Décimo oitavo domingo do tempo comum. O mês de julho vai dando o seu adeus. Passou rápido demais. O mês de agosto aponta na curva. Um domingo especial para a História da Igreja. No dia de hoje celebramos a festa de Santo Inácio de Loyola (1491-1556). Espanhol de nascimento, filho de família da nobreza rural, Inácio foi um dos fundadores da Companhia de Jesus no ano de 1534. Os Jesuítas estão em festa neste domingo, celebrando a memória deste grande homem de Deus. Amigo dos pobres, como era chamado, costumava dizer: “A amizade dos pobres nos torna amigos do Rei eterno. O amor dessa pobreza faz de nós reis já aqui na terra; reis não, porém, da terra, mas do céu”.
Falar de santo Inácio me fez lembrar da experiência que vivi na segunda feira passada na companhia do padre Júlio Renato Lancellotti. Depois de celebrar com ele na pequena igrejinha de São Miguel Arcanjo, na região da Mooca em São Paulo, partimos para a missão de servir o café da manhã, às pessoas em situação de rua ali no bairro. Apesar da idade já avançada, esta tem sido a rotina deste grande homem. Um anjo na vida daquela gente. Muitas pessoas, famílias inteiras, naquela situação de abandono dos poderes públicos. Aproveitei para conversar com algumas delas. Gente numa total falta de perspectiva de vida. O olhar de cada uma delas denuncia esta falta de horizonte de uma luz no final do túnel. Tristeza que não tem fim.
Somos frutos de um tipo de sociedade estruturada na desigualdade. Enquanto uns tem demais, mais do que o necessário, outros nem o básico para viverem com dignidade. De saber que nesta pandemia uma pequena parcela de bilionários acumulou um patrimônio liquido no valor de US$ 10,2 trilhões, batendo novo recorde no ano de 2020. Mais do que o vírus da Covid-19, convivemos com o vírus da desigualdade. Corações endurecidos de pessoas que vivem numa bolha do vazio da acumulação. Gente nada solidária à fome que corrói o estômago de 33 milhões de vidas humanas que passam fome, sem falar das 110 milhões que vivem em situação de insegurança alimentar.
Acumular, acumular, acumular. Esta é a doença que acomete uma parcela significativa de nossa sociedade. Partilhar os bens é a grande temática proposta pela liturgia para este domingo. O alerta de Jesus é bastante claro: “Atenção! Tomai cuidado contra todo tipo de ganância, porque, mesmo que alguém tenha muitas coisas, a vida de um homem não consiste na abundância de bens”. (Lc 12, 15) Não é no acumular mais e mais que está o segredo para uma vida feliz. Quem está preocupado apenas em acumular riquezas, perde a grande chance de viver na perspectiva do Reino que Jesus veio nos trazer. O segredo do bem viver está na partilha. Partilhar a vida, partilhar os dons, partilhar os bens, partilhar tudo o que somos.
Basta tão pouco para sermos felizes. O problema maior é que passamos a vida inteira para perceber este segredo. Esta é também a experiência vivida pelos povos indígenas. Entre eles, não se tem a preocupação quanto a necessidade de acumulação. Eles vivem intensamente o momento presente. Tudo é de todos e repartido entre eles. Desde a terra, a natureza em si, são bens coletivos. Deles e dos demais seres. Algumas etnias, inclusive, quando a pessoa morre, todos os seus pertences são queimados. Nada se guarda para o dia posterior. A comida, por exemplo, serve apenas para aquele dia. Não se guarda para ser servida no dia seguinte. Sabem viver na intensidade de cada dia sem a necessidade de “ter coisas”, acumular.
A riqueza maior que temos em nós é o Dom da vida, que nos é dada gratuitamente por Deus. A única coisa que Ele nos pede de volta é a gratuidade de nosso ser e existir para os outros. Assim sendo, a nossa vida não tem sentido em ser vivida apenas para nós mesmos, mas ela se completa na relação que estabelecemos com as demais pessoas. Na amorosidade e gratuidade de Deus para conosco, somos interpelados a sermos amorosos na partilha gratuita do nosso jeito de ser e amar. Partilhar a vida. Partilhar o pão da vida. Partilhar o afeto, o carinho, a amizade. Ao longo do caminho da vida, deparamos com o problema das riquezas. Jesus nos mostra que é insensatez acumular bens no intuito de assegurar a própria vida. Só Deus pode nos dar a riqueza que é a própria vida. O contrário disto é o vazio existencial do acumular. No mais, como diria Santo Agostinho: “O supérfluo dos ricos é propriedade dos pobres”.
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