Encontrei num diário de orações esta prece:
“Estou envelhecendo e com o cessar das forças, desejo estar unido à Cruz de Cristo e ,assim, mostrar e viver essa união para os idosos que encontrar” .
Certo dia, o chão gramado tornou-se palco, e na super gaiola, com tela de seguranca, cinco idosos viraram a plateia para ouvir partes da morte de Jesus, que padeceu horrores e o cruel abandono dos amigos e familiares. Com exceção da mãe e de umas amigas que o seguiam, desoladas, a distância.
Desta narrativa, tão diminuta da Paixão de Jesus, o que podemos aplicar à situação dos idosos, em processo de envelhecimento, quando enclausurados, longe das famílias e a sentir a proximidade dos últimos olhares humanos sobre eles?
O olhar dos idosos pergunta pelo absurdo da existência ou responde com a vida, celebrando a fresta de luz que se faz intensa no declínio das idades?
Aventuro-me a pensar sobre a relação entre os Idosos e a Cruz Redentora, sem nenhuma pretensão teológica ou acadêmica. Quem sabe, mística?
1. O sentido da vida não se esgota com o passar dos anos. Pelo contrário, as experiências da vida forçam sempre alguma decisão a favor da eternidade ou a favor do esgotamento desesperador dos momentos que nos aproximam do fim.
2. Um olhar de atenção e escuta ao idoso traz para ele a esperança de algo bem maior do que a vida que vai escapando do seu controle. As janelas da alma, olhos ternos de quem não desconhece a dor, solidariza-se com o avanço dos anos daqueles que sofrem, devido o cansar ao longo dos anos. Olhar que sinaliza o amor primeiro e insondável de Deus que se fez amigo na caminhada dos dias.
Assim, amar um idoso é permitir-lhe saber que é amado por Deus, Senhor Vitorioso da vida.
3. Um único corpo que ainda padece e caindo na terra vai germinar.
Jesus, com sua experiência de pequeno agricultor, tinha uma afinidade com as flores, sementes, pão assado no forno e árvores sem fruto. Esta vivência leva Jesus a ensinar com parábolas e a nos revelar: “Se a semente não morrer não vai dar espiga de trigo e sem triturá-las (ou torturá-las), não vai dar pão”.
A vida é uma moenda de trigo. As engrenagens dos anos vai misturando a massa e tornando a humanidade inteira, o PÃO que desceu do Céu para alimentar e ser alimentado.
4. Completa-se com a dor do idoso o que faltou em Jesus.
Embora Jesus tenha sido levado ao extremo da dor, em suplícios e torturas, não finalizou seu sofrimento com a Ressurreição. Como a Encarnação divinizou a Humanidade e toda a Criação, Deus continua a sofrer mesmo assim, que no dizer de Paulo, são as dores do parto até Cristo ser formado em todos (Gálatas 4,19).
Não só por isso, mas pela imediata identificação, que na boca de Jesus ressoa: “o que fizerdes a um desses pequeninos, a mim está fazendo”. Seja com gestos de amor ou desamor, construindo o Reino de Justiça ou retardando-o.
Assim sendo, o sofrer em dores e angústias, incertezas, desprezo e abandono, que um idoso padece, torna-se o que faltava na Cruz de Jesus, que como CRISTO VENCEDOR, vai levando, com todos e para todos os crucificados do mundo, a Copiosa Redenção.
5. Finalizando, podemos dizer que nos braços de cuidadores de idosos, na vida e na morte, a vida se renova.
Maria, como Nossa Senhora do Cuidado, com seu grupo fiel de mulheres, tiveram Jesus morto nos braços, não deixando de amá-lo até o fim. Término de passagem (Páscoa) que foi a semente da vida eterna que brotou na Ressurreição e nos ensinou, que cuidar dos idosos é ter Jesus nos braços.
Obs. Essa reflexão e o conteúdo, acima exposto aplicam-se aos doentes, mesmo sem ser idosos.
(NP – PÁSCOA DE 2022 – Um olhar de Esperança sobre os Idosos Permanentes da Fundação Dr. Thomas, em Manaus).
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