Sábado da sexta semana do tempo pascal.
O final de semana chegou. O mês mariano chega também ao seu final. Devagar vamos dando os nossos passos rumo ao horizonte que se descortina à nossa frente. Os dias são difíceis e os desafios também. Encontrar respostas viáveis a uma vida mais íntegra se torna o nosso grande compromisso. Virar a página da história e reconstruir um país marcado pelas desigualdades em todos os âmbitos se transformou no nosso principal objetivo. Escrever a história com a caneta em nossas mãos. Se não fazemos a história acontecer, outros o farão em nosso lugar, só que do jeito deles, defendendo seus interesses.
Um sábado que ainda repercute entre nós o assassinato do pai de família de Sergipe, nas mãos da Polícia Rodoviária Federal (PRF). Apesar de a morte ser com requinte de crueldade, a corporação pensa em abrir um processo disciplinar para analisar o caso. Um crime foi cruelmente cometido, sem dar a chance do pobre homem se defender. Como se trata de um crime, aqueles agentes, deverão responder perante o judiciário brasileiro. Exigimos que a justiça seja feita. O que se quer não se trata de vingança, mas que a justiça prevaleça, mesmo sendo eles pessoas protegidas por suas corporações. Normatizar a morte deste cidadão é banalizar a vida humana. Em assim pensando, somos cúmplices e co-autores deste terrível assassinato.
A vida está em primeiro plano. Todas as vidas importam. Fomos criados e trazemos em nós o dom maior de Deus que é a vida. Não uma vida pela metade, mas a vida em sua integralidade. Vida total como Jesus assim se manifestou: “Eu vim, para que todos tenham vida e vida plenamente”. (Jo 10,10) Jesus é o modelo de defensor intransigente da vida. Ele provou para todos que não veio em busca de seus próprios interesses. Ao contrário, dá a sua própria vida a todos aqueles e aquelas que aceitam caminhar com a sua proposta. Nossa meta é viver nesta intensidade e fazer com que todas as pessoas possam viver integralmente. Esta é a projeção do sonho de Deus na perspectiva do Reino.
Uma das formas de entrar em sintonia com a proposta de Jesus podemos fazer através da oração. Oração na ação. Não apenas uma oração “templária”, mas também em meio ao conflito. Trazer para dentro do espírito de oração, as intempéries da vida. Rezar é colocar-se antes de tudo na presença de Deus e se fazer presente a nós mesmos, com todos os desafios que se apresentam no dia a dia. Cuidar de reservar momentos para estar a sós com Deus e conosco mesmos. Não nos esqueçamos de que a oração faz parte da vida cristã. Ela é o alimento que nos vai nutrindo a nossa vida de fé na caminhada de acertos e desacertos pela vida afora.
Quando entramos em sintonia com Deus pela oração, não devemos ficar preocupados se Deus vai ou não ouvir a nossa oração. O mais importante não é Deus ouvir as nossas preces, mas afiar os nossos ouvidos e coração para ouvir aquilo que Deus tem a nos dizer. O falar demais, às vezes, nos impede de escutar o que Deus tem a nos comunicar. Mais do que repetir mecanicamente um amontoado de palavras prontas, necessitamos calar-nos para ouvir a nossa voz interior e a voz do nosso Deus que brota das entranhas de nosso coração. Sem nos esquecermos que Ele já sabe de tudo o que necessitamos.
A liturgia deste sábado nos coloca diante de Jesus dando uma dica de como devemos entrar nesta sintonia com Deus através da oração. Uma sintonia que passa necessariamente pela sua Pessoa: “Se pedirdes ao Pai alguma coisa em meu nome, Ele vo-la dará”. (Jo 16, 23) Jesus que se coloca como interlocutor entre nós e Deus. Somos parte integrante desta grande família da Santíssima Trindade: Pai, Filho e Espírito Santo. A encarnação do Verbo, ao entrar em sintonia com a nossa realidade histórica humana, nos possibilitou fazer parte do mistério da “Comunidade Perfeita” que é a Trindade Santa. Talvez, por este motivo, Jesus nos tenha garantido que ao participar desta família, a nossa alegria é completa. Todavia, Jesus não engana os seus seguidores. Para Ele, fazer parte deste grupo significa que a vida será marcada pelo testemunho em meio a lutas e perseguições. Mas é também tempo de confiança e paz, pois podemos contar com a amorosidade constante do Pai.
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