Sábado da 31ª Semana do Tempo Comum. O ciclo litúrgico do ano B vai chegando ao seu final. Mais três semanas, e encerramos o Tempo Comum, com a Solenidade de Cristo-Rei, que neste ano acontecerá no dia 24 de novembro. No domingo seguinte (1 de dezembro) é o 1º Domingo do Advento, iniciando assim o Ano Litúrgico C. Mais uma etapa sendo cumprida em nossa caminhada de fé. A cada ano litúrgico é um evangelista por vez (Ano A – Mateus; Ano B – Marcos; Ano C – Lucas). A cada Ano Litúrgico podemos acompanhar a teologia de cada evangelista e a maneira que eles transmitem a mensagem a respeito de Jesus. Divide-se assim também para animar a vida da caminhada de Igreja e dar um sentido para as celebrações de cada tempo.
Neste espirito eclesial, rezei na companhia de nosso bispo Pedro. Aliás, foi ele que me fez chegar a uma espiritualidade, na caminhada com o povo de Deus, na experiência com as comunidades desta Igreja, que ele soube muito bem conduzir, levando-nos ao compromisso libertador com Jesus de Nazaré. Nesta Igreja, eu aprendi o que significa caminhar com os pobres, através da radicalidade de vida austera de Pedro. Ele me fez reler o documento da Conferência Episcopal de Medellín (1968), como um “Novo Pentecostes”, uma vez que este documento traduziu para nós, aqui da América Latina, as diretrizes e conclusões do Concílio Vaticano II (1962-1965), aproximando-nos da opção preferencial pelos pobres. “Pobre, com os pobres e pelos pobres, nas causas deles”, este era o lema de vida do “profeta do Araguaia”. Que me perdoe os teólogos, mas posso dizer sem medo de errar, que este lugar de Pedro é um “Templo vivo do Espírito Santo”.
Em tempos de novas tecnologias e das redes digitais, a vida humana passa rapidamente por profundas transformações. As famílias não são mais as mesmas. Basta ver uma delas, reunida num determinado restaurante para almoçar. Se bobear, até o bebê, traz consigo um celular, ali deitado em seu carrinho. Cada um voltado para si mesmo. Definitivamente, as nossas relações mudaram significativamente. As pessoas preferem estar nas redes, e não na convivência amiga fraterna presencial com os outros. Uma necessidade absurda e insana de fotografar a si mesmas, decorando os posts com seus sorrisos amarelos artificiais forçados, reforçando os “alter egos” de suas personalidades ocultas. Com isso, a vida vai perdendo o seu sentido original. Diante deste contexto, faz sentido uma das falas do filósofo polonês, radicado na Alemanha Arthur Schopenhauer (1788-1860): “A vida é uma constante oscilação entre a ânsia de ter e o tédio de possuir”.
A vida cristã propõe outra alternativa para a convivência humana. Somos irmãos e irmãs da caminhada. Ao nos criar, Deus infundiu em nós, o espírito da fraternidade humana, que se concretiza nas nossas relações de irmandade. Deus está em nós, muito mais do que podemos imaginar tal presença ontológica. Somos templos vivos da presença de Deus em nossas vidas, como o apóstolo Paulo bem decifrou em um de seus escritos: “Ou vocês não sabem que o seu corpo é templo do Espírito Santo, que está em vocês e lhes foi dado por Deus? Vocês já não pertencem a si mesmos”. (1Cor 6,19) Desta forma, devemos saber discernir o que leva ao crescimento e à realização da pessoa humana. Fomos resgatados por Jesus para viver a liberdade, por isso, não devemos deixar-nos escravizar de novo, nem mesmo pelo próprio corpo.
Por falar em Templo, a reflexão que a liturgia nos traz para este dia de hoje é bem significativa. Jesus que está em Jerusalém para participar Festa da Páscoa dos judeus. Estando lá, vai ao Templo e depara com todas as contradições presentes ali naquele espaço, que deveria ser sagrado: vendedores de bois, ovelhas e pombas e os cambistas que estavam aí sentados. Sua atitude surpreende as autoridades religiosas, já que Jesus se encarregou de expulsar aquela gente do espaço que deveria ser de recolhimento e oração: “Não façais da casa de meu Pai uma casa de comércio!” (Jo 2,16) Não nos esqueçamos de que, no tempo de Jesus, o Templo de Jerusalém era considerado o centro religioso, econômico e cultural da Palestina. Era também centro político, pois ali se reunia o Sinédrio, comandado pelos Sumos Sacerdotes, que eram os detentores do poder econômico da época.
O Templo deveria ser o lugar privilegiado de encontro com Deus. Entretanto, ali se colocavam as ofertas e sacrifícios levados pelos judeus advindos de todos os lugares, formando um verdadeiro tesouro, que era administrado pelos sacerdotes. A pretensa casa de oração se tornara em lugar de comércio e poder, disfarçados em culto piedoso. Ao expulsar os comerciantes, Jesus denuncia a opressão e a exploração dos pobres por aquelas falsas autoridades religiosas. Profetizando a desgraça do Templo, Jesus mostra que aquela instituição religiosa perdeu o sentido originário. Na concepção de Jesus, o verdadeiro Templo é o corpo d’Ele, que vai morrer, mas vai Ressuscitar, pois a última palavra é a de Deus e é Vida! Deus não quer habitar em edifícios, mas na própria pessoa humana. O que torna sagrado o Templo não as suas paredes e nem o seu espaço, mas as pessoas que ali estão e interagem vitalmente com Deus. A reflexão de hoje pode muito bem ser concluída com as palavras de nosso Papa Francisco: “Não é só celebrar o sucesso, é aprender com o fracasso. Não é só ter alegria com aplausos, mas sim ter alegria no anonimato”.
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