Reflexões Bíblicas

Os limites do perdão (Chico Machado)

Segunda feira da 32ª Semana do Tempo Comum. Mais uma semana iniciando, possibilitando o nosso recomeço. Mesmo sabendo que nem todos os dias sejam bons, há sempre algo de bom em cada dia. É a sensibilidade do coração que nos ajuda a captar estes momentos bons. Em cada recomeço, há sempre uma dificuldade a mais, todavia, não podemos deixar que o desânimo nos impossibilite de lutar para fazer o melhor que podemos ser. Lembrando que são nos momentos mais difíceis, que o nosso lado sobrenatural fala mais alto. Nas horas difíceis, façamos como o cantor e compositor Paulo Vanzolini: “Reconhece a queda, e não desanima. Levanta, sacode a poeira e dá a volta por cima”.

A semana iniciando com o calendário gregoriano marcando o 316º dia. Assim, exatos outros 50 dias mais, e já estaremos batendo as portas de mais um ano em nossa história. Vida que segue! Aos poucos, vamos entrado no clima dos festejos natalinos. Pena que o espírito capitalista, manipulou uma de nossas festas cristãs, associando o nascimento do Menino Jesus à necessidade consumista de comprar, comprar e comprar. Nestas horas é bom lembrar-nos da letra de uma das canções do padre Zezinho: “Tudo seria bem melhor. Se o Natal não fosse um dia. E se as mães fossem Maria. E se os pais fossem José. E se a gente parecesse, com Jesus de Nazaré”. (Estou Pensando em Deus)

A vida é uma caminhada permanente em direção às nossas realizações. Deus nos fez caminhantes! Cada passo dado é uma etapa cumprida, aonde os nossos sonhos vão se misturando com a realidade. Sonhar esperançando e fazendo acontecer, com os pés fincados no chão da história. Não somos seres estáticos. O caminho se estende para além do nosso campo visual. Neste sentido, gosto de pensar com Dom Hélder Câmara: “É graça divina começar bem. Graça maior persistir na caminhada certa. Mas graça das graças é não desistir nunca”. Caminhar seguindo e pondo em prática os ensinamentos de Jesus, que no dia de hoje nos coloca diante da pedagógica libertadora do perdão.

“Se ele pecar contra ti sete vezes num só dia, e sete vezes vier a ti, dizendo: ‘Estou arrependido’, tu deves perdoá-lo”. (Lc 17,4) Lembrando que o número 7 na Bíblia, nos remete a ideia de totalidade, interação, conclusão, perfeição e consumação. Sete simboliza a perfeição de Deus e indica a conclusão de um ciclo, representando algo completo e finalizado. Podemos perceber este raciocínio desde a História da Criação em Gênesis (cf. Gen 2,2-3), onde Deus descansou no sétimo dia, até as referências do último livro do Novo Testamento (Apocalipse), o número 7 aparece repetidamente, simbolizando plenitude, perfeição e santidade. O limite para o perdão é não ter limite para exercer o ato de perdoar.

“Quem negar seu perdão ao irmão não espere receber os frutos de sua oração”, afirmava um dos mais importantes teólogos e filósofos nos primeiros séculos do cristianismo, Santo Agostinho (354-430) O perdão faz parte de todo o discurso teológico, e aperfeiçoa a nossa prática eclesial. Todo o ensinamento de Jesus passa necessariamente pela necessidade de perdoar sempre. Em sua pedagoga de vida, Ele, mais do que ninguém soube exercer a prática do perdão, ao perdoar, inclusive, seus algozes, no martírio na cruz, após ser julgado e condenado/crucificado como um criminoso, entre criminosos: “Pai, perdoa-lhes! Eles não sabem o que estão fazendo!” (Lc 23,34) Ou seja, os responsáveis pela morte de Jesus devem ser perdoados, porque não conhecem a gravidade e as consequências do próprio gesto desumano deles.

A nova sociedade pensada por Jesus, cujo Reino de Deus é a sua arte final, passa pelo gesto sublime da pedagogia do perdão. Quem não perdoa não sabe o que é amar de verdade. Quem ama, perdoa, pois sai de si mesmo, e sabe acolher aqueles que erraram, e vem em busca do perdão. Quem erra, tem a presunção do gesto de recorrer ao perdão. Já o contrário, aqueles que, mesmo diante do erro, preferem se apegar às suas verdades absolutizadas, desconhecem a proposta “mistagônica“ (ação de guiar, conduzir para dentro do mistério) de Jesus que está recôndita na necessidade da conversão permanente. Converter é voltar atrás e pedir perdão. Que este ato sublime de humildade, encontre sempre os corações dispostos a perdoar sem medidas e limites. Perdoar sempre é a atitude coerente fundamental na vida daqueles e daquelas que se fazem discípulos e discípulas de Jesus: ser infinitamente perdão!

Luiz Cassio

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