Quinta feira da Décima Primeira Semana do Tempo Comum. O outono vai ficando para trás e as temperaturas se aproximam mais do inverso. Segundo os estudiosos do assunto, mais precisamente às 17h51, pelo horário de Brasília, deste dia de hoje, o solstício de inverno chega até nós. No meu quintal as folhas lutam contra o vento, despindo os galhos, e deitando sobre o chão para se transformarem em húmus, que ajudarão a perpetuar a espécie de onde elas derivaram. O ciclo da natureza vai se completando, resistindo às forças destrutivas dos insensatos corações humanos: destroem a vida que lhes dá a vida.
Dia 20 de junho é o Dia Mundial do Refugiado. Esta data foi instituída pelas Nações Unidas, para homenagear as pessoas refugiadas em todo o mundo. É preciso muita força e coragem para as pessoas que foram forçadas a deixar seu país de origem em razão de conflitos (guerras) ou perseguições. Agora há também os refugiados em decorrência das mudanças climáticas. Estima-se que haja em todo o mundo cerca de 117 milhões de pessoas deslocadas à força, sendo que 40% delas (47 milhões) são crianças. Os números são assustadores, já que 1,5% de toda a população mundial encontra-se deslocada à força. “Os refugiados simbolizam, personificam nossos medos”, afirmou o sociólogo e filósofo polonês Zygunmunt Bauman (1925-2017). Aliás, preciso retomar a leitura de um de seus melhores livros, “Amor Líquido”. Recomendo.
Damião Paridzané é um grande amigo meu de longa data. A’uwé Uptabi (o Povo Verdadeiro), do Território Indígena de Marãiwatsédé, completou neste mês de junho, 72 anos de vida, de luta e resistência. Este sábio Cacique Xavante, com quem convivo desde 1992, muito me ensinou e continua ensinando, na minha história de vida. Uma das primeiras coisas que me disse, desde o nosso primeiro contato, foi: “A terra não é nossa, nós é que pertencemos a terra”. Ali percebi que a relação que os povos indígenas tem com a Mãe Natureza é deveras respeitosa. Faz sentido assim pensar, quando não se tem uma relação com a terra marcada pela ganância, forjada num bem de capital, visando à exploração e o lucro. Este modo de viver nos faz recordar daquilo que está escrito no início do Livro do Gênesis: “Lembra-te que és pó, e ao pó hás de voltar”. (Gn 3,19)
“Quem sabe bem rezar, sabe também viver bem”, assim pensava Santo Agostinho. Mas como devemos rezar? Esta é a pergunta que, certamente muitos de nós fazemo-nos. Pois bem, no dia de hoje, o texto do Evangelho escolhido, nos ajuda a responder tais perguntas. Jesus está ensinando seus discípulos, como eles devem rezar: a oração do Pai Nosso. Lembrando que estamos refletindo nestes dias dentro da perspectiva do “Sermão da Montanha”. Para alguns estudiosos da Bíblia, esta oração se transforma na espinha dorsal de todo o Sermão da Montanha. Sermão este que começa com as Bem-Aventuranças e encerra com aquele que ouve a palavra de Deus e a coloca em prática, semelhante ao homem prudente que construiu a sua casa sobre a rocha (final do capítulo 7).
O Pai é nosso! O pão é nosso! Jesus tem o cuidado de falar para os discípulos que a oração deles não seja como a dos fariseus nem como a dos pagãos, que usam de muito palavreado. O Pai-nosso mostra a simplicidade e intimidade que a pessoa deve ter com Deus. Na primeira parte, pede-se que Deus manifeste o seu projeto de salvação; na segunda, pede-se apenas o essencial para que a pessoa possa viver segundo o projeto de Deus: pão para o sustento, relacionamento saudável com os/as irmãos/as, fidelidade e perseverança até o fim. A oração do Nosso traz o espírito e o conteúdo fundamental de toda oração cristã. Esta oração se faz na intimidade filial com Deus (Pai), apresentando-lhe os pedidos mais importantes: que o Pai seja reconhecido por todos (nome); que sua justiça e amor se manifestem (Reino); que, na vida de cada dia, Ele nos dê vida plena (o pão de hoje e amanhã); que Ele nos perdoe como nós também estamos dispostos a perdoar; que Ele não nos deixe abandonar o caminho feito por Jesus (tentação).
“Para mim, orar é estar ao longo de 24 horas unida à vontade de Jesus, viver para Ele, por Ele e com Ele”, dizia Santa Teresa de Calcutá. Encontramos tempo para tudo em nossas vidas. Em meio à correria diária insana, precisamos encontrar tempo e disposição, também para estar a sós com Deus para, num momento de maior intimidade com Ele, abrir o nosso coração, e dialogar com Ele, ouvir, e sentir a sua presença, em todos aqueles que nos rodeiam. Não usar de muitas palavras, como nos pede Jesus, mas deixar que o nosso interior seja invadido pela presença amorosa de um Deus que só sabe amar infinitamente. Mais do que falar, precisamos abrir os nossos olhos, ouvidos e coração para escutar a Deus que fala através dos fatos que vão se sucedendo na nossa caminhada pela vida. “A oração dos humildes penetra nas nuvens; ele não se consolará, enquanto ela não chegar a Deus, e não se afastará, enquanto Ele não puser nela os olhos.” (Eclo 35,17)
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