Sábado da Quinta Semana da Quaresma. Penúltimo dia de nosso percurso quaresmal. Amanhã já será o Domingo de Ramos. Com este domingo, relembramos e celebramos a chegada de Jesus de Nazaré em Jerusalém, poucos dias antes de sua Paixão, Morte e Ressurreição. Resumidamente, o Domingo de Ramos tem esse nome porque o povo pobre cortou ramos de árvores para cobrir o chão onde Jesus passaria montado num jumento. Naquela ocasião, o povo clamava Jesus e o exaltava como o “Rei dos Judeus”, o que bastou para provocar a ira e muita inveja nos mestres da lei, que ficaram com medo de perder o poder. Desta forma, começou uma trama para condenar Jesus à morte na cruz.
Como vimos, o período quaresmal é um caminho que percorremos rumo à Ressurreição do Filho de Deus. Ela, a quaresma, só tem sentido se for vista sob esta perspectiva. É por este motivo que se torna necessária a busca de nossa conversão, para entrarmos em sintonia com o projeto libertador de Jesus. Crer para converter! Converter para crer! Conversão que não acontece como a um passe de mágica, mas é um processo que vamos caminhando e avançando na fé. Cada dia, é um destes passos que damos, tentando assim, afinar o nosso caminhar com o caminhar de Jesus: “conversão, justiça, comunhão e alegria do cristão, é missão de cada dia”, assim cantamos neste período litúrgico.
Estamos às portas de mais uma Semana Santa. Nela, experimentamos de perto a angústia de Jesus, a caminho do Calvário. A Semana Santa, que se estende até o próximo domingo, dia 31 de março – Domingo de Páscoa. Para a comunidade católica, a Semana Santa é o momento central da liturgia e é também a semana mais importante do ano litúrgico, quando celebramos de modo especial os mistérios da Paixão, Morte e Ressurreição de Jesus. É bom que saibamos que a liturgia dos ramos deste domingo, não é uma repetição apenas da cena evangélica, mas um sacramento da nossa fé, na vitória do Cristo na história, marcada por tantos conflitos e desigualdades.
As autoridades religiosas judaicas estavam sempre em conflito com Jesus. A cena de hoje é o relato imediato do “Sétimo Sinal” realizado por Jesus, relatado pelo Evangelho de João: a ressurreição de Lázaro em Betânia, perto de Jerusalém (Jo 11,1-45), reconhecido como sinal pouco antes da Páscoa. O Mestre, depois da morte de seu amigo Lázaro, realiza esse sinal, esperando que os seus discípulos cressem n’Ele. Este fato gerou uma repercussão muito grande com as autoridades religiosas, que ficaram sabendo através do clamor popular, realçando ainda mais a popularidade de Jesus, pois o povo crê em Jesus por ver que “Este homem realiza muitos sinais”. (Jo 11,47)
Entre em cena a figura emblemática de Caifás. Um sumo-sacerdote em Jerusalém, durante 18 anos, entre os anos 18 e 36. Era ele um saduceu como se observa, no texto dos Atos dos Apóstolos: “Então o sumo sacerdote, com todo o seu partido-isto é, o partido dos saduceus, – ficaram cheios de raiva, e mandaram prender os apóstolos e jogá-los na cadeia pública”. (5, 17-18). Caifás foi o líder religioso responsável pela conspiração da morte de Jesus, que declarou que “interessa que morra um só homem pelo povo e não pereça a Nação inteira”. (Jo 11, 50). Evidente que tais autoridades não estavam interessadas na Nação como dizem, mas na palavra e prática de Jesus contrárias ao sistema de dominação presente na religião do Templo.
“Para falar ao vento bastam palavras, para falar ao coração são necessárias obras”, afirmava o Padre Português Antônio Vieira (1608-1697). Jesus fala ao coração das pessoas e sua prática messiânica consiste na libertação total da pessoa humana, através de sinais concretos. Todavia, esta comunicação da vida e liberdade é intolerável para um sistema opressor que gera a morte, seja no tempo de Jesus seja nos tempos atuais. As autoridades, de lá e de cá, disfarçam sua hostilidade com a desculpa de que o bem da nação está em jogo. Apelam para a “segurança nacional”. O sumo sacerdote Caifás, apresenta a solução que, ironicamente, se tornou o coração da fé cristã: Jesus morrerá por todos, ao invés de todos. Matando a Jesus, o sistema opressor se denuncia e se destrói a si mesmo, abrindo a possibilidade da vida e liberdade para todos.
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