Sábado da Quarta Semana do Tempo Comum. Estamos navegando na segunda semana deste mês mais curto do ano. O tempo passa e todos nós ficamos com o desafio de (re) construir este mundo. Muito precisa ser mudado, para que tenhamos uma vida com dignidade, sobretudo para aqueles que são os descartados desta nossa sociedade. Fazer diferente e melhor, é o nosso desafio maior. Em assim pensando, vem-me a mente uma das frases ditas pelo escritor nova-iorquino James Sherman, que disse assim em um dos seus livros, publicado em 1982: “Embora ninguém possa voltar atrás e fazer um novo começo, qualquer um pode começar agora e fazer um novo fim”. Este é talvez, o pensamento que deve nortear as nossas ações, diante de outro mundo possível que devemos edificar.

Fazer diferente como fez o Mestre Galileu. Foi assim pensando que iniciei este meu dia ainda de madrugada, pois quis rezar às margens do Araguaia, na solidão das aguas, correndo velozes para o seu encontro com o rio Tocantins, na tríplice divisa dos Estados de Tocantins, Pará e Maranhão. Isto feito, depois de mais de 2000 mil quilômetros de percurso. Este importante membro da bacia amazônica, que nos encanta, foi o “Sitz im Leben”, ou simplesmente o “contexto vital” de meu momento orante, seguindo as orientações dos estudos que fiz no nosso Centro de Estudos Bíblicos (CEBI). Contemplando toda a beleza natural deste lindo lugar e, com a chuva dando uma trégua, fui premiado com a lindeza do sol nascendo de dentro do chão da Ilha do Bananal. Uma verdadeira teofania (manifestação de Deus) se fez diante de meus olhos orantes.

Como já havia lido o texto do Evangelho de hoje, fiquei ali a imaginar Jesus reunindo os seus apóstolos para, num momento de maior intimidade, fazer o balanço das primeiras atividades que eles haviam realizado, depois de serem enviados para esta tarefa de dar continuidade às ações d’Ele. Certamente estavam todos muito cansados, pois a primeira atitude de Jesus foi os convidar para um merecido descanso: “Vinde sozinhos para um lugar deserto, e descansai um pouco”. (Mc 6,31) Entretanto, eles não contavam que fossem “importunados” por uma grade multidão, que vinha chegando até eles. Só que, a reação de Jesus, demonstra todo o seu afeto e empatia para com aquela gente: “Jesus viu uma numerosa multidão e teve compaixão, porque eram como ovelhas sem pastor”. (Mc 6,34)

Ao agir sempre movido pela compaixão, Jesus revela-nos o rosto amoroso e misericordioso de Deus. Ter compaixão por toda aquela gente, que não tinha ninguém que olhasse por ela, já que as autoridades religiosas daquela época estavam mais preocupadas com os seus interesses e privilégios, movidos pela ganância do poder e do ter sempre mais. O povo pobre e simples estava totalmente abandonado à mercê da sua própria sorte. Evidente que Jesus não ensinou, e nem orientou os seus discípulos, a fazerem o mesmo que estas autoridades, mas anunciar o Reino, acompanhado das ações de libertação, como prática concreta da fé de cada um deles: “Curai os enfermos, limpai os leprosos, ressuscitai os mortos, expulsai os demônios; de graça recebestes, de graça dai”. (Mt 10,8)

Os apóstolos contam entusiasmados a Jesus as suas realizações, mas Ele não os deixa caírem no ufanismo (exagero e orgulho sem medida). As ações devem ser feitas na medida certa e sem o assistencialismo vazio e desprovido de um olhar crítico sobre a realidade. As ovelhas sem pastor necessitam de alguém que esteja lado a lado com elas, apontando a direção da caminhada e da luta pela superação da exploração e da opressão. Ovelhas sem pastor, é como sente hoje uma parte de nossa Igreja. Falta empatia, solidariedade e compromisso com as mudanças por parte de muitos dos nossos lideres religiosos, que reproduzem hoje, a mesma prática dos fariseus do tempo de Jesus.

Ovelhas sem pastor, também abandonadas nos dias de hoje. Falta engajamento e compromisso na luta dos empobrecidos, por parte de um setor da nossa Igreja. Falta uma leitura atualizada da Doutrina Social da Igreja (DSI) e conhecimento do que propôs as Conferências de Medellín (1968), Puebla, (1979) e Santo Domingos (1992). Alguns mais críticos da formação dos novos membros da Igreja hoje, afirmam que é necessário promover uma formação, para além dos muros das casas de formação. Basta sintonizar nas homilias que são feitas por aí, a cada final de semana, ou nos textos escritos nas redes digitais. Lideres religiosos que não conseguem distinguir a conjunção adversativa “mas”, indicando oposição; do adverbio de intensidade “mais”, como indicativo de adição. Como podemos ver, a missão de evangelizar, requer mais do que ter fé em Jesus.