Sexta feira depois das Cinzas. A Quaresma vai se delineando no horizonte da nossa existência. Cada dia é um passo a mais que vamos dando no sentido de fazer o encontro pessoal com Jesus, para que a partir daí, possamos viver a fé no contexto das relações que vamos estabelecendo nesta caminhada. Nenhum de nós vive a sua fé para si mesmo, mas no encontro com o irmão que está mais necessitado de cuidados, tendo como fonte de inspiração aquilo que fora dito por Jesus no Evangelho de Mateus: “Todas as vezes que vocês fizeram isso a um dos menores de meus irmãos, foi a mim que o fizeram”. (Mt 25,40) Acreditar e seguir a Jesus, supõe o compromisso com a pessoa concreta d’Ele. Ele que está identificado com os pobres e oprimidos, marginalizados por uma sociedade baseada na riqueza, na ganância e no poder.

Quaresma que neste ano tem também o sabor da ecologia. Se no tempo quaresmal, somos chamados a repensar a nossa conversão, desta vez o apelo especial é adotar o Carisma Franciscano e louvar a Deus que está presente na beleza da Criação. Assim, somos desafiados a desenvolver um caminho decidido de conversão à Ecológica Integral. A Campanha da Fraternidade nos conclama a todos à conversão de mudança radical em relação ao Cuidado com a Casa Comum, com o tema proposto: Fraternidade e Ecologia Integral e o lema: “Deus viu que tudo era muito bom” (Gn 1,31). Isso para não cairmos no “Pecado Ecológico”, que é o “Pecado Contra a Criação”, que é a violência, o desrespeito ou o descaso (desiquilíbrio) com a nossa Casa Comum. Cada pequeno gesto nosso no sentido de preservar a Mãe Natureza, é um destes passos dados de conversão na defesa da vida para todos e todas. Como diz o Papa Francisco na “Laudato Si”: “A nossa casa comum se pode comparar ora a uma irmã, com quem partilhamos a existência, ora a uma boa mãe, que nos acolhe nos seus braços”. (nº 1).

Sexta feira, tempo penitencial. A primeira semana do mês de março vem sextando e trazendo para a nossa reflexão a vida de um grande pensador. No dia de hoje, há 751 anos, falecia na Itália, Santo Tomás de Aquino (1225-1274) Tomás de Aquino foi um monge dominicano, um frade católico italiano da Ordem dos Pregadores, que influenciou a teologia e a filosofia, principalmente na tradição conhecida como Escolástica, que atualizou o pensamento aristotélico para a Idade Média, sendo um dos mais importantes filósofos desta corrente filosófica. Ele auxiliou na reintrodução da filosofia aristotélica no pensamento europeu e atualizou a teologia cristã junto à filosofia medieval, sobretudo nas questões conflitivas entre fé e razão existentes no período. Santo Tomás Aquino é o maior representante da Escolástica, pensamento desenvolvido em um momento de expansão e grande domínio católico na Europa. Uma de suas frases sempre chamou a minha atenção: “Não se opor ao erro é aprová-lo, não defender a verdade é negá-la”.

Erro crasso que estavam cometendo tanto os fariseus, quanto os discípulos de João Batista, no quesito do cumprimento ou não do jejum, como o texto do evangelista Mateus nos apresenta para a nossa reflexão nesta sexta feira. Tanto os fariseus quanto o discipulado do Profeta Precursor, estavam acusando os discípulos de Jesus de não Jejuarem. Lembrando que para a tradição judaica da época, o jejum caracterizava o tempo de espera pela chegada do Messias. Praticamente, grande parte do Antigo Testamento anunciava a chegada deste Messias prometido por Deus, sobre quem os profetas proclamavam. Contudo, nem os fariseus e também os discípulos de João Batista haviam entendido que Jesus era este Messias esperado. Assim, no contexto do texto de hoje, esse tempo já terminou. Chegou a hora da festa do casamento, isto é, da nova e alegre relação entre Deus e as pessoas, a humanidade, inaugurando a Nova Aliança. Com Jesus acontece uma reviravolta antropológica, proporcionando uma concepção de que a revelação cristã escatológica se deu no encontro entre Deus e os seres humanos, na perspectiva da teologia transcendental. Em Jesus, Deus se faz plenitude no meio de nós, renovando a história e possibilitando a nossa ascensão ao ser divino de Deus.

Os tempos são outros. Jesus é o Messias há muito esperado. Sua presença e atividade mostra que Deus veio visitar o seu povo de maneira encarnada na pessoa do Filho. Jejuar, tendo Jesus presente no meio deles, não faz sentido, uma vez que no tempo escatológico anunciado pelos profetas, tempo de festa e alegria, não se jejua, pois o “Esposo” está presente na festa. Entretanto, muitos não conseguem ver em Jesus o Messias esperado, e não reconhecem que o Reino de Deus é festa, é alegria, é partilha, é presença feliz ao lado d’Ele. Quem se coloca neste mesmo clima com Jesus aprende que, estar com Ele, é abrir-se ao novo, sem medo de estar alegre com Ele. Além do mais, o verdadeiro jejum não consiste apenas em abster-se do que comer ou beber, mas antes em desejar ardentemente o encontro pessoal com Ele, o Messias enviado para nos salvar e dar a vida plena. Verdade nua e crua para os que creem n’Ele. Finalizando com o pensamento de Tomás de Aquino, “Quem diz verdades perde amizades”.