Terça feira da primeira semana do Advento.
O Senhor está a caminho da nossa história. O Filho gestado no seio materno de Maria vem ao nosso encontro. Vida que se faz vida nas nossas vidas. A fragilidade do Deus-Menino adentrando a história, se fazendo Deus conosco. Deus visitando o seu povo, estabelecendo morada na pessoa do Filho. No Evangelho de Lucas fica claro o caminho percorrido por Jesus iniciando o processo de libertação na história, e por isso realiza a nova história: a história dos pobres e oprimidos que são libertos para usufruírem a vida dentro de novas relações entre as pessoas.
Nos primórdios do cristianismo, as primeiras obras cristãs da Igreja, especialmente na “Vulgata”, que é a tradução para o latim da Bíblia, numa linguagem mais acessível, escrita entre fins do século IV início do século V, por São Jerônimo, “adventus” se transformou no termo clássico para designar a vinda de Jesus de Nazaré à terra, ou seja, a Encarnação do Verbo, inaugurando a era messiânica e, posteriormente, sua vinda gloriosa no fim dos tempos. No Advento, fazemos o percurso do encontro com o Menino-Deus que vem fazer morada em nós, permitindo assim a divinização do nosso ser humano.
Rezei mais uma vez na companhia do profeta dos pobres do Araguaia. Desafiei o tempo ensaiando chuva, alojando-me embaixo do enorme pequizeiro que abriga o túmulo do eterno bispo da Prelazia de São Félix. Comigo também se fizeram presentes a passarada cantarolando e enaltecendo os primeiros raios do dia. Levei comigo a fragilidade do meu ser, buscando energia e interseção para as minhas angústias e os desafios de todo um país que tem necessidade ser reconstruído. As eleições ainda não acabaram para alguns e o “terceiro turno” está em pleno vapor. O clima hostil das agressões gratuitas ainda está no ar. Perdi a conta das tantas vezes que tenho sido agredido em virtude dos rabiscos que tenho postado a cada dia nas redes digitais.
Pedro com o seu jeito místico, poeta, profeta de ser e viver neste mundo, com certeza teria uma palavra animadora para aqueles que se põem na caminhada com Jesus. Incontáveis vezes fazia questão de nos dizer em situações parecidas: “Ser o que se é, falar o que se crê. Crer no que se prega, viver o que se proclama até as ultimas consequências.” “Sem deixar cair a profecia”, como nos dizia Dom Hélder. Pedro que, a estas alturas, na gloria do Pai, está acolhendo um de seus agentes de pastoral: Jose Pontim (1941-2022). Ele que fez a sua páscoa nos primeiros minutos do dia de ontem (28). Chegou à Prelazia no ano de 1972, integrando à equipe de agentes de pastoral, no trabalho de uma Igreja Povo de Deus, sob a regência de Pedro. Eleito prefeito entre os anos de 1983/1988. Também passou pela Câmara Municipal por dois mandatos. Diácono Pontim, presente na caminhada!
A liturgia desta terça feira nos traz um dos mais belos poemas em forma de oração do Novo Testamento. Lucas reproduz uma das falas de Jesus, movido pela força do Espírito Santo: “Eu te louvo, Pai, Senhor do céu e da terra, porque escondeste essas coisas aos sábios e inteligentes, e as revelaste aos pequeninos. Sim, Pai, porque assim foi do teu agrado”. (Lc 10, 21) Ou seja, os “mistérios do Reino” sendo revelados aos pequenos e humildes – naquele contexto, os discípulos – e escondidos aos que se acham auto-suficientes na sua sabedoria e estudo, ou seja, os escribas, sumos sacerdotes, fariseus e doutores da Lei. Em outras palavras, os sábios e inteligentes não são capazes de perceber em Jesus a presença viva do Reino. Só os desfavorecidos e pobres conseguem penetrar o sentido da atividade de Jesus e dar continuidade a ela.
Uma oração de louvor de Jesus que brota da sua própria experiência de vida na missão. Num momento que a sua pessoa, seus ensinamentos e o projeto de vida foram rejeitados pela elite política, econômica e religiosa da época, os pobres, pagãos, doentes e marginalizados pelo sistema souberam acolher. Os pobres, humildes e simples como destinatários primeiros do Reino de Deus. Este é o grande ensinamento deste texto que nos é apresentado no dia de hoje. O Reino está sendo revelado na pessoa de Jesus, mas muitos não são capazes de perceber e acolher este Reino como dádiva aos mais humildes. É preciso abrir o coração com humildade e simplicidade para acolher o Reino que já está no meio de nós. “Felizes de vocês, os pobres, porque o Reino de Deus lhes pertence”. (Lc 6,20)
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