Quarta feira da Décima Segunda Semana do Tempo Comum. O mês de junho caminha para o seu ocaso. Depois de celebrarmos Santo António, São João, agora nos preparamos para os festejos de São Pedro e São Paulo, fechando assim nossa devoção popular junina. Nós daqui da Prelazia de São Félix do Araguaia, estamos em festa, aguardando mais quatro dias para termos o novo bispo, que virá com o seu lema episcopal: “Sine Charitate nihil sum” (Sem o Amor não sou nada) (1Cor. 13,2). Lembrando que nosso bispo Pedro, assumindo a Prelazia e, em sintonia com a Teologia da Libertação, tinha como lema episcopal: “Humanizar a humanidade”. Para tanto, escolheu como cajado, um remo dos povos indígenas; sua mitra era um chapéu de palha nordestino e, no dedo, o inseparável anel de tucum.

Antes de partir para a casa do Pai, Dom Hélder Câmara, OFS (1909-1999), arcebispo emérito de Olinda e Recife, pediu ao monge beneditino Marcelo Barros, OSB, que não deixasse “cair a profecia”. Uma frase emblemática daquele pastor, no sentido de manter acesa a chama do projeto de Justiça e Amor, anunciado e vivido por Jesus de Nazaré. A profecia faz parte de forma intrínseca da caminhada do povo de Israel. Dezenas de profetas e profetisas (maiores e menores), que estiveram em sintonia com o projeto salvador de Deus, e encontrou sua inspiração maior na pessoa de Jesus, o Messias por Deus enviado, para Estabelecer morada definitiva de Deus em meio à humanidade.

Profecia que a liturgia desta quarta feira nos faz refletir com o texto do Evangelho de Mateus, mostrando-nos Jesus, mais uma vez, ensinando seus discípulos com palavras assertivas e diretas. O teor da mensagem, está inclusa dentro do “Sermão da Montanha”, que em Mateus vai do capitulo cinco ao sete. Incisivamente, Jesus pede a seus discípulos, para ficarem atentos e tomarem cuidado com os falsos profetas e o diz por quê: “Cuidado com os falsos profetas: Eles vêm até vós vestidos com peles de ovelha, mas por dentro são lobos ferozes”. (Mt 7,15) Ou seja, os profetas são aquilo que eles não aparentam ser. Nada se parece tanto com um verdadeiro profeta, como um falso profeta.

Neste pequeno texto de Mateus, Jesus recomenda a seus discípulos e também a cada um de nós, que não devemos nos prender às aparências das pessoas e das suas ações. Entretanto, Ele nos oferece um critério para discernir, quem de fato são as pessoas, que são os frutos produzidos por elas: “Vós os conhecereis pelos seus frutos. Por acaso se colhem uvas de espinheiros ou figos de urtigas?” (Mt 5,16) Os frutos que produzimos diz quem nós somos, de fato. Os frutos que produzimos, dizem por nós: “porque toda árvore é conhecida pelos seus frutos”. (Lc 6,44) Assim como as árvores são conhecidas pelos frutos, do mesmo modo as pessoas são conhecidas pelos seus atos. Desta forma, somos chamados por Deus para produzir frutos bons, que Paulo, os chamam, de frutos do Espirito: “amor, alegria, paz, paciência, bondade, benevolência, fé, mansidão e domínio de si”. (Gl 5,22-23)

“Uma árvore boa não pode dar frutos maus, nem uma árvore má pode produzir frutos bons”. (Mt 7,18) Os ensinamentos de Jesus ao discipulado são bastante objetivos e claros. Se quisermos fazer parte do grupo d’Ele, temos que ser arvores que produzam bons frutos: justiça, paz amorosidade, perdão, solidariedade, compaixão, misericórdia. Muitos destes frutos somente serão produzidos se abraçarmos o profetismo que envolve as causas do Reino. “Não deixar cair a profecia”, como estamos vendo acontecer nos tempos atuais na nossa Igreja, em que alguns padres e bispos estão mais ocupados com a instituição, com as suas vestes coloridas rendadas medievais, seus status de “funcionários do sagrado”, anunciando a si mesmos, ao invés do projeto libertador de Jesus, bem ao estilo dos falsos profetas denunciados por Jesus.

Somos uma Igreja em Saída, como quer o Papa Francisco. Igreja que deve passar por um processo de verdadeira conversão pastoral. Deixar de lado a covardia, o medo, a indiferença e o comodismo, para irmos ao encontro de quem mais precisa. De quem está distante, física ou simbolicamente, geográfica e existencialmente: “sair em direção dos afastados, dos excluídos (…) sair em direção às periferias humanas”, conforme nos diz a Exortação Apostólica Evangelli Gaudium (46) do Papa Francisco. Igreja que assuma o profetismo na sua essência de anunciar o Reino e denunciar a opressão e as injustiças, que nos afastam do Projeto Messiânico de Jesus de Nazaré. Só poderemos perceber entre nós os falsos profetas, através daquilo que eles produzem na sociedade: a cobiça e a sede insaciável de poder, que levam à exploração e opressão dos fracos e marginalizados. Que tipo de árvore é você, e quais frutos têm produzido?