Olhar de compaixão (Chico Machado)

Quinta feira da Primeira Semana do Tempo Comum. O mês de janeiro vai se desenhando no chão de nossa história. A primeira dezena de dias já se foi. Muitos de nós aproveita as férias escolares dos filhos para também dar uma esticada, juntando o útil ao agradável. As merecidas férias, tão necessárias para energisar qualquer recomeço.

“Quem não namora, tirou férias não remuneradas de si mesmo”. Foi assim que Carlos Drummond de Andrade expressou-se de forma poética sobre elas. Depois do dia livre no Curso de Verão, reiniciamos hoje com mais uma etapa do 7° dia, com os temas: Movimentos e pastorais no mundo do trabalho, por Dom José Reginaldo Andrietta; “Fraternidade e amizade social CF2024’”, por Valdênia Aparecida Paulino Lanfranchi. Vida que segue com a nossa missão de estudo, reflexão e aprofundamento com dinamicidade nas tendas. https://bit.ly/cv24-7

Aproveitei bem o meu dia de ontem. As várias visitas às famílias amigas, encheu o meu coração de contentamento. A memória voltou ao passado, trazendo dali os bons momentos que passamos juntos numa caminhada de Igreja povo de Deus. Uma experiência profunda, recordando as palavras de D. Paulo Evaristo Arns: “A Igreja é o povo! É preciso unir esses dois conceitos, Deus e o povo simplesmente!”

Rezei iniciando o dia de hoje num canto escuro e gelado do Teatro da Universidade Católica – TUCA. Foquei a minha meditação no texto do Evangelho de Marcos, proposto para hoje: Jesus curando um homem que lhe implora pela sua saúde. Este homem é um leproso. No tempo de Jesus a lepra era uma doença que levava a morte. Curar um leproso era tão difícil como ressuscitar um morto. Os sacerdotes tinham a função de “declarar puro” um leproso que tivesse sarado, mas não tinham o poder de “torná-lo puro”, isto é, de curá-lo. A cura de um leproso era uma obra exclusiva de Deus.

A pessoa doente era marginalizada, devendo viver fora da cidade, longe do convívio social, conforme os escritos de Levítico: “Quem for declarado leproso, deverá andar com as roupas rasgadas e despenteado, com a barba coberta e gritando: Impuro! Impuro! Ficará impuro enquanto durar sua doença. Viverá separado e morará fora do acampamento (Lv 13,45-46). Por isso, o homem curado devia apresentar-se para dar testemunho contra um sistema que não cura, mas só declara quem pode ou não participar da vida social.

Jesus fica indignado com aquela sociedade que produz a marginalização e a exclusão. Ele não somente olha para aquele homem acometido pela lepra, mas sente e o toca, com compaixão, coisas inadmissíveis para a classe política e os dirigentes religiosos da época. Como muitas das pessoas em situação de rua hoje, eram invisíveis, indesejados, intocáveis. Desprezíveis e desprezados por aqueles que deveriam acolhê-los e não os excluir e rejeitar. Situação não muito diferente nos nossos dias em que a classe religiosa, alguns padres bispos, mais atarefados com os seus afazeres entre as paredes dos templos, pouco se importam com os que vivem hoje, fora do convívio social das “lepras” de agora.

O pobre doente, marginalizado e banido do convívio social, reconhece o poder de Jesus: “Se queres, tens o poder de curar-me”. (Mc 1,40) Jesus olha para ele e o toca, com as mãos e o coração. Sentimento em extinção nas lideranças religiosas de ontem e de hoje. Após a ação transformadora de Jesus, o marginalizado se torna testemunho vivo, que anuncia Jesus, aquele que purifica, liberta e salva. De marginalizado a evangelizador, pois o lugar dos marginalizados é o lugar onde se pode encontrar o Senhor.

Luiz Cassio

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