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O sábado e a libertação (Chico Machado)

Sexta feira da 30ª Semana do Tempo Comum. Novembro vem sextando, para a alegria dos adeptos da bebida mais popular do povo brasileiro: a “gelada”. Enquanto seguimos atravessando o 306º dia, deste ano que vai findando, exatos outros 60 dias e, findaremos mais uma etapa histórica de nossa caminhada cronológica do Calendário Gregoriano. Tempo de olhar para frente, e conquistar passo a passo, os nosso, ideais, rumo às nossas realizações. Foi com este objetivo, que Deus nos criou e Ele não dorme e nem fica cansado. Ele está sempre alerta, protegendo aqueles e aquelas que o amam. Em todas as horas do dia e da noite, Deus está cuidando de nós. É confiar e seguir em frente, fazendo o melhor que cada um pode ser.

Amanheci uma sexta feira de alma lavada. Depois do cansaço de ontem, dormi o “sono do justo”, e meu coração amanheceu feliz. Dias intensos de formação com os/as professores/as indígenas, nestes últimos dois dias. De vê-los felizes e realizados, eu não poderia estar diferente, fazendo aquilo que mais amo e sei fazer com eles. Como sou grato ao Senhor e a nosso bispo Pedro, que me colocou em sintonia com a realidade dos povos originários! Eles me completam com os seus saberes ancestrais e, o pouco que sei, compartilho com eles, em forma troca de conhecimentos. A sabedoria ancestral é uma das mais preciosas dádivas que podemos receber para aprender o Bem Viver. Nestes dias experimentei aquilo que o filosofo Sêneca já me dizia lá pelos idos do curso de filosofia: “Apressa-te a viver bem e pensa que cada dia é, por si só, uma vida!“

Rezei nesta manhã a oração do abandono no colo de Deus. Senti a confiança rondando todo o meu ser. Confiança e entrega, sabendo que o melhor de mim está sendo dado, em forma de tentativa de fidelidade às causas do Reino. Contemplando o raiar do sol nesta manhã, veio-me a mente uma das falas do profeta Isaías que sempre adotei nos momentos mais difíceis de meu processo histórico: “Não tenha medo, pois eu estou com você. Não precisa olhar com desconfiança, pois eu sou o seu Deus. Eu fortaleço você, eu o ajudo e o sustento com minha mão”. (Is 41,10) Por isso, não devemos perder a esperança, pois o Senhor é protetor e libertador dos oprimidos e escravizados, e estará sempre ao nosso lado para arrancar-nos de qualquer tipo de escravidão.

Já o contexto litúrgico desta sexta feira, “sábado” é a palavra chave e também o motivo de mais uma controvérsia de Jesus com os mestres da Lei e fariseus. Estando a caminho de Jerusalém, no dia de sábado, Ele está tomando refeição na casa de um fariseu. Sendo observado pelas lideranças religiosas, Ele cura um homem da mão atrofiada em pleno dia de sábado, algo que a Lei não permitia. Na verdade, Jesus está pouco se importando com as tais “leis”, contanto que a pessoa humana ficasse livre de suas limitações e amarras físicas: “Tomando a palavra, Jesus falou aos mestres da Lei e aos fariseus: A Lei permite curar em dia de sábado, ou não?” (Lc 14,3) Para Jesus, mais importante que cumprir leis, preceitos e normas, está a pessoa humana que necessita de cuidados e seja tratada com carinho e amorosidade. Enquanto os mestres da Lei a interpretavam como rigorismo irredutível, Jesus mostra que o sábado foi criado para nos ajudar, e não para nos restringir. O sábado foi criado para nosso bem, não para nos prejudicar, tanto que Jesus passa por cima do fanatismo da lei, e faz acontecer a cura daquele pobre homem. Ou seja, a lei do sábado deve ser interpretada como libertação e vida para a pessoa humana.

“O sábado foi feito para servir ao homem, e não o homem para servir ao sábado. Portanto, o Filho do Homem é senhor até mesmo do sábado”. (Mc 2,27-28) Jesus é o Senhor do sábado! O sábado era o dia de Deus. Jesus é o Filho de Deus, por isso, Ele tinha o direito de abençoar pessoas no sábado e trabalhar nas suas vidas. O centro da obra de Deus é a pessoa humana, e cultuar a Deus é fazer o bem à pessoa. Não se trata de estreitar ou alargar a lei do sábado, mas de dar sentido totalmente novo a todas as estruturas e leis que regem as relações entre as pessoas. Porque só é bom aquilo que a faz crescer e ter mais vida. Toda lei que oprime as pessoas é uma lei contra a própria vontade de Deus, e deve ser abolida.

Jesus deixa os seus interlocutores sem palavras e ação, uma vez que as suas contradições ficaram mais que evidentes. Enquanto eles se preocupavam excessivamente com o cumprimento rigoroso da Lei, a pessoa humana ficava relegada a um segundo plano, já que os seus interesses mesquinhos, na prática da religião, defendia os seus privilégios, promovendo uma sociedade desigual, ocasionando a opressão e a marginalização dos pequenos. Tais lideranças promoviam uma sociedade desigual, contrariamente à sociedade do Reino de Deus. Neste sentido, Jesus era um forte empecilho na vida daquela gente, pois, além de denunciar o uso da religião para promover a discriminação, em nome do Deus da vida, anunciava o Reino de paz, justiça, igualdade e fraternidade entre todos, tendo os pequenos como destinatários primeiros do sonho de Deus.

Luiz Cassio

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