Os últimos sendo últimos, por Chico Machado.

Francisco (Chico) Machado. Missionário e escritor.

Terça feira de carnaval.
Terça feira da oitava semana do tempo comum. Uma terça feira diferente para mim que, depois de chacoalhar 23 horas para vencer os 1.100 km, que separam São Félix de Goiânia, desembarquei na capital dos goianos. Tudo para fazer retorno médico e exames. A vida como dom maior, precisa ser cuidada. O motor 6.4 dá mostras de que começou a ratear.

Quem ama cuida do outro e também de si. Quem muito ama, muito cuida. Quem não ama não cuida, nem do outro, nem de si. Nossa prerrogativa maior como cristãos, seguidores d’Ele, é a prática do amor. Deus muito nos ama de forma incondicional, por isso cuida de mim e de cada um de nós. Quem está com Deus está com o amor e segue nas mesmas entrelinhas da pedagogia do cuidado.

O capitalismo não ama e nem cuida, só dos lucros daqueles que o detém para si. Daí a proximidade semântica, capitalista com “capetalista”. Como dizia meu amigo do sertão Deodato: “o capitalismo é coisa do capeta”. Um regime que vive do lucro, da exploração e, consequentemente, provocando a exclusão, a dizimação, a fome, a miséria.

O sistema capitalista é uma coisa diabólica, no sentido que divide e não agrega. Ele nega a participação de todos, como o nosso bispo Pedro já nos alertava: “O capitalismo não pode ser cristão. Entendido em sua essência de lucro, acumulação e por causa disso de exploração e exclusão, não pode ser cristão”. Ele se alimenta do sangue dos inocentes, vítimas da excursão.

Diferentemente do Projeto de Deus. Nele a lógica é outra bem diferente daquela que vemos acontecer na sociedade dos homens. Como Jesus mesmo afirma no final do Evangelho proposto para o dia de hoje: “Muitos que agora são os primeiros serão os últimos. E muitos que agora são os últimos serão os primeiros”. (MC 10,31) Fomos criados para a realização plena, todos e todas estamos dentro desta mesma perspectiva.

Seguindo nesta mesma lógica, não entra no Projeto de Deus a mesma linha de raciocínio de Pedro. Ele se apresenta a Jesus com uma proposta meritocrática, como se alguns de de nós fossem diferenciados para Deus. Lembrando que segundo a lógica da sociedade da meritocracia ela se baseia num modelo de hierarquização e premiação, baseado nos méritos pessoais de cada pessoa. Uns são mais merecedores que os demais.

Para Jesus a “recompensa” virá em forma de fidelidade ao compromisso no seu seguimento e na defesa das mesmas causas suas. “Receberá cem vezes mais…” (Mc 10, 30), mas com perseguição, pois a nossa luta será para que os que hoje ocupam últimos lugares sejam os primeiros, já que deles é o Reino de Deus. A vida eterna é o prelúdio daquilo que experimentamos em formato de justiça e igualdade para todos e todas nesta vida. “O centuplo e a eternidade”, como cantamos na canção.

Pedro Dias

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