Sábado da Décima Nona Semana do Tempo Comum. Depois da maratona de passar 24 horas dentro de um ônibus para chegar até aqui, nada como uma noite bem dormida para revigorar as energias e começar bem os trabalhos aqui no sindicato. O cansaço foi tão grande no dia de ontem, que eu cometi o deslize ao aumentar em um mês a data do nascimento de Nelson Mandela. Espero que quem tenha lido, dê os devidos descontos e me perdoe.
Apesar do cansaço, meu relógio biológico foi fiel. Acordou-me no mesmo horário de sempre, possibilitando-me testemunhar o vagido de mais um dia despontando no horizonte entre os arranha-céus da capital. Ainda mais que aqui é uma hora a menos, mas vai dizer isso para o meu fiel relógio de plantão.
Aproveitei para rezar na calmaria das horas e na simplicidade das coisas e dos mistérios do Reino. Deus cuidando de tudo e de todos, mesmo sem a nossa ciência mecanicista. Deus se fazendo presente em toda parte, até mesmo naquelas mais abscondidas ou sem a nossa devida compreensão.
O Reino é mistério absoluto de Deus acontecendo na simplicidade do universo complexo do existir humano. Mistério insondável que fez o grande Castro Alves a assim poetizar em forma de oração no seu poema Vozes D’África:
“Deus! ó Deus! onde estás que não respondes? Em que mundo, em qu’estrela tu t’escondes”. Perdi a conta de quantas vezes declamei este lindo poema na infância, para a alegria de minha professora.
Jesus, na sua missão de anunciar o Reino de Deus fez do Mistério imanente e transcendente, a simplicidade: “Graças te dou, ó Pai, Senhor do céu e da terra, pois, revelaste os mistérios do teu Reino aos pequeninos, escondendo-os aos doutores!” (Mt 11,25). É na pequenez e na simplicidade das coisas que Deus faz acontecer os mistérios do Reino. Reino que é vivido em grandes momentos com aqueles que sabem viver pequenos instantes.
Neste sábado, a liturgia nos oferece para a nossa reflexão apenas três versículos, onde Jesus traduz em palavras simples os mistérios do Reino. Texto este que tem o seu paralelo no Evangelho de Marcos com uma pequena, mas significativa inclusão: “quem não receber como criança o Reino de Deus, nunca entrará nele.” (Mc 10,15)
Jesus trazendo as crianças para o centro da toda e fazendo delas, protagonistas para a hermenêutica de compreensão do Reino. Os discípulos nada entendem desta lógica de Jesus e tentam afastá-las do convívio com Ele.. Para Jesus, o Reino é dom e partilha. A criança serve de exemplo não pela inocência ou pela perfeição moral. Ela é o símbolo do ser fraco, sem pretensões sociais: é simples, não tem poder nem ambições. A criança é, portanto, o símbolo do pobre marginalizado, que está vazio de si mesmo, pronto para receber o Reino.
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