“Entro para ser santo”, afirmava S. Geraldo ao entrar para o convento do grupo de Afonso.
“Eis que estou à porta e bato; se alguém ouvir a minha voz e abrir a porta, entrarei em sua casa e com ele cearei, e ele comigo (Apocalipse 3,20).
São duas afirmações, uma de São Geraldo e a outra, de São João Evangelista, que se completam. Reflitamos. Comecemos com São Geraldo, que depois de uma vida atribulada, mas de forte fé e de trabalho, aprendidos em família, escolheu viver a vontade de Deus. Alfaiate, imitando o pai, já falecido, resolve seguir Jesus e ser santo, justamente porque descobre pessoalmente, que entrando na comunidade de um convento vai realizar seu desejo. Um desejo colocado por Deus nas tramas de sua vida, UM CHAMADO EM QUE ELE VAI DAR A RESPOSTA POSITIVA.
“Eis que estou à porta e bato….”
Aqui, nós temos certeza que a iniciativa primeira é de Deus, como insistia Santo Afonso. “Ele nos amou primeiro”. Convencido desta verdade, o coração se move para responder também por amor, o que acontece em Geraldo e em nós.
Sim, em NÓS, com as tramas e na história de nossa vida, com suas dúvidas e pecados. Entramos na vida cristã para sermos santos, embora uma decisão inicial feita por nossa família natural no batismo para pertencer a Deus, através de Jesus e de sua Igreja.
Mas o tempo vai passando, crescemos e vamos batendo na porta da comunidade, da Igreja, tendo catequese, participando das liturgias, conhecendo os santos, de modo especial, São Geraldo, nosso Confrade. Até entramos no Seminário para sermos missionários como foi São Geraldo, mas fizemos outras escolhas para seguir Jesus.
Depois, decidimos entrar em uma pastoral da Igreja, a viver os serviços ou ministérios da comunidade e construir e dedicar-se em nossa própria família. E para nós da UNESER, fomos nutridos pela espiritualidade do nosso trio santo ACG (Afonso+Clemente+Geraldo).
Nós também entramos nesses ministérios para tornarmos santos, pois estes são transformados em serviços, sejam na condição de pais e nas ocupações para sustentar a família. Assim entendamos. Todos os serviços são chamados pela iniciativa primeira de Deus, cuja resposta consciente é para sermos santos, ou seja, seguidores, discípulos missionários de Jesus, onde quer que estejamos ou façamos para a construção do reinado da justiça e da fraternidade. Assim, a vontade de Deus se cumpre e para tal acontecer, contávamos com a graça de Deus, a presença do Espírito que clama dentro de nós: “PAI”. Aí vem a nossa resposta, apontando-nos uns para os outros: “MEU IRMÃO”.
Estes foram o segredo da santidade de São Geraldo, que ele quer que o imitemos: MEU PAI DE AMOR E MEU IRMÃO, PORQUE TODOS ESTÃO PARA SERVIR. “AQUI SE CUMPRE A VONTADE DE DEUS” era a jaculatória do nosso santo que, inclusive, colocou uma placa na porta de seu quarto.
De certa maneira, ousamos comparar Geraldo com o profeta Elias. Imaginemos Geraldo na entrada de uma caverna ou numa gruta sem porta. Dentro dela a escuridão esconde seus medos, mas com a luz de Deus que busca, vão encontrá-Lo, e para tal tinham que sair, pondo-se à entrada da gruta e do convento.
Assim como acontece a experiência de Elias para perceber a PRESENÇA DE DEUS NA SUA VIDA, Geraldo também teve sua experiência de Deus como constatamos em sua breve vida de 29 anos.
Tanto Geraldo quanto Elias vão identificar a presença de Deus, próximo a ele, que o chama e pede uma RESPOSTA. Aconteceu que nem a tempestade, nem no barulho, nem no terremoto se encontrava Deus. Somente quando aparece o vento leve no rosto, sacudindo as folhas, e criando ondas leves nas águas, percebem Deus, chamando para ser profeta fiel a Javé. E saem em retirada para ser profeta curador.
