa história. Guiados pelo Espírito, nos tornamos capazes de interpretar o mundo a partir da palavra e ação de Jesus. Optar por Ele é lutar contra o mal, que está presente nas nossas relações humanas. Diante deste contexto, às vezes, nos sentimos fragilizados, cansados, desanimados e abatidos, mas o próprio Jesus nos convida a ir a Ele para termos força na luta: “Vinde a mim, todos os que estais cansados e oprimidos, e eu vos aliviarei”. (Mt 11,28)

Luiz Cassio

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