Segunda feira da Quarta Semana do Tempo Comum. O mês de fevereiro iniciando com intensas chuvas aqui pelas bandas do Araguaia. O rio transbordando. Faz, pelo menos, uns 10 anos que não o vemos tão cheio. Com o sol e o calor repentino da tarde de ontem, ele bateu o recorde de banhistas, aproveitando-se de suas belas águas límpidas. Como também sou filho de Deus, me joguei prazerosamente em suas águas. Como não se apaixonar por este rio, retratado assim pelos versos do poeta: “Araguaia, meu Araguaia. De ministérios e de terror. De cascatas e banzeiros. De matas e praias e campos e campos sem fim”.

Se no dia de ontem, celebramos a Festa da Apresentação do Menino Jesus e sua Mãe no Templo de Jerusalém, hoje estamos celebrando a memória de São Brás, que é considerado como o padroeiro dos veterinários, animais, dos pedreiros, escultores, operários de construção e, principalmente, o protetor contra as dores de garganta. Este santo é celebrado pela comunidade cristã católica e também pelos Ortodoxos, embora em datas diferentes. Brás nasceu na Armênia em 264 e morreu martirizado pelos romanos no ano de 316. Pouco se sabe de sua vida, pois sua biografia foi escrita bem depois do seu falecimento. A história mais conhecida é que teria salvado da morte um garoto que estava com uma espinha de peixe atravessada na garganta. Depois de sua morte, São Brás passou a ser invocado para os males da garganta e sua fama se espalhou.

Fama de Jesus que também se espalhou rapidamente a cada um dos seus ensinamentos e feitos, como este de hoje que a liturgia nos traz por intermédio do evangelista Marcos. Um texto bastante longo, constituído de 20 versículos. Trata-se do assim chamado “milagre dos porcos”. Fato este ocorrido numa região bastante conhecida: na região dos Gerasenos. A região dos Gergesenos, é um lugar no lado oriental (Colinas de Golã) do Mar da Galileia, localizado a certa distância das antigas cidades da Decápolis. Segundo Marcos, este episódio aconteceu em Kursi, na terra dos gadarenos, ou gerasenos, situada na parte sul das colinas de Golã. Pode se dizer que Gadara era uma das dez cidades autônomas situadas a sudeste do Mar da Galileia e que eram habitadas predominantemente por não judeus na época de Jesus.

Depois de suplicar-lhe de joelhos a frente de Jesus, Ele cura um homem possuído por espíritos impuros, que morava entre os túmulos de um cemitério naquela localidade. Todavia, o mais curioso desta cena, é que Jesus, ao curar aquele pobre homem, envia tais espíritos para uma manada de porcos, e ela, “mais ou menos uns dois mil porcos – atirou-se monte abaixo para dentro do mar, onde se afogou”. (Mc 5,13) Jesus é o Filho enviado de Deus. Ele triunfa sobre espíritos impuros, libertando os cativos e dando esperança aos desesperançados, mesmo que sejam pagãos, gentios. Todavia, exige de nós uma escolha primordial: amá-lo e amar a todos da mesma forma, fazendo opção radical pelo seu seguimento. Este episódio de hoje é também encontrado nos outros Evangelhos de Mt 8,28-34 e Lc 8,26-39.

O motivo pelo qual os demônios imploraram para entrar nos porcos não está muito claro nos textos bíblicos. Uma das explicações talvez seja porque eles não queriam sair da área onde tinham sido bem-sucedidos, em fazer suas maldades entre as pessoas. Possivelmente, tenham sido atraídos para os animais impuros por causa de sua própria situação de vida. Os demônios podem ter feito esse estranho pedido porque era sua última chance de evitar o confinamento no abismo, o lugar de confinamento ao qual os espíritos malignos estão condenados, segundo o relato extraído do Apocalipse de São João (cf. Apoc 9,1-6) Entretanto, seja qual for o motivo, fica claro no relato, que os demônios não tinham poder algum diante de Jesus, que está sempre pronto a nos libertar das forças do mal que nós mesmos trazemos para dentro de nós e as alojamos em nosso interior.

Um aspecto também importante no texto de hoje é que ele inicia com Jesus e seus discípulos chegando a “outra margem”. Este é também o desafio que todos nós, como seguidores e seguidoras de Jesus devemos sempre buscar “outras margens”, nas opções que vamos fazendo ao longo da vida. “Outras margens” significa sair de nós mesmos, do nosso comodismo, da nossa zona de conforto, para irmos além das fronteiras da nossa indiferença. “Amar a Deus sobre todas as coisas” é também amar para além das paredes do templo, dos ritos, costumes e tradições religiosas, para encontrarmo-nos com aqueles que estão caídos às margens do caminho. Esta outra margem de Jesus de hoje é uma região predominantemente não judaica e pagã, que se tornam também destinatários da mensagem de Jesus. Evidente que, ao assim agir, Jesus ganha a antipatia das autoridades religiosas de seu tempo, que o pedem para ir embora dali: “Então começaram a pedir que Jesus fosse embora da região deles”. (Mc 5,17) Esta também pode ser a reação de alguns de nós, quando não estamos dispostos a amar como Jesus amou.