À porta da gruta ou do convento, ambos e tantos outros santos, vão procurando Deus e decidindo seguir Jesus. São Geraldo buscou a melhor resposta para dar sentido ao seu batismo, fazendo adesão total a seguir os passos de Jesus histórico “Amar como Jesus amou….” Ele escutou e obedeceu: “Ide e Curai”.
Para o Geraldo: Entrar ou não entrar no “con+Vento”? Por que tanta recusa? Decepção? Até porque ninguém o aceita, não tem saúde, não serve para a missão, é um “inútil”, nem serviria para acompanhar o grupo de Afonso pelas montanhas, a fim de encontrar os cabreiros e anunciar Jesus.
Foi preciso a mansidão tenaz de Santo Afonso para entender o seu coração e sua vontade de ser Santo. Viver de Deus Pai, obedecendo e amando os irmãos.
Entrar no “COM+VENTO” pareceu estar sentindo a brisa mansa, não barulhenta, o SOPRO DO ESPÍRITO identificado pelo coração de Afonso, que estava compondo seu grupo de seguidores, peregrinos nas montanhas e vales esquecidos.
Sabemos que Geraldo, com sua saúde fraca, foi descartado do ministério ordenado – ERA IRMÃO LEIGO, COMO NÓS. Um leigo cristão que entra na comunidade dos seguidores de Jesus com as práticas de serviço fraterno e de atenção aos pobres.
Para nós da UNESER, equivale entrar na paróquia, em alguma pastoral para ser santo. Somos como a missão de nossa vida em família, e com ela ser um grupo missionário leigo para levar o amor de Jesus, com seu jeito de atender aos necessitados de nossas grandes comunidades.
Geraldo foi peregrino, pois circulava pela cidade. Via o trabalho duro dos pobres e das mulheres grávidas, assim como o sofrimento dos humildes. Ele, no grupo de Afonso, servia sua pequena comunidade, facilitava a vida de todos os companheiros e anunciava Jesus de mil maneiras. Ele fazia milagres, sinais da graça de Deus, atuando no mundo.
Sua santidade e exemplo de vida para nós, consistia na SIMPLICIDADE DO SERVIÇO, nem ser notado e nem barulhento. Um exemplo de invisibilidade que transformava e chamava as pessoas para seguir Jesus. Ele nem queria aparecer nem dominar, ouvindo e buscando o melhor para a comunidade com poderosas ações que ensinavam a trilhar os passos de Jesus.
Naquela época, ainda era uma raridade ler o Evangelho, mas Geraldo não se abate. Creio que não sabia latim, mas caprichava na oração pessoal e fazia de tudo para ser obediente, ouvir a Deus e a Afonso. Assim, torna-se exemplo de piedade, acolhimento, serviço e compaixão com os que sofriam e trabalhavam impiedosamente.
Ele ouve as pregações e fortalece sua fé em obras. Santo Afonso foi a figura que inspirava sua santidade, entendida como seguimento de Jesus, amigo dos pobres e desprezados, sobretudo, mulheres e crianças.
Estou quase certo, que numa época em que não havia exames nem acompanhamento pré-natal, ele aconselhava e rezava pelas mulheres grávidas, desenganadas pelas parteiras do povo.
Chego a perguntar: Como podemos descrever atuação ou o serviço laical de São Geraldo? Era uma época que o que contava e chamava atenção era ser do clero, como aquele que era o mais próximo de Deus e das coisas do altar, vistos como os únicos dispenseiros das graças dos sacramentos, sobretudo da Eucaristia.
De Santo Afonso bebeu a espiritualidade, aprendendo a viver três ideias, forças da santidade missionária que se concretizaram nas três ideias- forças, nas quais nós também mergulhamos com a graça de Deus.
COPIOSA REDENÇÃO, MEMÓRIA VIVA DO REDENTOR E GASTAR-SE PELA SALVAÇÃO DE TODOS.
Nelson Peixoto – UNESER, Diretor de Liturgia.